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Há 50 anos, as "Folhas" se tornavam a Folha de S.Paulo
Fusão dos diários é ponto marcante da trajetória que tornou a Folha o maior jornal do país
Primeira edição com o novo
nome circulou no dia 1º de
janeiro de 60, com o slogan
que vem desde então: "Um
jornal a serviço do Brasil"
UIRÁ MACHADO
COORDENADOR DE ARTIGOS E EVENTOS
A primeira etapa do caminho
que levou a Folha de um diário
pequeno e provinciano ao posto de maior jornal do país começou a ser percorrida em
1945, quando José Nabantino
Ramos, Clóvis Queiroga e Alcides Meirelles assumiram a
Empresa Folha da Manhã, que
publicava as "Folhas".
Aos poucos, os três novos
proprietários imprimiram na
empresa modificações que a
colocariam no rumo da modernidade. Liderados pelo advogado Nabantino Ramos, fizeram
de seus jornais veículos noticiosos de médio porte com pretensões nacionais.
Corolário dessa nova lógica e
um dos símbolos do período foi
a criação, há 50 anos, do nome
Folha de S.Paulo e do slogan
que o acompanha desde então:
"Um jornal a serviço do Brasil".
Até 31 de dezembro de 1959
(os mais velhos porventura se
lembrarão e os mais novos talvez nem saibam), a Empresa
Folha da Manhã S.A. publicava
três diários: a "Folha da Manhã", que tinha interesse "mais
acentuado pelos assuntos políticos e econômicos", a "Folha
da Tarde", voltada a "casos humanos", e a "Folha da Noite",
com as "derradeiras informações do dia".
As descrições constam de
nota publicada em 1º de janeiro
de 1960. O texto ("Um só nome
para nossos três jornais") justifica a mudança pela diminuição das diferenças entre os três
veículos, "infinitamente menores do que as que deve haver
entre periódicos que circulam
com nomes distintos".
O novo título, por sua vez, teria sido escolhido porque era
assim que as "Folhas" já eram
conhecidas no interior e em
outros Estados.
Otavio Frias Filho, diretor de
Redação da Folha, vê ainda outra hipótese para a fusão dos
jornais: "Talvez Nabantino tenha entendido que, para enfrentar "O Estado de S. Paulo",
que era o líder à época, seria
melhor um título só. Daí a mudança de nome, aproximando-se do concorrente".
Dificuldades financeiras
Por outro lado, como sugere
Carlos Kauffmann, gerente do
Banco de Dados da Folha, a fusão indica uma "racionalização
da produção para tentar melhorar resultados".
Nos últimos anos da década
de 50 e nos primeiros da década de 60, a empresa enfrentou
sérias dificuldades financeiras.
O médico e colunista Julio
Abramczyk, que começou a
trabalhar na Folha em outubro
de 1959, afirma que, não fosse
por Octavio Frias de Oliveira
(que comprou a empresa com
Carlos Caldeira Filho em 1962
e foi publisher da Folha até
2007, quando morreu), o jornal
teria parado de circular.
"Se tivéssemos continuado
com Nabantino, não teríamos
saído do vermelho. Não é um
demérito, mas a Folha precisava de alguém com visão empresarial, o que ele não tinha", diz
Abramczyk.
Durante a gestão de "seu"
Frias, a Folha deu o salto necessário para completar o percurso que iniciara em 45. A empresa mudou de escala, cresceu
de forma sem precedentes e
ampliou as áreas de atuação.
Em 1986, finalmente, o jornal
consolidou-se como o de maior
circulação do país.
"Quando meu pai assumiu a
Folha, muita coisa precisou ser
feita para levantar a empresa.
Mas ele sempre comentava que
ficou impressionado com a organização do jornal. Se havia
prejuízo, era possível saber
exatamente onde e por quê. Tudo estava arrumado, no lugar.
Aliás, isso era tipicamente "nabantiniano'", diz Frias Filho.
Primeiro modernizador
Nabantino, frequentemente
lembrado como alguém muito
dedicado ao trabalho, rigoroso
e metódico, foi o responsável
pela condução dos jornais entre 1945 e 1962. Sua gestão
trouxe inovações que, em muitos casos, perduram até hoje.
Exemplo clássico do ritmo
moderno e industrial que as
"Folhas" adotaram sob Nabantino é a adoção do "inovador"
horário de fechamento do jornal, anunciado por um sino que
badalava na Redação.
Segundo Laercio Arruda, autor da tese de doutoramento
"Nabantino Ramos - O Modernizador da Imprensa Paulista",
Nabantino "observou a falta de
regras no cotidiano do jornal" e
"estranhou que tudo corresse
ao ritmo do improviso e com
critérios individuais".
Originário da advocacia, Nabantino não demorou a criar
para a empresa uma espécie de
código interno para regular a
atividade jornalística. Em 1948,
foi publicado o "Programa de
Ação das Folhas", que fixou como princípios básicos "absoluta imparcialidade em política
partidária e inflexível defesa do
interesse público".
Onze anos depois seriam publicadas as "Normas de Trabalho da Divisão de Jornalismo",
texto de quase 300 páginas
considerado precursor dos manuais da Redação, que só se tornariam comuns a partir dos
anos 80.
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