|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
INVESTIGAÇÃO
Guskow suspendeu uma decisão colegiada
Subprocurador sugeriu medidas que poderiam beneficiar empresa
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Num ofício enviado ao Ministério do Orçamento e Gestão, o subprocurador Miguel Guskow sugere a adoção de providências que
poderiam beneficiar a TBA Informática, representante exclusiva
da Microsoft em negócios com a
administração pública federal.
Há uma polêmica jurídica em
torno da "carta de exclusividade"
concedida pela Microsoft à TBA.
O documento garante à empresa
a dispensa de licitação para vender aos órgãos públicos o licenciamento de softwares e o fornecimento de assistência técnica.
Segundo o sistema informatizado de acompanhamento de gastos federais, em 2000 a TBA recebeu R$ 30,6 milhões da União.
No ofício 398, de 29/8/2000,
Guskow suspende, com uma decisão monocrática e sem o conhecimento dos colegas da Procuradoria, uma recomendação colegiada (da qual participou) aprovada em maio do mesmo ano e
cujo teor traria prejuízos à TBA.
Os subprocuradores da terceira
câmara da Procuradoria Geral da
República, ao apreciarem a validade da "carta de exclusividade"
da Microsoft à TBA, recomendaram ao ministro Martus Tavares
(Orçamento e Gestão) a expedição de instrução determinando
que a partir de então o licenciamento de programas de software
e a contratação de assistência técnica em informática passassem
por licitações separadas.
E tudo isso "sem prejuízo da
instauração de processos administrativos de revisão" de todos os
contratos firmados com o mesmo
propósito vigentes à época.
Os advogados da TBA apresentaram à câmara um pedido de
"reconsideração", quando tecnicamente deveriam encaminhar
um recurso. A decisão sobre o caso caberia ao Conselho Institucional da Procuradoria, e não à terceira câmara, numa decisão tomada unicamente por Guskow.
"Ele não tem atribuição para
suspender uma decisão colegiada", disse o subprocurador Moacir Morais Filho, que levou o caso
ao novo coordenador da terceira
câmara, João Batista de Almeida.
Almeida assumiu o posto na segunda-feira, no lugar de Guskow,
afastado após denúncias que o
envolviam em uma operação
fraudulenta com títulos da dívida
externa brasileira nos EUA. Ontem, Almeida ultimou ofício para
o ministro Martus Tavares para
restabelecer a recomendação da
terceira câmara de maio de 2000.
Outro lado
A Folha procurou ontem a diretoria da TBA Informática, para
que se manifestasse sobre a decisão de Miguel Guskow que poderia beneficiá-la. A empresa não
quis se pronunciar sobre o fato.
A reportagem deixou dois recados no Ministério Público para
Guskow, que ainda está em férias,
apesar de já ter retornado a Brasília. A única manifestação oficial
de Guskow foi feita por meio de
nota oficial, emitida na semana
passada, em que afirmava que a
carta com sua assinatura "é uma
simples referência", que "não gera responsabilidade pessoal".
Texto Anterior: Congresso: Site pode ser processado por divulgar dados sigilosos do BC Próximo Texto: GLOBALIZAÇÃO Fórum social: Justiça deixa Bové ficar; governo recorre Índice
|