|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
REFORMA DA PREVIDÊNCIA
Mesmo sem quórum mínimo, presidente de comissão considera texto lido e marca votação
Aliados 'atropelam' discussão de emenda
DENISE MADUEÑO
LUIZA DAMÉ
da Sucursal de Brasília
A base de sustentação do governo na Câmara atropelou ontem os
trabalhos na comissão especial que
examina a reforma da Previdência
para cumprir o prazo mínimo de
votação da emenda na Casa.
Mesmo sem o quórum mínimo
de 16 deputados na reunião, a leitura do parecer do relator, Arnaldo Madeira (PSDB-SP), foi dada
por concluída e a votação do projeto na comissão foi marcada para
o dia 4 de fevereiro.
Madeira manteve o texto da reforma aprovado no Senado, sem
modificação alguma. De acordo
com os prazos regimentais, se o relatório não fosse lido ontem, não
haveria tempo para a votação na
comissão na próxima quarta-feira.
Para garantir a contagem dos
prazos, o presidente da comissão,
deputado José Lourenço
(PFL-BA), não permitiu que a
oposição, com base no regimento
interno, atrasasse os trabalhos, o
que inviabilizaria a votação em
primeiro turno da emenda no dia
11 de fevereiro.
Houve tumulto. Lourenço centralizou as decisões, não colocando requerimentos em votação nem
permitindo verificação de quórum. "Se for preciso, eu vou dar
porrada", gritou o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). O deputado Humberto Costa (PT-PE)
rasgou o regimento interno da Câmara, em protesto à atuação de
Lourenço. "Isso é um absurdo",
bradou o parlamentar.
Confusão
A condução dos trabalhos confundiu os deputados. Eles não sabiam o que estava em votação.
Lourenço encerrou a sessão de forma súbita.
A confusão era tanta que nem o
relator, que estava ao lado de Lourenço, conseguiu entender o que
se passava.
"Eu estava tão concentrado na
leitura do relatório que não acompanhei a discussão regimental",
afirmou Madeira.
Lourenço deixou a comissão
acompanhado por seguranças e
sob xingamentos. "Capacho! Capacho! Capacho!", gritava a deputada Jandira Feghali (PC do B-RJ).
"Vendido!", gritou um funcionário não identificado.
No início da reunião, 18 governistas, do total de 31 integrantes da
comissão, estavam na sala.
A confusão começou quando o
deputado Messias Gois (PFL-SE)
pediu o encerramento da leitura
do parecer. Nesse momento, menos de 16 deputados, quórum mínimo para que haja sessão, estavam na comissão.
Parlamentares da base governista já haviam deixado a sala. A Folha presenciou os deputados Sandro Mabel (PMDB-GO) e Marconi
Perillo (PSDB-GO) saindo da Câmara com destino a Goiânia.
A deputada Jandira Feghali pediu verificação de votação. Lourenço negou o pedido para evitar
que a sessão fosse cancelada por
falta de quórum.
Depois, disse que só colocaria
outros dois requerimentos, que
pediam adiamento da discussão,
em votação dali a uma hora. "Vou
aguardar número para votar o requerimento", disse o presidente
da comissão.
Recurso
A oposição vai recorrer ao presidente da Câmara, Michel Temer
(PMDB-SP), pedindo a anulação
da sessão e a destituição de Lourenço do cargo.
"Queremos obstruir dentro do
regimento. O governo que coloque
o seu pessoal na comissão para votar", disse Humberto Costa.
"Sabia que a oposição não ia
aceitar (a derrota) passivamente.
Como são minoritários (os deputados da oposição), recorrem à
ação política para chamar a atenção da imprensa", disse Lourenço.
A Folha apurou que dificilmente
a sessão será anulada.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|