São Paulo, sábado, 31 de janeiro de 1998

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VIAGEM À SUÍÇA
Presidente rebate previsões de colapso do real e Deutsche Bank descarta desvalorização da moeda
FHC ataca a "obsessão com pessimismo"

CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Davos (Suíça)


O presidente Fernando Henrique Cardoso atacou ontem a "obsessão com o pessimismo", em seu discurso no encontro anual do Fórum Econômico Mundial (98).
Solicitado pelo presidente do fórum, o suíço Klaus Schwab, a dar sua "receita" para a transformação do Brasil em "um gigante continental", FHC estocou os economistas que, na véspera, haviam previsto um colapso do real a curto prazo pelos problemas do Brasil com suas contas externas.
Depois do discurso, a Folha perguntou a FHC quem era "obcecado com o pessimismo".
"Não é você, é o Rudi", respondeu, em alusão ao economista norte-americano Rudiger Dornbusch, do mitológico MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts).
Dornbusch é um crítico sistemático da política econômica do governo brasileiro e, na véspera, reafirmara sua crença de que o real está sobrevalorizado em 15%, motivo pelo qual acreditava que a crise acabaria alcançando o Brasil.
FHC ironizou os cálculos de Dornbusch: "Está melhorando. Antes, ele dizia que a sobrevalorização era de 30%."
O presidente não poupou também o economista e estrategista-chefe do Deutsche Bank para a região Ásia-Pacífico, Kenneth Courtis. Na véspera, Courtis previra um colapso do real em mais ou menos seis meses, sempre pelo problema das contas externas.
"Você já viu a situação do Deutsche Bank na Ásia?", perguntou o presidente. É uma alusão ao fato de que o banco alemão foi obrigado, anteontem, a fazer provisões para cobrir empréstimos de difícil recuperação a países asiáticos. "Não é exatamente alguém confiável em termos de previsões", completou FHC.

Negativa do Deutsche
O Deutsche Bank divulgou nota oficial ontem afirmando que não prevê uma desvalorização do real.
A nota, com o título "Desvalorização no Brasil - De jeito nenhum!" é assinada por Geoff Dennis, estrategista global de mercados emergentes, e Jane Heap, estrategista para a América Latina. Afirma que o país está "bem posicionado para resistir a novas pressões" e que as medidas adotadas no final do ano passado para evitar a crise estão "dando indicações positivas".
Em discurso, FHC já havia se referido, embora sem citar nomes, aos que fazem previsões pessimistas. "Os resultados de nossa balança comercial em 1997 desmentiram as previsões pessimistas de alguns analistas. O déficit foi de US$ 8,5 bilhões, contrastando com previsões que iam até US$ 16 bilhões ou US$ 17 bilhões."

Defesa da moeda
A mensagem central do discurso, como vem sendo rotina, foi a enfática defesa da estabilidade da moeda. "Quaisquer que sejam as circunstâncias, uma coisa é certa: não haverá desvios nem retrocessos", afirmou.
As "circunstâncias" da frase haviam sido expostas antes: "Não estamos isolados no mundo e há fatores que escapam a nosso controle. Dessa forma, o custo e o ritmo dos avanços poderá ser influenciado por circunstâncias externas".
Depois do discurso, o presidente do fórum fez quatro perguntas a FHC, a primeira das quais justamente sobre a suposta sobrevalorização do real.
FHC respondeu com outra pergunta: "Como se pode realmente avaliar o valor de uma moeda?".
E usou o argumento de que as exportações brasileiras aumentaram 11% no ano passado, sobre 1996, como suposta comprovação de que não há sobrevalorização.
Como segundo argumento, jogou os US$ 52 bilhões de reservas que o Brasil acumulou. "Reservas que aumentaram depois da crise asiática", fez questão de emendar.
Terminou negando enfática, embora previsivelmente, uma eventual desvalorização da moeda: "Isso (desvalorizar) é o passado".
O presidente voltou a dizer que não decidiu se será candidato ou não à reeleição. O auditório, lotado, riu. Mas, se for candidato, o discurso da estabilidade será a sua primeira prioridade: "É um imperativo para a sociedade brasileira", afirmou.
Schwab despediu-se desejando sorte ao Brasil na Copa do Mundo de futebol da França. FHC agradeceu: "Isso ajuda a candidatura".

Almoço com empresários
FHC também participou ontem de almoço oferecido pelo presidente do Conselho Federal da Suíça, Flavio Cotti, que teve a presença também do presidente do Panamá, do vice-presidente da Bolívia, do chanceler argentino, Guido di Tella, de ministros chilenos e de empresários suíços. O presidente conversou com diretores da Câmara de Indústria da Suíça.
Os empresários suíços queriam saber dos governos sul-americanos como ficaria a Suíça diante de acordos entre a União Européia e o Mercosul.
A Suíça não pertence à União Européia. Segundo o presidente, o relacionamento entre os dois países continuará "em progresso".
Depois de sua participação no Fórum Mundial de Economia, FHC se reuniu com um grupo de empresários brasileiros em um hotel, mas não falou com a imprensa depois do encontro.


Colaborou Irineu Machado, enviado especial


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