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DATAFOLHA
Aprovação é a pior desde implantação do plano, em 94, e paulistanos prevêem mais inflação e desemprego
Real vive sua pior crise de credibilidade
da Reportagem Local
A desvalorização cambial está
levando o Real à
pior crise de
confiança desde
a sua implantação, em 1994.
Pela primeira
vez, o percentual de paulistanos
que acham o plano ruim ou péssimo equivale ao dos que consideram-no bom ou ótimo: 32%. Outros 35% acham o Real regular.
Pesquisa Datafolha feita na quinta-feira apenas na cidade de São
Paulo mostra que a queda na aprovação do plano é abrupta e foi intensificada após o início do processo de desvalorização da moeda.
Em 11 de dezembro, 56% dos
paulistanos achavam o Real bom
ou ótimo. Esse percentual caiu para 49% em 15 e janeiro. Desde então, sua avaliação entrou em queda
livre, junto com a cotação da moeda, chegando aos 32% atuais.
Outros itens da pesquisa evidenciam a desconfiança dos paulistanos em relação à economia. Para
57% dos paulistanos, a situação
econômica do país vai piorar nos
próximos meses. Esse percentual
era de 48% há 15 dias e de 38% há
50 dias.
O pessimismo se mostra mais
claro em relação aos preços. Para
80% dos entrevistados, a inflação
vai aumentar. Esse percentual
quase dobrou desde 11 de dezembro, quando era de 47%.
Na verdade, 65% dos paulistanos
afirmam já ter percebido aumento
de preço de alguma mercadoria na
última semana.
Com a desvalorização crescente
do real frente à moeda norte-americana, desde que o governo federal abandonou o sistema de bandas cambiais, a previsão de inflação cresce.
Segundo a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), a
inflação em 1999 deverá ficar em
8% se houver uma desvalorização
média de 30% da moeda brasileira.
Mas se o dólar permanecer na
cotação em que fechou na sexta-feira, R$ 2,10 por US$ 1, o cenário é
ainda pior: pela metodologia utilizada pela Fipe, o país teria 17,7%
de inflação neste ano.
²
Desemprego
O mesmo nível de preocupação é
causado pelo mercado de trabalho.
Chega a 79% o percentual de paulistanos que acham que o desemprego vai aumentar ainda mais.
Não faltam motivos para isso.
Além do avanço da recessão, as taxas de desemprego na Grande São
Paulo deram um salto no ano passado.
Na média de 1998, a taxa de desemprego medida pela Fundação
Seade, do governo paulista, chegou a 18,3% da População Economicamente Ativa (PEA).
Em outras palavras, 101 mil postos de trabalho foram eliminados,
enquanto o contingente de desempregados apenas na região metropolitana paulista chegou ao número recorde de 1,594 milhão.
A soma da inflação com o desemprego leva 62% dos paulistanos a acreditarem que seu poder
de compra vai diminuir nos próximos meses.
Esse percentual também cresceu
rapidamente nos últimos dois meses: de 43% em dezembro para
49% há duas semanas até os 62%
atuais.
As taxas de reprovação do real e
de previsões negativas sobre o
quadro econômico acompanham
o aumento do grau de conhecimento dos paulistanos sobre a desvalorização do real.
Em 15 de janeiro, dois dias depois de o governo ter alargado a
banda cambial e iniciado o processo de desvalorização, 69% haviam
tomado conhecimento. Hoje esse
percentual chega a 81%.
Os mais pessimistas, que prevêem que a desvalorização do
câmbio levará tanto a um aumento
da inflação quanto do desemprego, são a maioria absoluta dos paulistanos: 51%. Os que acham que só
o desemprego vai aumentar são
24%, e os que apostam que só a inflação subirá chegam a 18%.
A maioria absoluta dos moradores da cidade de São Paulo ouvidos
pelo Datafolha acredita que a cotação do dólar em relação ao real vai
continuar aumentando: 54%, contra 26% que acreditam que ela vai
se estabilizar, e 15% que apostam
na sua queda.
Talvez por isso, para 71% dos entrevistados o governo deveria voltar a controlar o câmbio. Só 23%
acham que a oscilação da moeda
deve continuar livre.
Uma das consequências do pessimismo detectado pela pesquisa é
que 60% dos paulistanos pretendem reduzir suas compras. Outros
21% são ainda mais radicais e vão
cancelá-las.
Só 11% dizem que vão manter as
compras que estavam planejando,
principalmente aqueles que têm
renda familiar acima de 20 salários
mínimos. Uma minoria de 6% afirma que vai antecipar as compras
para fugir dos aumentos de preços.
Apesar da gravidade do quadro
econômico pintado pelos entrevistados, a perspectiva sobre o que
acontecerá com a sua condição
econômica pessoal é ligeiramente
mais otimista.
Para 38%, sua condição vai permanecer como está. Outros 32%
acham que ela vai piorar, e 28%
ainda acreditam que ela melhorará. Mas esses otimistas eram 38%
em dezembro e 35% há duas semanas.
(JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO)
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