São Paulo, domingo, 31 de janeiro de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DATAFOLHA
Aprovação é a pior desde implantação do plano, em 94, e paulistanos prevêem mais inflação e desemprego
Real vive sua pior crise de credibilidade

da Reportagem Local


A desvalorização cambial está levando o Real à pior crise de confiança desde a sua implantação, em 1994. Pela primeira vez, o percentual de paulistanos que acham o plano ruim ou péssimo equivale ao dos que consideram-no bom ou ótimo: 32%. Outros 35% acham o Real regular.
Pesquisa Datafolha feita na quinta-feira apenas na cidade de São Paulo mostra que a queda na aprovação do plano é abrupta e foi intensificada após o início do processo de desvalorização da moeda.
Em 11 de dezembro, 56% dos paulistanos achavam o Real bom ou ótimo. Esse percentual caiu para 49% em 15 e janeiro. Desde então, sua avaliação entrou em queda livre, junto com a cotação da moeda, chegando aos 32% atuais.
Outros itens da pesquisa evidenciam a desconfiança dos paulistanos em relação à economia. Para 57% dos paulistanos, a situação econômica do país vai piorar nos próximos meses. Esse percentual era de 48% há 15 dias e de 38% há 50 dias.
O pessimismo se mostra mais claro em relação aos preços. Para 80% dos entrevistados, a inflação vai aumentar. Esse percentual quase dobrou desde 11 de dezembro, quando era de 47%.
Na verdade, 65% dos paulistanos afirmam já ter percebido aumento de preço de alguma mercadoria na última semana.
Com a desvalorização crescente do real frente à moeda norte-americana, desde que o governo federal abandonou o sistema de bandas cambiais, a previsão de inflação cresce.
Segundo a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), a inflação em 1999 deverá ficar em 8% se houver uma desvalorização média de 30% da moeda brasileira.
Mas se o dólar permanecer na cotação em que fechou na sexta-feira, R$ 2,10 por US$ 1, o cenário é ainda pior: pela metodologia utilizada pela Fipe, o país teria 17,7% de inflação neste ano.
²
Desemprego O mesmo nível de preocupação é causado pelo mercado de trabalho. Chega a 79% o percentual de paulistanos que acham que o desemprego vai aumentar ainda mais.
Não faltam motivos para isso. Além do avanço da recessão, as taxas de desemprego na Grande São Paulo deram um salto no ano passado.
Na média de 1998, a taxa de desemprego medida pela Fundação Seade, do governo paulista, chegou a 18,3% da População Economicamente Ativa (PEA).
Em outras palavras, 101 mil postos de trabalho foram eliminados, enquanto o contingente de desempregados apenas na região metropolitana paulista chegou ao número recorde de 1,594 milhão.
A soma da inflação com o desemprego leva 62% dos paulistanos a acreditarem que seu poder de compra vai diminuir nos próximos meses.
Esse percentual também cresceu rapidamente nos últimos dois meses: de 43% em dezembro para 49% há duas semanas até os 62% atuais.
As taxas de reprovação do real e de previsões negativas sobre o quadro econômico acompanham o aumento do grau de conhecimento dos paulistanos sobre a desvalorização do real.
Em 15 de janeiro, dois dias depois de o governo ter alargado a banda cambial e iniciado o processo de desvalorização, 69% haviam tomado conhecimento. Hoje esse percentual chega a 81%.
Os mais pessimistas, que prevêem que a desvalorização do câmbio levará tanto a um aumento da inflação quanto do desemprego, são a maioria absoluta dos paulistanos: 51%. Os que acham que só o desemprego vai aumentar são 24%, e os que apostam que só a inflação subirá chegam a 18%.
A maioria absoluta dos moradores da cidade de São Paulo ouvidos pelo Datafolha acredita que a cotação do dólar em relação ao real vai continuar aumentando: 54%, contra 26% que acreditam que ela vai se estabilizar, e 15% que apostam na sua queda.
Talvez por isso, para 71% dos entrevistados o governo deveria voltar a controlar o câmbio. Só 23% acham que a oscilação da moeda deve continuar livre.
Uma das consequências do pessimismo detectado pela pesquisa é que 60% dos paulistanos pretendem reduzir suas compras. Outros 21% são ainda mais radicais e vão cancelá-las.
Só 11% dizem que vão manter as compras que estavam planejando, principalmente aqueles que têm renda familiar acima de 20 salários mínimos. Uma minoria de 6% afirma que vai antecipar as compras para fugir dos aumentos de preços.
Apesar da gravidade do quadro econômico pintado pelos entrevistados, a perspectiva sobre o que acontecerá com a sua condição econômica pessoal é ligeiramente mais otimista.
Para 38%, sua condição vai permanecer como está. Outros 32% acham que ela vai piorar, e 28% ainda acreditam que ela melhorará. Mas esses otimistas eram 38% em dezembro e 35% há duas semanas. (JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO)


Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.