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São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 2003

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PT X PT

Declarações desencontradas sobre PEC 192 reforçam falta de controle sobre bancada

Sem consenso, petistas ainda resistem a projeto do governo

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL

Na semana em que poderá enfrentar sua primeira votação importante na Câmara, o PT deu ontem claros sinais de que ainda não tem controle sobre seus deputados e o resto de sua base na Casa.
O presidente nacional do partido, José Genoino, afirmou, em São Paulo, que a bancada petista, incluindo as alas esquerdistas, havia fechado questão pela aprovação da Proposta de Emenda à Constituição sobre o sistema financeiro (a PEC 192), como quer o governo, e que quem discordasse poderia até ser expulso da sigla.
"Já conversei com o líder do partido [Nelson Pellegrino-BA], com as principais tendências de esquerda e vamos dar todo respaldo ao governo. A bancada vai votar fechada", disse Genoino, após ter ressaltado que a votação seria na quarta-feira.
Minutos depois, no mesmo evento do qual participava Genoino, um ato do PT pela paz no parque Ibirapuera, o deputado Ivan Valente (SP), da corrente de esquerda Força Socialista, disse que nada está fechado e que é contra a votação da PEC nesta semana.
"A minha proposta é que a gente adie esse debate. O governo está sendo pressionado pelo mercado e pela mídia", rebateu Valente.
Outros dois deputados petistas ouvidos ontem -após a declaração de Genoino- pela Folha, Dr. Rosinha (PR) e Babá (PA), também afirmaram que não há acordo fechado dentro da legenda e que querem do governo explicações sobre a necessidade de se aprovar a PEC nesta semana.
Genoino afirmou que vai conversar com as alas de esquerda, mas que não abre mão do apoio à PEC. O presidente do PT chegou a citar Babá, um dos principais críticos da política econômica do governo na sua explicação.
"Esse é um problema do Babá. A unidade e a ação do partido são inegociáveis", disse.
Os possíveis votos contrários não ameaçam a aprovação da PEC, de autoria do ex-senador José Serra (PSDB-SP), mas podem consumar o primeiro grande fracasso do governo na tentativa de controlar sua base, já que no PDT e no PSB, partidos da base aliada, também existem resistências sobre a matéria.
O presidente do PT ressaltou que as normas do partido determinam punições a quem não seguir o que foi acordado com o Diretório Nacional. "O estatuto prevê desde a crítica pública à suspensão e até o desligamento. Mas vamos esperar", afirmou.
Provavelmente amanhã, o ministro José Dirceu (Casa Civil) irá se reunir com os deputados da bancada para negociar o apoio à PEC, que regulamenta o artigo 192 e abre a possibilidade de autonomia do Banco Central.
"Queremos saber qual o interesse do governo em votar tão rapidamente um projeto que o PT foi contra no passado?", questionou Dr. Rosinha, da corrente Democracia Socialista. "Isso não está claro para ninguém", completou.
O presidente do PT também afirmou que irá atuar politicamente para contornar a crise entre o governo e o ex-governador do Rio Anthony Garotinho (PSB), que lidera um grupo de deputados e pode não apoiar a PEC.
"A disputa com o Garotinho não vai contaminar a aliança nacional. Nós vamos tratar o Rio de Janeiro de uma maneira política, não de governo", disse.
No PDT, o presidente nacional da sigla, Leonel Brizola, é contrário à aprovação do projeto.
Genoino e líderes do governo devem procurar Brizola em busca de um acordo nesta semana.

Autonomia do BC
As correntes de esquerda no PT representam cerca de 30% do Diretório Nacional do partido. No entender de seus líderes no Congresso, a aprovação do artigo 192 abriria caminho o projeto de autonomia do Banco Central.
"Nós aceitamos negociar desde que a autonomia do BC saia da agenda do governo", disse Valente. Para ele, o partido precisa retomar o debate. "Não há acordo. Há um desejo do governo de fechar questão", disse.
Segundo Genoino, a autonomia do BC não está na pauta. "No momento adequado nós iremos discutir esse assunto", disse.
Mas as alas de esquerda querem desde já uma postura clara do governo e do partido. "Sou totalmente contra a autonomia do BC. Acho que hoje o BC já é autônomo demais para o meu gosto", disse Dr. Rosinha.


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