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PT X PT
Declarações desencontradas sobre PEC 192 reforçam falta de controle sobre bancada
Sem consenso, petistas ainda resistem a projeto do governo
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL
Na semana em que poderá enfrentar sua primeira votação importante na Câmara, o PT deu ontem claros sinais de que ainda não
tem controle sobre seus deputados e o resto de sua base na Casa.
O presidente nacional do partido, José Genoino, afirmou, em
São Paulo, que a bancada petista,
incluindo as alas esquerdistas, havia fechado questão pela aprovação da Proposta de Emenda à
Constituição sobre o sistema financeiro (a PEC 192), como quer
o governo, e que quem discordasse poderia até ser expulso da sigla.
"Já conversei com o líder do
partido [Nelson Pellegrino-BA],
com as principais tendências de
esquerda e vamos dar todo respaldo ao governo. A bancada vai
votar fechada", disse Genoino,
após ter ressaltado que a votação
seria na quarta-feira.
Minutos depois, no mesmo
evento do qual participava Genoino, um ato do PT pela paz no parque Ibirapuera, o deputado Ivan
Valente (SP), da corrente de esquerda Força Socialista, disse que
nada está fechado e que é contra a
votação da PEC nesta semana.
"A minha proposta é que a gente adie esse debate. O governo está
sendo pressionado pelo mercado
e pela mídia", rebateu Valente.
Outros dois deputados petistas
ouvidos ontem -após a declaração de Genoino- pela Folha, Dr.
Rosinha (PR) e Babá (PA), também afirmaram que não há acordo fechado dentro da legenda e
que querem do governo explicações sobre a necessidade de se
aprovar a PEC nesta semana.
Genoino afirmou que vai conversar com as alas de esquerda,
mas que não abre mão do apoio à
PEC. O presidente do PT chegou a
citar Babá, um dos principais críticos da política econômica do governo na sua explicação.
"Esse é um problema do Babá.
A unidade e a ação do partido são
inegociáveis", disse.
Os possíveis votos contrários
não ameaçam a aprovação da
PEC, de autoria do ex-senador José Serra (PSDB-SP), mas podem
consumar o primeiro grande fracasso do governo na tentativa de
controlar sua base, já que no PDT
e no PSB, partidos da base aliada,
também existem resistências sobre a matéria.
O presidente do PT ressaltou
que as normas do partido determinam punições a quem não seguir o que foi acordado com o Diretório Nacional. "O estatuto prevê desde a crítica pública à suspensão e até o desligamento. Mas
vamos esperar", afirmou.
Provavelmente amanhã, o ministro José Dirceu (Casa Civil) irá
se reunir com os deputados da
bancada para negociar o apoio à
PEC, que regulamenta o artigo
192 e abre a possibilidade de autonomia do Banco Central.
"Queremos saber qual o interesse do governo em votar tão rapidamente um projeto que o PT foi
contra no passado?", questionou
Dr. Rosinha, da corrente Democracia Socialista. "Isso não está
claro para ninguém", completou.
O presidente do PT também
afirmou que irá atuar politicamente para contornar a crise entre o governo e o ex-governador
do Rio Anthony Garotinho (PSB),
que lidera um grupo de deputados e pode não apoiar a PEC.
"A disputa com o Garotinho
não vai contaminar a aliança nacional. Nós vamos tratar o Rio de
Janeiro de uma maneira política,
não de governo", disse.
No PDT, o presidente nacional
da sigla, Leonel Brizola, é contrário à aprovação do projeto.
Genoino e líderes do governo
devem procurar Brizola em busca
de um acordo nesta semana.
Autonomia do BC
As correntes de esquerda no PT
representam cerca de 30% do Diretório Nacional do partido. No
entender de seus líderes no Congresso, a aprovação do artigo 192
abriria caminho o projeto de autonomia do Banco Central.
"Nós aceitamos negociar desde
que a autonomia do BC saia da
agenda do governo", disse Valente. Para ele, o partido precisa retomar o debate. "Não há acordo. Há
um desejo do governo de fechar
questão", disse.
Segundo Genoino, a autonomia
do BC não está na pauta. "No momento adequado nós iremos discutir esse assunto", disse.
Mas as alas de esquerda querem
desde já uma postura clara do governo e do partido. "Sou totalmente contra a autonomia do BC.
Acho que hoje o BC já é autônomo demais para o meu gosto",
disse Dr. Rosinha.
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