Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Para Gilmar Mendes, dossiê é "covardia institucional"
Sem citar Casa Civil, novo presidente do STF diz que vazar dados é lamentável
Ministro volta a defender atuação mais seletiva do CNJ e estima que votação sobre uso de células-tronco seja retomada em maio
DIMITRI DO VALLE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
O futuro presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, 52, que
deve assumir em 23 abril, afirmou ontem que a prática de
montagem de dossiês para incriminar adversários representa "covardia institucional".
Falando em tese e dizendo
não ter mais dados para analisar o caso envolvendo o gabinete da ministra-chefe da Casa
Civil, Dilma Rousseff, Mendes
afirmou que vazar informações
para constranger adversários
não "condiz com o Estado democrático de Direito".
Em entrevista coletiva, o
também presidente do CNJ
(Conselho Nacional de Justiça)
e ex-advogado-geral da União
do governo FHC estima que a
votação sobre o uso ou não de
células-tronco em pesquisas
científicas seja retomada em
maio. O ministro lançou ontem
em Curitiba um livro sobre Direito Constitucional.
PERGUNTA - Como o sr. analisa o
caso do dossiê, o que o governo sustenta ser um banco de dados?
GILMAR MENDES - Até agora, não
tenho dados específicos que
permitam um juízo seguro.
Agora, posso dizer que, se de fato se pratica essa política de levantamentos indevidos de dados ou se pratica o levantamento devido, mas para vazar com
esse intuito de dossiê, acho lamentável. Acho que até não é
uma prática hoje condizente
com os ditames do Estado democrático de Direito. Se há informações relevantes que devem ser reveladas, elas devem ser feitas pelos canais competentes. Agora, fazer vazamentos aproveitando-se de uma posição funcional, ocasional, parece realmente de uma covardia institucional lamentável.
Mas estou falando em hipótese.
PERGUNTA - O sr. assumirá o STF
num momento considerado importante para a ciência, que é a votação
sobre o uso ou não de células-tronco. Como analisa este momento?
MENDES - É um tema que sensibiliza, como temos visto no
próprio debate: os confrontos
de posições éticas e religiosas,
os avanços científicos, a afetação que a matéria terá sobre as
pessoas. Sabemos quantas expectativas há em torno dessa
evolução. Quanta esperança há
de que muitos problemas possam ser solucionados a partir
desses avanços. Acredito que o
tribunal considerará tudo isso
na sua decisão.
PERGUNTA - Há previsão de quando a votação será retomada?
MENDES - Tenho a impressão
de que voltaremos a nos ocupar
com isso em maio. Não sei se
será já a sessão definitiva porque não podemos excluir um
outro pedido de vista.
PERGUNTA - Quais serão suas prioridades como presidente do CNJ?
MENDES - O conselho não pode
se pautar por uma preocupação
em dar respostas a todas as
eventuais reclamações. Ele tem
que ter uma atuação seletiva.
Do contrário, não cumprirá sua
missão. Há algumas questões
prioritárias: fizemos uma pesquisa com a população que reclamou da morosidade dos processos. Se a gente conseguir criar fórmulas que acelerem os
processos decisórios, será interessante. Também recebi de
uma comissária da ONU a
preocupação com o caso da garota do Pará [que ficou presa
numa cela com 30 homens por
20 dias]. Ela me dizia: o que
choca é alguém ficar preso durante tanto tempo de forma indevida e que não haja nenhum
controle sobre isso. Por que
não fazer um levantamento da
população carcerária brasileira
para reverter casos como esse?
PERGUNTA - Ministros do STF sempre opinaram em questões políticas.
Como será seu estilo na presidência?
MENDES - Não devemos nos
pronunciar sobre processos
que estão submetidos à apreciação do STF. Agora, não estou
impedido obviamente de dar
opinião sobre questões institucionais relevantes.
Texto Anterior: Saúde dispara como o pior problema do país Próximo Texto: Minoria em CPI, oposição vai à Procuradoria Índice
|