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JUSTIÇA
Presidente do STF também criticou o ministro da Justiça, que havia defendido o controle externo do Judiciário
Marco Aurélio diz que alguns juízes se julgam "reizinhos"
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A seis dias de deixar a presidência do Supremo Tribunal Federal,
o ministro Marco Aurélio de Mello disse ontem que parte dos juízes sofre de "juizite", uma doença
que faz com que o magistrado
passe a se sentir um "reizinho".
Também fez críticas ao governo,
em especial ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.
"É preciso que os integrantes da
magistratura compreendam que
somos servidores públicos e que
devemos contas ao contribuinte.
Às vezes temos colegas acometidos daquela doença conhecida no
jargão forense como juizite. São
colegas que se sentem reizinhos.
Não queremos semideuses no Judiciário nem poderíamos pretender isso", disse Marco Aurélio.
Ele atacou porém a proposta de
criação de um órgão de controle
externo do Judiciário, que teria a
participação de um representante
da OAB (Ordem dos Advogados
do Brasil) e do Ministério Público.
Para ele, esse tipo de fiscalização
enfraquecerá a Justiça.
Marco Aurélio disse ter ficado
"perplexo" ao ver Thomaz Bastos
defendendo o controle externo,
pelo fato de o ministro conhecer a
realidade da Justiça na condição
de "advogado militante". Também afirmou que ficou "atônito"
quando o ministro criou uma secretaria para coordenar o debate
sobre a reforma do Judiciário.
Segundo o presidente do STF,
em vez de criar a secretaria, Bastos deveria ter reunido representantes dos tribunais para colher
propostas. Ele questionou se o Judiciário é "a bola da vez" e sugeriu
a reforma dos outros Poderes.
"Por que não pensarmos também em reforma do Legislativo e
do Executivo? Será que somos os
culpados, como são os servidores
públicos, por tudo o que não seja
do agrado de Fulano e Sicrano?
Será que somos a bola da vez?"
O Ministério da Justiça disse
que Bastos não comentaria as declarações, porque estava em São
Paulo. Também disse que o ministro tentou conversar com Marco Aurélio sobre a reforma do Judiciário, há duas semanas, mas o
presidente do STF teria sugerido
que a audiência fosse com seu sucessor, Maurício Corrêa, que assumirá o cargo nesta quinta-feira.
Marco Aurélio também criticou
indiretamente o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, que em 22 de
abril, em Vitória, defendeu o controle externo do Judiciário, para
"ao menos saber como funciona a
caixa-preta", e disse que a Justiça
tem que ser igual para todos, afirmando que somente pessoas de
baixa renda vão para a cadeia.
"É muito fácil dizer que só o rico
escapa de uma condenação criminal. Vamos buscar as causas. Está
no rol das garantias constitucionais", disse, referindo-se à norma
que prevê a assistência judiciária
gratuita para pessoas carentes. Ele
disse que essa assistência é uma
obrigação do Poder Executivo.
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