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Funasa atribui ação indígena a corte de verba
Francisco Danilo Bastos Forte diz que atraso nos repasses a ONGs e redução dos recursos para a saúde motivaram protestos
Presidente do órgão afirma que aperto na fiscalização gerou atraso de R$ 38,1 mi nos repasses às entidades que atendem os indígenas
HUDSON CORRÊA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
CÍNTIA ACAYABA
JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA
Aperto na fiscalização das
ONGs que dão assistência médica nas aldeias, corte no orçamento da saúde e o "Abril Indígena" levaram índios a fazer reféns e a invadir prédios públicos pelo país nesta semana. É o
que diz o presidente da Funasa,
Francisco Danilo Bastos Forte.
Um maior rigor na fiscalização das contas das entidades
gerou atraso de R$ 38,1 milhões, valor acumulado de dezembro de 2007 a abril deste
ano, diz a Funasa. A fundação
mantém convênios com 49 entidades para dar assistência
médica a cerca de 490 mil índios aldeados. Já liberou, de janeiro a maio deste ano, R$ 35,2
milhões, ou seja, menos que o
valor atrasado e acumulado.
O Tribunal de Contas da
União e o Ministério Público
Federal têm apontado irregularidades nos serviços prestados
por ONGs. Por isso a Funasa
aumentou o rigor na prestação
de contas e há maior demora na
liberação de recursos. Forte diz
que a mobilização dos índios foi
causada ainda por um corte de
R$ 65 milhões no orçamento de
R$ 340 milhões da Funasa para
atendimento de índios.
Outro motivo foi o "Abril Indígena" -evento realizado em
Brasília no mês passado no qual
800 lideranças pediram a "reformulação urgente da política
de saúde". Diz o documento do
encontro: "Nossos povos mostram-se indignados e dispostos
a lutar, se necessário, sacrificando a própria vida. Exigimos
do governo brasileiro respostas
urgentes e de relevante impacto, de caráter emergencial".
Desde segunda, foram invadidos os prédios da Funasa em
Cuiabá (MT), Curitiba (PR) e
Porto Velho (RO). Funcionários da fundação ficaram reféns
em Ubatuba (SP) e Capitão Poço (PA). Incluindo outros protestos, houve nove ações no
país. "A ocupação dos prédios
da Funasa se deve à questão do
atraso no repasse [às ONGs].
Tem o problema da prestação
de contas. Elas são obrigadas a
prestar contas e muitas vezes
vêm erros primários e faltam
documentos. Às vezes, não fica
claro onde os recursos foram
aplicados", disse Forte.
"Antigamente tinha o sobrestamento. Era o seguinte:
você deixava um recurso para a
conta ser prestada depois. Por
determinação dos órgãos de
controle, acabamos com o sobrestamento. Parecia a conta
de devedor de bodega, o cara
sempre fica devendo", disse.
Os protestos dos índios revelam que já existe um "movimento indígena brasileiro", diz
o coordenador-geral da Coiab
(Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia
Brasileira), Jecinaldo Barbosa
Cabral. A Funasa afirma que a
Coiab responde a auditorias
por desvios de R$ 1 milhão. Em
2006, a Funasa encerrou convênio com a entidade. "Nós que
pedimos para sair", diz Jecinaldo, negando desvios.
O diretor de assistência da
Funai, Aloísio Guapindaia, diz
que os movimentos aproveitam
a discussão sobre a Raposa/
Serra do Sol, em Roraima. "Os
índios estão na mídia e querem
aproveitar o momento para
apresentar seus problemas."
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