São Paulo, domingo, 31 de maio de 2009

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ANÁLISE

Fantasma útil, mas improvável

FERNANDO DE BARROS E SILVA
EDITOR DE BRASIL

No momento em que a doença de Dilma Rousseff projeta uma sombra de dúvidas sobre 2010, a ministra atinge seu melhor desempenho eleitoral, fixando-se como nome viável na disputa, agora à espera da carta de alforria dos médicos.
Enquanto durar a incógnita sobre sua saúde, é conveniente para o Planalto manter o fantasma do terceiro mandato rondando a sala da sucessão. Não é trivial que pela primeira vez o eleitorado se divida ao meio a respeito da possibilidade de re-reeleição de Lula.
Essa, porém, parece ser hoje uma hipótese improvável, bem menos viável do que pretendem seus adeptos, mas ainda não completamente enterrada, como gostaria a oposição.
O primeiro obstáculo à viabilidade do terceiro mandato está na atitude do próprio Lula, padrinho e avalista da candidatura de Dilma. O PT não teria agora razões ou condições para descartá-la, a não ser por imposição e obra do destino.
A eventual reedição do "queremismo" em versão lulista teria de se entender com entraves que vão além da inevitável reação institucional à mudança nas regras do jogo. A demanda pelo Lula 3º esbarraria na aversão do próprio presidente ao conflito. "Pai dos pobres, mãe dos ricos", Lula teria de esticar a corda para tensionar as contradições do país, o que seu governo jeitoso de "comunhão nacional" evitou desde o início.
Aos olhos da comunidade internacional, o brasileiro construiu a imagem de alguém sensível às demandas sociais e ao mesmo tempo confiável aos interesses do mercado. Lula é o "cara" capaz de transitar entre Chávez e os EUA com a mesma desenvoltura, mas fazendo questão de mostrar ao mundo rico que é, antes de tudo, diferente do líder venezuelano.
É difícil imaginar que Lula, depois de costurar com tanta habilidade um figurino capaz de impressionar a elite do poder mundial, esteja disposto a rasgar a própria fantasia em nome do direito de manter no peito a faixa presidencial.


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