São Paulo, quinta, 31 de julho de 1997.



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CEARÁ
Governador Tasso Jereissati manda prender líderes, rompe negociações e anuncia demissão sumária de grevistas
Governo estadual sufoca greve de policiais

PAULO MOTA
FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Fortaleza


O governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), determinou ontem, amparado em decisão judicial, a prisão de dois líderes da greve dos policiais civis e militares do Estado e anunciou o rompimento das negociações e a demissão sumária dos grevistas.
As medidas fizeram com que o movimento grevista no Estado perdesse força. Delegacias funcionaram normalmente e o policiamento nas ruas de Fortaleza, feito por PMs, foi praticamente normal. A exceção foi a ausência de patrulhamento em alguns pontos da orla e no aeroporto.
"Não negociamos com facções armadas, policiais bêbados que estão se transformando em verdadeiros marginais", disse o governador. "Todos os que participaram da baderna vão ser identificados e demitidos."
Jereissati se referiu ao confronto entre policiais em greve e tropas de elite da PM, que trocaram tiros anteontem, na avenida Beira Mar, durante manifestação dos grevistas por melhores salários. Cinco pessoas foram feridas, entre elas o comandante da PM, coronel Mauro Benevides, baleado no ombro, pelas costas.
A ação do governo contra o movimento começou logo pela manhã, com a prisão dos líderes da greve -o presidente do Sindicato dos Policiais Civis, Elias Alves de Lima, e o tenente da PM Gilberto Alves Feitosa.
Tropas do Gate (Grupo Tático de Operações Especiais) ocuparam a sede da Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar, que até então era o principal pólo aglutinador dos grevistas.
Com a medida, impediram a realização de uma assembléia e desmobilizaram a manifestação que os policiais pretendiam realizar.
O protesto se resumiu a um ato público em frente à Superintendência da Polícia Civil, que reuniu cerca de 300 pessoas, segundo os organizadores.
Armados com revólveres e com os rostos cobertos por camisas ou capuzes, policiais militares e civis reafirmaram a disposição de manter a greve "a qualquer custo".
"O movimento vai continuar e se fortalecer, porque não está preso a líderes, e sim às categorias", afirmou o presidente da Confederação Brasileira de Trabalhadores Policiais Civis, José Milton de Oliveira, 35.
Segundo ele, a entidade vai recorrer contra a decisão do governo de contratar novos policiais sem concurso público para substituir os grevistas. "É inconstitucional."
Filas
As contratações, afirmou o governador, serão efetivadas ao mesmo tempo em que os grevistas forem sendo demitidos. Jereissati não revelou quantas pessoas perderão o emprego. "É um processo longo e criterioso."
Na sede do comando da PM, 250 pessoas já haviam sido inscritas até as 16h para ocupar as vagas. Outras 150 aguardavam ser atendidas.
Com a desmobilização dos grevistas, a cidade viveu um dia calmo, sem registro de incidentes graves. O comércio funcionou normalmente e a principal ocorrência policial registrada foi uma tentativa de assalto a uma agência bancária.
O comando da Polícia Militar avaliou que a paralisação na corporação, ontem, foi "irrelevante" e "não comprometeu o policiamento no Estado".
O presidente da Associação dos Cabos e Soldados da PM, Selmo Torquato, pediu a volta dos militares ao trabalho e criticou o confronto de anteontem. "As negociações estavam avançando e o conflito estragou tudo."
Na Polícia Civil, a greve se restringe a "apenas um por cento" dos servidores, segundo avaliação do superintendente da instituição, Evandro Alves.
Para o diretor do Sindicato dos Policiais Civis do Estado, Gerardo Farias, a adesão ao movimento, ontem, foi de 40%. "Ontem (anteontem) era de 90%", disse.
Governo federal
O resultado da operação contra a greve, deflagrada por Jereissati, agradou o governo federal, segundo o chefe da Casa Militar da Presidência da República, general Alberto Cardoso.
"O presidente Fernando Henrique Cardoso considerou exemplares as medidas adotadas no Ceará", disse Cardoso.
Ele afirmou, no entanto, que "cada Estado é um caso específico" e não descartou a possibilidade de novas greves de policiais ocorrerem no país.
Os policiais militares reivindicam aumento salarial de 66% sobre o piso de R$ 340. Os policiais civis querem um abono que varia de R$ 295 a R$ 500.



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