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CEARÁ
Governador Tasso Jereissati manda prender líderes, rompe negociações e anuncia demissão sumária de grevistas
Governo estadual sufoca greve de policiais
PAULO MOTA
FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Fortaleza
O governador
do Ceará, Tasso
Jereissati
(PSDB), determinou ontem,
amparado em
decisão judicial,
a prisão de dois
líderes da greve dos policiais civis e
militares do Estado e anunciou o
rompimento das negociações e a
demissão sumária dos grevistas.
As medidas fizeram com que o
movimento grevista no Estado
perdesse força. Delegacias funcionaram normalmente e o policiamento nas ruas de Fortaleza, feito
por PMs, foi praticamente normal.
A exceção foi a ausência de patrulhamento em alguns pontos da orla e no aeroporto.
"Não negociamos com facções
armadas, policiais bêbados que estão se transformando em verdadeiros marginais", disse o governador. "Todos os que participaram da baderna vão ser identificados e demitidos."
Jereissati se referiu ao confronto
entre policiais em greve e tropas de
elite da PM, que trocaram tiros anteontem, na avenida Beira Mar,
durante manifestação dos grevistas por melhores salários. Cinco
pessoas foram feridas, entre elas o
comandante da PM, coronel Mauro Benevides, baleado no ombro,
pelas costas.
A ação do governo contra o movimento começou logo pela manhã, com a prisão dos líderes da
greve -o presidente do Sindicato
dos Policiais Civis, Elias Alves de
Lima, e o tenente da PM Gilberto
Alves Feitosa.
Tropas do Gate (Grupo Tático de
Operações Especiais) ocuparam a
sede da Associação dos Cabos e
Soldados da Polícia Militar, que
até então era o principal pólo aglutinador dos grevistas.
Com a medida, impediram a realização de uma assembléia e desmobilizaram a manifestação que
os policiais pretendiam realizar.
O protesto se resumiu a um ato
público em frente à Superintendência da Polícia Civil, que reuniu
cerca de 300 pessoas, segundo os
organizadores.
Armados com revólveres e com
os rostos cobertos por camisas ou
capuzes, policiais militares e civis
reafirmaram a disposição de manter a greve "a qualquer custo".
"O movimento vai continuar e
se fortalecer, porque não está preso a líderes, e sim às categorias",
afirmou o presidente da Confederação Brasileira de Trabalhadores
Policiais Civis, José Milton de Oliveira, 35.
Segundo ele, a entidade vai recorrer contra a decisão do governo
de contratar novos policiais sem
concurso público para substituir
os grevistas. "É inconstitucional."
Filas
As contratações, afirmou o governador, serão efetivadas ao mesmo tempo em que os grevistas forem sendo demitidos. Jereissati
não revelou quantas pessoas perderão o emprego. "É um processo
longo e criterioso."
Na sede do comando da PM, 250
pessoas já haviam sido inscritas até
as 16h para ocupar as vagas. Outras
150 aguardavam ser atendidas.
Com a desmobilização dos grevistas, a cidade viveu um dia calmo, sem registro de incidentes
graves. O comércio funcionou
normalmente e a principal ocorrência policial registrada foi uma
tentativa de assalto a uma agência
bancária.
O comando da Polícia Militar
avaliou que a paralisação na corporação, ontem, foi "irrelevante"
e "não comprometeu o policiamento no Estado".
O presidente da Associação dos
Cabos e Soldados da PM, Selmo
Torquato, pediu a volta dos militares ao trabalho e criticou o confronto de anteontem. "As negociações estavam avançando e o
conflito estragou tudo."
Na Polícia Civil, a greve se restringe a "apenas um por cento"
dos servidores, segundo avaliação
do superintendente da instituição,
Evandro Alves.
Para o diretor do Sindicato dos
Policiais Civis do Estado, Gerardo
Farias, a adesão ao movimento,
ontem, foi de 40%. "Ontem (anteontem) era de 90%", disse.
Governo federal
O resultado da operação contra a
greve, deflagrada por Jereissati,
agradou o governo federal, segundo o chefe da Casa Militar da Presidência da República, general Alberto Cardoso.
"O presidente Fernando Henrique Cardoso considerou exemplares as medidas adotadas no Ceará", disse Cardoso.
Ele afirmou, no entanto, que
"cada Estado é um caso específico" e não descartou a possibilidade de novas greves de policiais
ocorrerem no país.
Os policiais militares reivindicam aumento salarial de 66% sobre o piso de R$ 340. Os policiais
civis querem um abono que varia
de R$ 295 a R$ 500.
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