São Paulo, domingo, 31 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HORA DAS PROVAS

Heloísa Helena vai entregar requerimento pedindo detalhamento do balanço; gastos aumentaram em semestre de eleição

CPI investiga aumento de gastos do BB

JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Informações que haviam passado batidas no balanço contábil do BB (Banco do Brasil) serão investigadas pela CPI dos Correios. "Quero saber os motivos pelos quais alguns gastos da instituição aumentaram de forma expressiva nas áreas de marketing, governo e varejo", informou à Folha a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL). "E porque esse aumento foi acelerado justamente na época das eleições municipais."
A senadora entregará até, no máximo, terça-feira, um requerimento pedindo ao BB o detalhamento do balanço.
Heloísa Helena também vai solicitar o detalhamento de todos os empréstimos a pessoas físicas avalizados pelo publicitário Marcos Valério no BB. Igual procedimento será adotado para os bancos Rural e BMG. As três instituições estão envolvidas nas investigações da CPI dos Correios.
De acordo com informações disponíveis na página eletrônica da Bovespa, os gastos do BB lançados sob a rubrica "Promoções e Relações Públicas" cresceram 60,3%, passando de R$ 182,7 milhões para R$ 292,8 milhões.
Em dois anos, a elevação nos gastos chega a 113,1%. Em 2002, o total observado para "Promoções e Relações Públicas" não ultrapassou R$ 137,4 milhões.
Oficialmente, os números referem-se a patrocínio de eventos e verba de relacionamento público-social -dinheiro destinado pelo Banco do Brasil ao patrocínio de eventos de Estados e prefeituras.
Fontes ligadas à instituição afirmam que esse tipo de prática também funciona como incentivo para governos locais transferirem para o Banco do Brasil as contas bancárias onde são creditados os salários de seus funcionários.
A maior parte do dispêndio com "promoções e relações públicas" ocorrido em 2004 ficou concentrada entre junho e dezembro. Nesse intervalo, a liberação chegou a R$ 200,3 milhões, o equivalente a 68,4% do total desses gastos em todo o ano.
Quem cuida desse tipo de repasse no BB são as diretorias de governo e de marketing.
O banco negou, por meio de sua assessoria, que o crescimento das verbas de relacionamento público-social esteja relacionado às eleições municipais de 2004. Segundo o BB, o aumento desses gastos é conseqüência do aumento da concorrência entre os bancos pelos negócios de Estados e prefeituras. O BB possui hoje a conta única de mais de 3.000 municípios do país e de sete Estados: MT, MS, RN, TO, AC, RO e RR.

Propaganda
O BB informou também que o aumento dos gastos com promoções é conseqüência de gastos com patrocínio de atletas que participaram das Olimpíadas e das Paraolimpíadas. O banco diz que também aconteceram gastos para a promoção de novas subsidiárias do BB, como o Banco Popular e o BB Consórcios. A diretoria de marketing também é responsável pela rubrica "propaganda e publicidade", cujas despesas alcançaram R$ 262,9 milhões em 2004. O montante representa 71,2% acima do observado em 2003, quando o desembolso ficou em R$ 153,6 milhões.
Assim como em "promoções e relações públicas", os gastos de 2004 ficaram concentrados no segundo semestre. Nesse período, o dispêndio chegou a R$ 196,7 milhões, ou 74,8% do total.
A diretoria de marketing do Banco do Brasil tem sido alvo de denúncias desde o ano passado, quando o então diretor, Henrique Pizzolato, foi acusado de promover um evento em nome do banco para angariar fundos para o PT.
Pizzolato, hoje aposentado, também é suspeito de participar de um suposto esquema petista de caixa dois. O assunto está sendo investigado pela CPI dos Correios e a CPI do Mensalão.
Em entrevista à Folha, publicada no último domingo, Pizzolato afirmou que todos os contratos da sua área precisavam da aprovação de Luiz Gushiken, então titular da Secretaria de Comunicação do governo Lula. Gushiken negou qualquer tipo de ingerência.

Terceiros
Outro item que cairá no escrutínio dos parlamentares é "serviços de terceiros", cuja responsabilidade não cabe a uma diretoria específica, pois os gastos estão espalhados em várias áreas do banco. Esses desembolsos passaram de R$ 285,3 milhões para R$ 413,7 milhões entre 2003 e 2004. Um aumento de 45%.
Dos R$ 413,7 milhões, mais da metade saiu dos cofres do BB no segundo semestre de 2004. Entre junho e dezembro, o repasse para pagar serviços terceirizados chegou a R$ 236,7 milhões.
Segundo o BB, o aumento nos "serviços de terceiros" entre 2003 e 2004 é conseqüência da instalação de duas novas centrais de atendimento telefônico, para centralizar em São Paulo e São José dos Pinhais (PR) serviços antes espalhados pelo país. Os gastos das novas centrais estão submetidos à vice-presidência de Varejo.


Texto Anterior: Escândalo do "mensalão"/O publicitário: Do sertão ao mar de lama
Próximo Texto: CPI dos bingos: Ex-assessor do Planalto recebeu R$ 2 mi da GTech
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.