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Propina média era de R$ 70 mil, diz Vedoin
Empresário apontado como um dos chefes da máfia dos sanguessugas cita 83 envolvidos que juntos teriam recebido R$ 5,8 mi
Valor pago a congressistas, entretanto, pode ser ainda maior, já que processo corre em sigilo e parte dos valores citados não são conhecidos
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A análise detalhada das 146
páginas do depoimento de Luiz
Antonio Trevisan Vedoin à
Justiça Federal mostra que ele
diz ter distribuído uma propina
média de pelo menos R$ 70 mil
aos congressistas envolvidos
no esquema da venda de ambulâncias superfaturadas.
Vedoin é sócio da Planam,
empresa apontada pela Polícia
Federal e pelo Ministério Público como a coordenadora do
esquema dos sanguessugas. Pela transcrição de seu depoimento é possível identificar o
pagamento, em dinheiro, de
R$ 5,8 milhões a 83 dos 128
congressistas e ex-congressistas citados por ele.
Somem-se a isso veículos que
diz ter dado a parlamentares,
também a título de propina, e
chega-se à média de R$ 70 mil
por cabeça, o que representa
pouco mais de cinco meses de
salário de cada um dos deputados federais e senadores.
O valor da propina média aferida, entretanto, é subestimado. Isso porque o processo está
sob segredo de Justiça, e a Folha só teve acesso à transcrição
dos nove dias de depoimentos.
Grande parte dos valores citados por Vedoin só aparece em
anexos não discriminados na
transcrição do depoimento.
Um exemplo: o deputado
Nilton Capixaba (PTB-RO) é
apontado tanto por Vedoin
quanto pelas investigações da
Polícia Federal e do Ministério
Público como um dos líderes da
quadrilha no Congresso.
Na transcrição do depoimento, Vedoin deixa claro que o deputado foi um dos primeiros a
participar do esquema, e que
direcionou, desde 2000, R$ 7,4
milhões de verbas do Orçamento da União para entidades
e municípios que, no fim das
contas, levariam ambulâncias
superfaturadas do esquema.
Vedoin lista todos os pagamentos que teria feito ao parlamentar, como propina, mas a
transcrição só discrimina o pagamento de R$ 150 mil. Na
maioria dos casos, o texto se limita a informar o que segue:
"Na folha 59 do avulso 4, encontra-se mais um depósito em
favor do parlamentar, realizado
a título de comissão; na folha
60, constam dois depósitos realizados em favor do parlamentar, a título de comissão".
Nilton Capixaba, 2º secretário da Mesa da Câmara, não
tem se pronunciado sobre as
acusações. Um cálculo possível
indica que a propina total paga
aos deputados deve ter sido de
cerca de R$ 11 milhões, já que a
Polícia Federal e o Ministério
Público dizem que o esquema
movimentou R$ 110 milhões
desde 2001. Vedoin deixa claro
em seu depoimento que a propina acertada com a maioria
dos parlamentares era de 10%
do valor obtido com a venda superfaturada de ambulâncias e
de equipamentos hospitalares.
Em relação à entrega da propina, Vedoin diz que alguns deputados indicavam suas contas
pessoais para depósito e outros,
a de parentes, assessores ou
terceiros, como forma de tentar escamotear a operação.
A maioria, contudo, preferia
em dinheiro, entregue no gabinete do parlamentar, no Congresso, em restaurantes ou no
flat de Vedoin em Brasília. "O
deputado Paulo Baltazar [PSB-RJ] era muito cuidadoso e não
permitia depósito de valores
em sua conta ou na de assessores. Todas as suas comissões foram pagas em espécie e entregues em mão", disse Vedoin.
Baltazar nega participação.
Coordenador da bancada do
Rio de Janeiro, Alexandre Santos (PMDB) foi acusado por Vedoin de direcionar R$ 10 milhões para o esquema. "Nunca
tive contato nem falei com essa
pessoa [Vedoin]. Vou tomar as
providências cabíveis contra
ele", afirmou o deputado.
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