São Paulo, segunda-feira, 31 de julho de 2006

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Propina média era de R$ 70 mil, diz Vedoin

Empresário apontado como um dos chefes da máfia dos sanguessugas cita 83 envolvidos que juntos teriam recebido R$ 5,8 mi

Valor pago a congressistas, entretanto, pode ser ainda maior, já que processo corre em sigilo e parte dos valores citados não são conhecidos


RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A análise detalhada das 146 páginas do depoimento de Luiz Antonio Trevisan Vedoin à Justiça Federal mostra que ele diz ter distribuído uma propina média de pelo menos R$ 70 mil aos congressistas envolvidos no esquema da venda de ambulâncias superfaturadas.
Vedoin é sócio da Planam, empresa apontada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público como a coordenadora do esquema dos sanguessugas. Pela transcrição de seu depoimento é possível identificar o pagamento, em dinheiro, de R$ 5,8 milhões a 83 dos 128 congressistas e ex-congressistas citados por ele.
Somem-se a isso veículos que diz ter dado a parlamentares, também a título de propina, e chega-se à média de R$ 70 mil por cabeça, o que representa pouco mais de cinco meses de salário de cada um dos deputados federais e senadores.
O valor da propina média aferida, entretanto, é subestimado. Isso porque o processo está sob segredo de Justiça, e a Folha só teve acesso à transcrição dos nove dias de depoimentos. Grande parte dos valores citados por Vedoin só aparece em anexos não discriminados na transcrição do depoimento.
Um exemplo: o deputado Nilton Capixaba (PTB-RO) é apontado tanto por Vedoin quanto pelas investigações da Polícia Federal e do Ministério Público como um dos líderes da quadrilha no Congresso.
Na transcrição do depoimento, Vedoin deixa claro que o deputado foi um dos primeiros a participar do esquema, e que direcionou, desde 2000, R$ 7,4 milhões de verbas do Orçamento da União para entidades e municípios que, no fim das contas, levariam ambulâncias superfaturadas do esquema.
Vedoin lista todos os pagamentos que teria feito ao parlamentar, como propina, mas a transcrição só discrimina o pagamento de R$ 150 mil. Na maioria dos casos, o texto se limita a informar o que segue: "Na folha 59 do avulso 4, encontra-se mais um depósito em favor do parlamentar, realizado a título de comissão; na folha 60, constam dois depósitos realizados em favor do parlamentar, a título de comissão".
Nilton Capixaba, 2º secretário da Mesa da Câmara, não tem se pronunciado sobre as acusações. Um cálculo possível indica que a propina total paga aos deputados deve ter sido de cerca de R$ 11 milhões, já que a Polícia Federal e o Ministério Público dizem que o esquema movimentou R$ 110 milhões desde 2001. Vedoin deixa claro em seu depoimento que a propina acertada com a maioria dos parlamentares era de 10% do valor obtido com a venda superfaturada de ambulâncias e de equipamentos hospitalares.
Em relação à entrega da propina, Vedoin diz que alguns deputados indicavam suas contas pessoais para depósito e outros, a de parentes, assessores ou terceiros, como forma de tentar escamotear a operação.
A maioria, contudo, preferia em dinheiro, entregue no gabinete do parlamentar, no Congresso, em restaurantes ou no flat de Vedoin em Brasília. "O deputado Paulo Baltazar [PSB-RJ] era muito cuidadoso e não permitia depósito de valores em sua conta ou na de assessores. Todas as suas comissões foram pagas em espécie e entregues em mão", disse Vedoin. Baltazar nega participação.
Coordenador da bancada do Rio de Janeiro, Alexandre Santos (PMDB) foi acusado por Vedoin de direcionar R$ 10 milhões para o esquema. "Nunca tive contato nem falei com essa pessoa [Vedoin]. Vou tomar as providências cabíveis contra ele", afirmou o deputado.


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