São Paulo, sábado, 31 de agosto de 2002

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CNBB teme que aliança entre Lula e Sarney seja apenas "conchavo"

FERNANDA NARDELLI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Jayme Chemello, criticou ontem as alianças de partidos adversários na eleição, como o apoio do senador José Sarney (PMDB-AP) ao presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Na reconciliação, os dois lados mudam. Do contrário, é apenas um conchavo, o que é ruim", disse dom Jayme em entrevista em Brasília. Acrescentou que a aliança só vale se representar um esforço para conseguir unidade no país. "Política é a busca do poder. Como chegar ao poder sozinho?"
Segundo ele, o povo deve observar as alianças e acompanhar o resultado depois das eleições.
Na última terça, Sarney declarou apoio público a Lula após reunião em Brasília. O senador será consultado na formação de um eventual governo petista, tentará atrair mais peemedebistas e dará seu aval perante a comunidade internacional e os militares.
A aproximação foi facilitada pela boa convivência entre Sarney e o PT no Senado. Durante o governo Sarney, o PT não deu trégua ao governo. Ex-assessores de Sarney lembram que a oposição era sistemática, incluindo a realização de greves de trabalhadores no país. O relacionamento mudou na gestão de José Sarney como presidente do Senado (fevereiro de 1995 a fevereiro de 1997), período em que havia diálogo e respeito mútuo.

Alca
O presidente da CNBB falou também sobre a ausência de apoio do PT na realização do plebiscito sobre a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), que será realizado entre amanhã e o dia 7. "Todo mundo é livre para participar. Não vou acusar ninguém. Quem não quer participar, depois vai ter que se explicar", disse. "Vocês estão vendo que nós [a igreja e o PT" não somos iguais." O PT desistiu de participar do plebiscito sobre a Alca para evitar o uso político contra o partido.
A CNBB demostrou preocupação em relação às consequências que a Alca pode trazer para os países mais pobres. Segundo dom Jayme, os bispos acreditam na necessidade de uma discussão mais ampla em relação ao acordo, para que os resultados não sejam semelhantes aos do Nafta (sigla em inglês para Acordo de Livre Comércio da América do Norte).
Com base em relatos de bispos do Canadá e do México, a CNBB avalia que, se a Alca seguir os mesmos moldes do Nafta, não beneficiará o Brasil. "O acordo gerou desemprego até nos Estados Unidos", disse dom Jayme. "A CNBB não tem uma posição contra a Alca. Só queremos defender o interesse de todos. Se eu colocar uma criança lutando com um adulto, o que acontece?", disse referindo-se ao Brasil e aos EUA.
Com relação às pesquisas eleitorais, o presidente da CNBB disse que elas foram muito precipitadas. Segundo ele, há pouco tempo, metade dos eleitores não sabia em quem votar. "Se eu tenho esses 50%, ganho a eleição."
Para dom Jayme, a campanha presidencial ainda não está definida e que os programas dos candidatos estão muito parecidos.



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