São Paulo, sexta-feira, 31 de agosto de 2007

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Painel

RENATA LO PRETE - painel@uol.com.br

Fogo de palha

Em privado, advogados de defesa dos mensaleiros não enxergam futuro na tentativa, ensaiada por José Dirceu, de colocar sob suspeição o acolhimento da denúncia pelo Supremo com base nas declarações do ministro Ricardo Lewandowski, segundo quem o tribunal votou com "a faca no pescoço", o que teria revertido a tendência de "amaciar" para o ex-ministro.
O esforço de Dirceu, dizem, teria alguma chance de prosperar se o julgamento houvesse acabado com placar mais apertado. Mas o 9 a 1 na acusação principal -formação de quadrilha-, acrescido do fato de que o único voto contrário foi o do próprio Lewandowski, praticamente elimina essa possibilidade.

Pára-raio 1. Um dos primeiros colegas com quem Lewandowski se aconselhou depois de a Folha revelar seu telefonema foi Carlos Ayres de Britto. Ele e Ellen Gracie são considerados, hoje, os contemporizadores do STF.

Pára-raio 2. A dupla já vinha tentando acalmar Eros Grau, que ameaça interpelar a colega Cármen Lúcia pela mensagem em que ela disse ter ouvido dele, antes do julgamento, que pretendia rejeitar a denúncia na íntegra.

Ressaca. O problema, dizem os mais incomodados no STF, é que as declarações de Lewandowsky não atingem um ou outro, mas a instituição. A maioria, porém, aposta que tudo se resolverá, ao menos nas aparências, num jantar na casa de um dos ministros daqui a algumas semanas.

Dura. Paulo Bernardo (Planejamento) foi recebido ontem na reunião ministerial com uma cobrança sobre as greves do funcionalismo. Lula perguntou se o ponto está sendo cortado e mandou que as negociações sejam feitas de forma centralizada. "Não quero saber de ministro atuando como dirigente sindical."

É a vida 1. Ao final da reunião, Lula explicou a alguns dos presentes que iria encontrar o governador de SP para assinar convênio do Rodoanel. "Sabe como é: somos republicanos", disse o presidente em tom bem-humorado. "Precisamos dar uma força ao Serra para ele fazer campanha contra a gente em 2010."

É a vida 2. Antes, ele havia ponderado aos ministros que "está difícil para oposição", carente de discurso. "Sei o que passei em 1994 fazendo campanha contra o Real, sem avaliar o efeito da estabilidade na vida das pessoas".

Zôo. Cheio de graça, Lula disse que os ministros tinham ido ao Torto num bom dia, pois havia frangos caipiras para abater, e ainda cutucou Marina Silva (Meio Ambiente) falando dos bagres cultivados no lago da granja.

Combinado. Os tucanos apostam que o próximo passo de Renan Calheiros será recorrer à CCJ para tentar anular a votação, no Conselho de Ética, do relatório pró-cassação. Alegará que a leitura do voto dos relatores, feita ontem, deveria ter sido secreta.

Por fora... Em texto no site do PT, o dirigente Valter Pomar critica a resolução "chapa-branca" do ex-Campo Majoritário para o congresso do partido, que começa hoje: "Chegam a dizer que Lula constrói "fundamentos de uma revolução democrática'".

...por dentro. Pomar, da esquerda petista, compara o discurso ao de antigos líderes comunistas: "Em privado, admitiam-se os problemas; nos discursos públicos, exaltava-se a "fortaleza" dos regimes".

Escolhido. O ex-ministro Celso Lafer será o novo presidente da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Seu nome consta de uma tríplice de conselheiros que inclui ainda José Tadeu Jorge, reitor da Unicamp, e José Arana Varela, professor titular do Instituto de Química da Unesp.

Tiroteio

"A PF deveria ter cercado o local e prendido todos em flagrante por apologia ao crime ou a seu autor. Está no artigo 287 do Código Penal".
De JOSÉ OSMAR DE ARAUJO, procurador de Justiça do Ministério Público de Rondônia, sobre o jantar de desagravo ao deputado João Paulo Cunha (PT-SP) e colegas que viraram réus no processo do mensalão.

Contraponto

Entre tapas e beijos

Na tumultuada reunião de ontem do Conselho de Ética do Senado, Wellington Salgado (PMDB-MG) e Demóstenes Torres (DEM-GO) batiam boca quando Almeida Lima (PMDB-SE) pediu a palavra. O oposicionista, porém, seguiu em frente na defesa de sua tese, interrompendo o orador a todo momento. Salgado então interveio:
-Deixe ele falar! Agora é o senhor que está sendo deseducado. E há pouco me acusou de falta de respeito...
-Mas eu já pedi desculpas!-, reagiu Demóstenes.
-Então eu também peço!-, disse Salgado, que correu para abraçar o adversário, não obstante o pugilato diário que ambos praticam diante das câmeras da TV Senado.


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