São Paulo, sexta-feira, 31 de agosto de 2007

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Petistas traçam plano para ignorar mensalão

Na véspera do 3º Congresso da sigla, ala majoritária rejeita criação de corregedoria e código de ética e pede apoio a Dirceu e Genoino

Grupo ligado a Tarso Genro, em minoria, se aproxima de corrente que é maioria para tentar ao menos menção genérica aos escândalos

CÁTIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

FÁBIO ZANINI
EM SÃO PAULO

Na véspera da abertura de seu 3º Congresso, o PT começou ontem a dar sinais de que pretende ignorar desvios de conduta cometidos por seus dirigentes desde 2005. Haverá um esforço para evitar debates sobre a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de aceitar denúncia contra os petistas envolvidos no mensalão.
Em reunião preparatória com cerca de 300 delegados, a corrente Construindo um Novo Brasil, antes conhecida como Campo Majoritário, descartou a criação de corregedoria para o partido e a instituição de um código de ética, propostas sugeridas pelo grupo Mensagem ao Partido, ligado ao ministro Tarso Genro (Justiça).
O grupo, ainda, manifestou-se em defesa do ex-ministro José Dirceu e do deputado José Genoino (SP), réus em ações penais por formação de quadrilha e corrupção ativa no esquema do mensalão.
Um dos defensores da dupla foi o deputado José Guimarães (CE), irmão de Genoino, conhecido por ter tido um assessor preso com dólares na cueca. "Dirceu e Genoino estão sendo duramente atacados e sem direito a defesa. O PT tem de dar a eles total solidariedade", disse Guimarães. Foi aplaudido.
"Não há no PT mais ético ou menos ético", disse o presidente do diretório de Brasília, Chico Vigilante, também aplaudido. "O PT é um só. Se um afunda, afunda todo mundo junto", afirmou um dos coordenadores da tendência, Francisco Rocha.
A Folha ouviu o discurso do secretário de Comunicação do PT, Gleber Naime, na reunião. "O PT não pode ter uma corregedoria. Quantos delegados e investigadores teríamos que contratar para investigar cada denúncia? Isso não resolve os problemas do partido", disse.
A Construindo um Novo Brasil tem entre seus delegados Dirceu e Paulo Rocha (envolvidos no mensalão) e Ricardo Berzoini (dossiegate). Para evitar ataques explícitos a seus líderes, a corrente deve ter o apoio de outra alas, ligadas à ministra Marta Suplicy (Turismo): a Novo Rumo e o PT de Lutas e de Massas.
Sendo minoria, o grupo de Tarso sonda a ala majoritária para construir um documento de consenso ao final do congresso, incluindo ao menos menção genérica aos escândalos. Devem recomendar uma reforma política profunda.
Até o coordenador da comissão de ética, Danilo Camargo, é contra discutir os escândalos. "Essa pauta não interessa ao PT nem a 80% da população. Só à imprensa e à elite."
O PT tentará concentrar as discussões no Congresso ao balanço do governo Lula, às próximas eleições e à renovação da direção partidária. A tendência é que as eleições para a presidência do PT sejam antecipadas para o final do ano. Haverá debate intenso sobre 2010.


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