São Paulo, segunda-feira, 31 de agosto de 2009

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Delator nega colaboração antes de ser preso em 71

LUCAS FERRAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

José Anselmo dos Santos, o Cabo Anselmo, afirmou à Folha que não há prova de que ele seria um colaborador da ditadura já em 1964. Em entrevista por telefone, ele conta que virou agente da repressão após ser preso, em 1971, para não morrer.

 

FOLHA - Por que o sr. pede reparação econômica ao governo se atuou como agente da ditadura?
JOSÉ ANSELMO DOS SANTOS
- Porque eu era um prisioneiro, fiquei preso dois anos. Fui instado: ou vai agir assim ou morre. Preferi viver. Formou-se uma consciência totalmente diferente do que era o comunismo internacional e que aquilo tudo não ia dar em nada.

FOLHA - Arrepende-se da atuação que diz ter tido no pós-golpe de 64?
ANSELMO
- Absolutamente. Eu era um otário.

FOLHA - Por quê?
ANSELMO
- Olha, você está fazendo perguntas que...

FOLHA - Historiadores dizem, como levantou o ministro da Justiça, que você já era agente em 1964.
ANSELMO
- Ele e os historiadores que provem isso. Se [naquele época] eu fosse um sujeito da repressão, da CIA ou do diabo a quatro, você acha que estaria nessa condição que estou hoje?

FOLHA - O sr. tinha noção de que suas informações levariam várias pessoas à morte e à tortura?
ANSELMO
- Não. À tortura sim, porque eu mesmo fui torturado. Agora, morte não.

FOLHA - O sr. sente remorso?
ANSELMO
- Eu não era da equipe policial. Era um prisioneiro.

FOLHA - O sr. sabia, em 1973, que suas informações levariam seis pessoas à morte, entre elas sua mulher?
ANSELMO
- Não. Eu tinha um acordo [com o Dops de SP]. O grupo seria preso e Soledad seria liberada para voltar a Cuba.


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