São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2004

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XADREZ POLÍTICO

PT e PSDB aguardam definições do 2º turno para iniciar parcerias; PFL acena para tucanos e PC do B, PTB e PL mantêm-se com petistas

Eleições municipais traçam alianças de 2006

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O principal efeito das eleições municipais nas presidenciais não é sobre candidaturas, mas sobre as alianças partidárias que vão prevalecer na disputa de 2006, cimentando dois blocos, um contra e outro a favor da reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O governista, puxado pelo PT. O oposicionista, pelo PSDB.
Confirmada a tendência de derrota do PT em São Paulo e em Porto Alegre e de uma disputa difícil em Curitiba, os resultados de hoje podem enfraquecer a aliança governista e reforçar a oposição e as resistências internas dos aliados ao Planalto. Se José Serra ganhar em São Paulo, o governador tucano Geraldo Alckmin (SP) sai com vários pontos à frente como candidato oposicionista.
"As eleições municipais podem não decidir as eleições de 2006, mas definem a formação das parcerias que vão disputá-las", disse o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), que tenta reaproximar o seu partido do PSDB para formar uma frente na corrida à Presidência.
"Eles [os tucanos] vão colar no Alckmin, nós vamos colar no César Maia [prefeito reeleito no Rio pelo PFL] e, no final de 2005, vamos sentar para ver como fica."
Para contrabalançar, Fernando Pimentel (PT) foi reeleito no primeiro turno em Belo Horizonte, mantendo uma trincheira importante para o partido no Sudeste.
Para o presidente do PT, José Genoino, é cedo para qualquer análise das urnas, mas uma coisa é certa: "O que há no país não é um bipartidarismo, como andam dizendo, mas sim um pluripartidarismo consistente".
Apesar disso, ele admite que houve uma polarização muito acirrada entre petistas e tucanos: "O PSDB é a alternativa de poder ao PT e foi responsável pela maior campanha anti-PT nas eleições municipais. Muito mais do que o PFL, por exemplo", disse. Apesar disso, uma curiosidade: o PT apoiou tucanos em 275 cidades, e o PSDB apoiou petistas em 131.
Na opinião de Bornhausen, a sucessão presidencial começa assim que a municipal acabar: "As eleições municipais mostram que o Lula não é imbatível, ou melhor, é "batível'", disse ele à Folha.
Genoino discorda: "Não foi uma análise. Foi uma torcida do Bornhausen", disse, rindo. O PT conquistou posições no Nordeste, no Norte e no Centro-Oeste, o que, diz ele, consolida "um mosaico geopolítico no país inteiro".
No primeiro turno, o PT ganhou seis capitais e foi quem mais teve votos. No segundo, o feito pode não se repetir, porque a reeleição parecia ameaçada em São Paulo e Porto Alegre, onde o partido domina há 16 anos.

Alianças
Na avaliação de tucanos e pefelistas, expandir prefeituras em pequenas capitais não compensa a perda das grandes e, nesse cenário, o PT pode perder aliados.
De Bornhausen, cáustico: "Se o PT perder em São Paulo e em Porto Alegre, o PMDB vai descolar do governo e ficar sem candidato em 2006. No final, reúne todos e decide: "Vamos com quem ganhou'".
Mas tanto os núcleos de oposição como os de governo concordam que o PTB, o PC do B e o PL se agregam definitivamente ao Planalto e ao projeto de poder do PT, o PFL se reaproxima do PSDB, e os dois blocos vão disputar o PDT e o PPS (que discutem uma aliança a dois), o PSB e o PP.
Caso curioso é o do PP, que parece sem bússola depois que o seu principal líder, Paulo Maluf, teve o menor índice de votos de sua história. Na quinta passada, governadores tucanos foram prestigiar a campanha do líder do PP na Câmara, Odelmo Leão (MG), candidato a prefeito de Uberlândia. Foram Alckmin, Aécio Neves (MG) e Marconi Perillo (GO). É o espólio malufista em jogo.
Além de Alckmin, outros presidenciáveis tucanos são Aécio Neves, que foi presidente da Câmara e tem trânsito nacional, e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Mas este vai completar 76 anos em 2006 e ganhou de Lula em 1994 e 1998 e não correria o risco de uma derrota agora.
Correndo por fora, o ex-governador do Rio Anthony Garotinho e o atual ministro Ciro Gomes (Integração Nacional) já concorreram em 2002 e são sempre alternativas lembradas. Ambos, porém, têm dificuldades de sigla.


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