São Paulo, segunda-feira, 31 de outubro de 2005

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TODA MÍDIA

"Mesmo sem provas, supõe"

NELSON DE SÁ

Como a dizer que o Brasil não é a Venezuela, Globo e outros deram de ombros para a denúncia no fim de semana.
Na locução do "Jornal Nacional", "segundo a revista, a campanha de Lula teria recebido dólares de Cuba". De imediato e em destaque, o outro lado:
- O ministro da Coordenação Política, Jaques Wagner, disse que as contribuições e gastos da campanha presidencial de 2002 foram registrados com transparência no TSE e que as especulações contidas na revista "Veja" não passam de fantasia.
Depois o próprio "JN" afirmou:
- Mesmo sem provas, a revista supõe que o dinheiro tenha saído ou do governo cubano ou do Partido Comunista.
E tome mais outro lado, e outro. E tucano pedindo depoimento na CPI dos Correios. E pefelista, "mas na dos Bingos".
Para encerrar, mais outro lado, com o presidente do PT, Ricardo Berzoini, dizendo que "não há qualquer fundamento" etc. etc.
 
A edição veio após Antonio Palocci dizer a interlocutores, segundo o blog de Josias de Souza, que "jamais ouvira falar de dinheiro enviado por Fidel Castro".
Mais importante, ele expressou a preocupação de que a gravação da entrevista dos ex-assessores, que poderia emprestar "verossimilhança" à história, fosse enviada da revista ao "JN".
Se foi, não entrou no ar.
Aliás, o telejornal registrou que os dois entrevistados foram assessores do ex-prefeito de Ribeirão Preto "há dez anos".
 
Mais da Globo, ontem:
- A embaixada de Cuba divulgou nota negando. A denúncia foi publicada na revista "Veja" e, segundo a nota, é uma calúnia.
Acusou mais a nota, no relato da Folha Online. Destacou que a denúncia surge às vésperas da "chegada do presidente Bush ao Brasil" -e foi feita pelos mesmos que "orquestram uma campanha de mentiras contra Cuba e o governo brasileiro".
De volta, o golpe de mídia.
 
Antes do fim de semana, a visita de George W. Bush já chamava a atenção -com a escalada dos telejornais trombeteando na sexta a promessa feita por Maradona, em conversa com Fidel, de "liderar protesto contra o presidente americano".
Bush só chega no domingo ao Brasil, para churrasco com Lula, mas do programa "Panorama" na BBC aos jornais, amontoam-se prognósticos da turnê.
O editor para América Latina do "Financial Times", Richard Lapper, em sua "agenda", destaca a "expectativa de confronto entre Hugo Chávez e Bush".
Já o "Miami Herald" do colunista Andres Oppenheimer avisa que "funcionários dos EUA temem não só uma radicalização de Chávez, mas o surgimento de um governo ainda mais radical na Bolívia". As eleições de dezembro foram adiadas, mas é "só questão de tempo para Evo Morales se tornar presidente".
Daí o título da coluna, "Esqueça a cúpula [na Argentina] e fique de olho em Bush no Brasil":
- Por quê? A preocupação é crescente em Washington sobre novos regimes radicais e o Brasil é o único com peso político e econômico para contê-los.
Oppenheimer ouve o novo representante do Departamento de Estado para o hemisfério, Tom Shannon, e o embaixador John Danilovich, que se derramam em elogios ao Brasil. O colunista também sublinha as visitas recentes de quatro secretários e até do diretor do FBI, para concluir:
- Considerando o que vem por aí na América do Sul, Bush pode precisar mais de Lula do que o contrário.

nelsondesa@folhasp.com.br

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