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TODA MÍDIA
"Mesmo sem provas, supõe"
NELSON DE SÁ
Como a dizer que o Brasil
não é a Venezuela, Globo e
outros deram de ombros para a
denúncia no fim de semana.
Na locução do "Jornal Nacional", "segundo a revista, a campanha de Lula teria recebido dólares
de Cuba". De imediato e em destaque, o outro lado:
- O ministro da Coordenação
Política, Jaques Wagner, disse que
as contribuições e gastos da campanha presidencial de 2002 foram
registrados com transparência no
TSE e que as especulações contidas na revista "Veja" não passam
de fantasia.
Depois o próprio "JN" afirmou:
- Mesmo sem provas, a revista
supõe que o dinheiro tenha saído
ou do governo cubano ou do Partido Comunista.
E tome mais outro lado, e outro.
E tucano pedindo depoimento na
CPI dos Correios. E pefelista,
"mas na dos Bingos".
Para encerrar, mais outro lado,
com o presidente do PT, Ricardo
Berzoini, dizendo que "não há
qualquer fundamento" etc. etc.
A edição veio após Antonio Palocci dizer a interlocutores, segundo o blog de Josias de Souza,
que "jamais ouvira falar de dinheiro enviado por Fidel Castro".
Mais importante, ele expressou
a preocupação de que a gravação
da entrevista dos ex-assessores,
que poderia emprestar "verossimilhança" à história, fosse enviada da revista ao "JN".
Se foi, não entrou no ar.
Aliás, o telejornal registrou que
os dois entrevistados foram assessores do ex-prefeito de Ribeirão
Preto "há dez anos".
Mais da Globo, ontem:
- A embaixada de Cuba divulgou nota negando. A denúncia foi
publicada na revista "Veja" e, segundo a nota, é uma calúnia.
Acusou mais a nota, no relato
da Folha Online. Destacou que a
denúncia surge às vésperas da
"chegada do presidente Bush ao
Brasil" -e foi feita pelos mesmos
que "orquestram uma campanha
de mentiras contra Cuba e o governo brasileiro".
De volta, o golpe de mídia.
Antes do fim de semana, a visita
de George W. Bush já chamava a
atenção -com a escalada dos telejornais trombeteando na sexta a
promessa feita por Maradona, em
conversa com Fidel, de "liderar
protesto contra o presidente americano".
Bush só chega no domingo ao
Brasil, para churrasco com Lula,
mas do programa "Panorama" na
BBC aos jornais, amontoam-se
prognósticos da turnê.
O editor para América Latina do
"Financial Times", Richard Lapper, em sua "agenda", destaca a
"expectativa de confronto entre
Hugo Chávez e Bush".
Já o "Miami Herald" do colunista Andres Oppenheimer avisa que
"funcionários dos EUA temem
não só uma radicalização de Chávez, mas o surgimento de um governo ainda mais radical na Bolívia". As eleições de dezembro foram adiadas, mas é "só questão de
tempo para Evo Morales se tornar
presidente".
Daí o título da coluna, "Esqueça
a cúpula [na Argentina] e fique de
olho em Bush no Brasil":
- Por quê? A preocupação é
crescente em Washington sobre
novos regimes radicais e o Brasil é
o único com peso político e econômico para contê-los.
Oppenheimer ouve o novo representante do Departamento de
Estado para o hemisfério, Tom
Shannon, e o embaixador John
Danilovich, que se derramam em
elogios ao Brasil. O colunista também sublinha as visitas recentes
de quatro secretários e até do diretor do FBI, para concluir:
- Considerando o que vem por
aí na América do Sul, Bush pode
precisar mais de Lula do que o
contrário.
nelsondesa@folhasp.com.br
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