São Paulo, terça-feira, 31 de outubro de 2006

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JANIO DE FREITAS

O melhor sinal


Thomaz Bastos foi o ministro mais importante para Lula; talvez por isso, é o mais injustiçado pela oposição

INICIADA A FASE das especulações e criações jornalísticas sobre a formação do futuro ministério, a primeira informação que foge a essa regra e tem a chancela de autenticidade é, apesar de incompleta, a melhor possível. É a admissão do ministro Márcio Thomaz Bastos de reconsiderar a decisão, trazida desde a posse, de deixar o governo ao fim do primeiro mandato de Lula.
Ao longo destes quase quatro anos, Márcio Thomaz Bastos foi o ministro mais importante para Lula, pela contribuição que deu nas situações de decisão presidencial mais delicada ou complexa, sem distinção da área governamental envolvida. Talvez por isso mesmo, é o ministro mais injustiçado e difamado por integrantes do PSDB, PFL e PPS.
O episódio da crise e afastamento de Antonio Palocci é exemplar. Márcio Thomaz Bastos foi longamente acusado de orientar providências defensivas de Palocci, agir na Polícia Federal contra o caseiro Francenildo, acobertar implicados na quebra de sigilo bancário, e mais atos assim. O pouco que vazou da primeira e mais séria reunião convocada por Lula, para exame da crise Palocci que apenas começara, trouxe informações de que já naquela altura o ministro da Justiça aconselhou e insistiu no afastamento de Palocci. Como Lula fez, em tempo de limitar os comprometimentos com as ilegalidades praticadas e induzidas pelo ministro da Fazenda. A reação de Palocci produziu, na reunião, um incidente que, consta, não mais se dissolveria.
Várias outras ocasiões tiveram atitudes idênticas às da crise Palocci, tanto da parte de Thomaz Bastos como de parte dos que falam por aqueles três partidos. Mas seu desempenho no Ministério da Justiça não é menos importante, para o país, do que é, para Lula, o aconselhamento inteligente e sensato. Está no jogo político a repetida acusação de oposicionistas ao ministro, por exemplo, por não construir os presídios prometidos e investir apenas 9% da verba orçamentária para o Plano Nacional de Segurança. Mas a oposição sabe, e o jornalismo deveria saber e dizer, que as construções, o Plano e outras atividades projetadas do Ministério da Justiça foram impedidos pela retenção das respectivas verbas, ordenada por Antonio Palocci. O tão poupado Palocci.
Ainda assim, o que Thomaz Bastos fez no Ministério da Justiça não foi apenas dotar o Brasil, pela primeira vez, de uma Polícia Federal digna do nome. A permanência do ministro depende de Lula e, neste caso, não contará com o aconselhamento de Márcio Thomaz Bastos. Nem seria preciso, para a única decisão cabível.

Está aí
O historiador Boris Fausto nega propósitos de impeachment, por ação judicial, que foram objeto de artigos aqui, de Tereza Cruvinel em "O Globo" e de outras referências. É possível que a descrença, embora menos enfática e mais delicada, alcance outros leitores. Se posso ajudá-los, informo que o presidente da República e o ministro da Justiça até já apresentaram defesas escritas em processos que pretendem sua incriminação na compra do dossiê, crime eleitoral capaz de provocar impeachment. A iniciativa judicial é dos dirigentes da oposição.


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