São Paulo, terça-feira, 31 de outubro de 2006

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Modelo buscava crescimento "para dentro"

RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os economistas Luiz Carlos Bresser-Pereira e Fernando Cardim apresentam modelos de um "novo desenvolvimentismo" econômico parecidos -no que propõem e nas semelhanças e diferenças em relação ao nacional-desenvolvimentismo que vigorou no país, grosso modo, entre as décadas de 30 e 70.
Cardim, professor de economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), afirma que, no nacional-desenvolvimentismo, "as duas palavras eram significativas". "Nacional", porque aquele modelo implicava "muitas vezes um desenvolvimento para dentro".
Tratava-se então de deixar para trás o modelo de economia baseado em exportações e promover a industrialização para o mercado interno.
"Desenvolvimentismo" por ser um "processo que não ocorre naturalmente, mas que tem que ser promovido [pelo Estado]".
A primeira semelhança e a primeira diferença entre o "antigo" e o "novo" desenvolvimentismo viria desse ponto. Como em meados do século 20, o novo desenvolvimentismo entende que não basta "aplainar o terreno, acabar com a inflação e fazer reformas microeconômicas" para permitir que o crescimento econômico ocorra.
Os novos desenvolvimentistas defendem a intervenção do Estado para promover o crescimento, mas não nos moldes antigos, fundado nas grandes estatais e nos investimentos diretos.
Aqui aparece a segunda diferença. Segundo Cardim e Bresser -que apresentou no encontro da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais) deste ano um trabalho sobre o tema-, não se trata mais de promover um desenvolvimento "autárquico", mas baseado nas exportações de produtos de valor agregado, a exemplo do que fazem países asiáticos.
Aqui entra o Estado. Como diz Bresser no seu texto "O Novo Desenvolvimentismo e a Ortodoxia Convencional": "Se o país adota essa estratégia, as autoridades econômicas, que estão fazendo política industrial em favor de suas empresas, passam a ter um critério de eficiência em que se basear: só as empresas eficientes o bastante para exportar serão beneficiadas".
Diferentemente do antigo desenvolvimentismo, autores como Bresser e Cardim defendem a necessidade de ajuste fiscal, ou seja, de que o Estado brasileiro gaste menos para diminuir a dívida.
Ao contrário dos ortodoxos, porém, entendem que uma maneira de fazê-lo é diminuindo os gastos com a dívida a partir de uma diminuição da taxa de juros básica.
Para Cardim, tal modelo se parece com o que é aventado por ministros como Tarso Genro. Ele se diz, no entanto, pessimista quanto às chances de Lula adotar essa linha.
Tudo depende agora da decisão do presidente, afirma. "Resta esperar o presidente apontar para algum lugar. Se continua a apontar para todos os lados e não toma uma decisão, não muda nada."


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