GABRIELA ATHIAS
ENVIADA ESPECIAL A IBOTIRAMA (BA)

O ônibus que conduz os parentes do futuro presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, a Brasília para assistir sua posse, já cruzou algumas das regiões mais pobres do país, como o semi-árido de Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia.
Nas cidades em que parou, caso de Propriá (SE), o ônibus virou "atração turística" com moradores pedindo para tirar fotos com os parentes de Lula.
O ônibus, que leva 17 parentes de Lula, saiu de Garanhuns (PE) no dia 29 de manhã, e estava previsto para chegar a Brasília na madrugada de hoje.
Ontem à noite, os parentes de Lula se animaram ao saber da notícia de que Lula os receberia "de qualquer maneira" e deveriam seguir, ainda na madrugada, para a Granja do Torto.
A chegada da caravana à Granja deve ser anunciada por fogos de artíficio, lançados por um "fogueteiro" de Brasília contratado pela Prefeitura de Caetés.

Rota da pobreza
Ao cruzar o primeiro entroncamento de Alagoas (entre os municípios de Palmeira dos Índios e Arapiraca, a cerca de 145 km de Maceió) o ônibus foi assediado pelos "tapa-buraco"- meninos, a maioria menor de 12 anos, que ficam nos acostamentos, segurando pás, como se estivessem preenchendo com terra as falhas da estrada. Quando o carro reduz a velocidade, eles pedem dinheiro.
Para se ter idéia da pobreza da população da região, 78,5% sobrevivem de benefícios da Previdência Social. O valor chega a ser cinco vezes maior do que esses municípios recebem do FPM (Fundo de Participação dos Municípios). É o caso de Palmeira dos Índios, onde 15,2% das crianças de até seis anos tem algum grau de desnutrição.
O perfil socioeconômico da "rota dos Silva" é o mesmo até a região do DF, onde os indicadores (fornecidos pela Pastoral da Criança) melhoram.
Não é por acaso que Jorge Araújo, um dos passageiro do ônibus, diz sentir-se "um vencedor". A expectativa de vida de um paulista é de 70 anos, já a de um pernambucano, 63,4, segundo o IBGE. Com tudo isso, Araújo, um dos fundadores do Partido Comunista Brasileiro, hoje residente em Garanhuns, completou 84 anos.
No "partidão" desde 1945, quando saiu de Garanhuns para tentar a vida no Rio de Janeiro, a última visita de Araújo a Brasília foi na década de 50, quando trabalhou como motorista, levando cimento para a construção da capital. "Nem acredito que agora vou voltar para ver um operário ser empossado presidente do Brasil."



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