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MÍDIA
Segundo o ex-vice-presidente da emissora, ordem foi de Roberto Marinho
Globo censurou Diretas-Já, diz Boni
DA REPORTAGEM LOCAL
O ex-vice-presidente das Organizações Globo e um dos responsáveis pelo "padrão Globo de qualidade", José Bonifácio de Oliveira
Sobrinho, o Boni, disse em entrevista ao jornalista Roberto Dávila
que Roberto Marinho, fundador
da emissora, determinou a censura ao primeiro grande comício da
campanha pelas Diretas-Já em janeiro de 1984, em São Paulo.
Segundo Boni, àquela altura "o
doutor Roberto não queria que se
falasse em Diretas-Já" e decidiu
que o evento da praça da Sé fosse
transmitido "sem nenhuma participação de nenhum dos discursantes" -"quer dizer, a palavra, o
que se dizia, o conteúdo estava
censurado". O programa "Conexão Roberto Dávila" foi transmitido na última quarta-feira à noite
pela TV Cultura.
Boni falava a respeito da pressão
dos diversos governos militares
sobre o jornalismo da emissora,
quando, questionado especificamente sobre a campanha das Diretas, disse que nela ocorreu
"uma censura dupla". "Primeiro,
uma censura da censura; depois,
uma censura do doutor Roberto",
declarou Boni.
O que motivou a decisão, segundo ele, foi o temor de que os
militares cassassem a concessão
da TV Globo caso os comícios
fossem noticiados. "No momento
das Diretas-Já, [os militares]
ameaçaram claramente a Globo
de perder a concessão", ele disse.
A versão é diferente da que aparece no livro "Jornal Nacional - A
Notícia Faz História", publicado
pela Jorge Zahar em 2004, e que
representa a versão da própria
Globo para a história de seu jornalismo. O texto ali publicado não
faz nenhuma referência a uma intervenção direta de censura por
parte de Roberto Marinho.
Segundo o texto, "a matéria
[transmitida no dia do comício
em São Paulo] provocou polêmicas". "Com o passar dos anos, fatos misturaram-se a mitos até que
uma versão falsa ganhasse as páginas de muitos livros sobre o assunto: a Globo teria omitido que o
comício era uma manifestação
pelas Diretas."
A versão oficial, no entanto,
afirma que a TV Globo vinha sendo "pressionada pelos militares a
simplesmente não cobrir os eventos" e cita o próprio Boni, que declara não ter sido possível "fazer a
cobertura de maneira adequada".
Tanto o livro quanto Boni disse
na entrevista transmitida nesta
semana afirmam que a cobertura
mudou depois daquele comício
de São Paulo.
O texto oficial diz que, quando
"crescem os comícios, a cobertura
se fortalece". Segundo Boni, a
Globo entrou atrasada na "campanha pelas Diretas", mas a censura inicial de Roberto Marinho
foi contornada.
A Folha não conseguiu falar ontem com Boni. A assessoria da TV
Globo, procurada pela reportagem, disse que a versão contida
no livro corresponde à opinião da
emissora sobre o fato.
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