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Coalizão de Lula pode aumentar gastos com máquina do governo
Aliança de 10 siglas deve levar a atendimento de interesses e aumento do custeio da União, dizem especialistas
Presidente vai começar seu segundo mandato com a maior coalizão desde Sarney; cientistas políticos prevêem menos vetos
ANA PAULA BONI
DA REDAÇÃO
Às vésperas de iniciar o segundo mandato com a maior
coalizão de partidos desde a redemocratização, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva poderá ver crescer, sob sua gestão, o
custeio da máquina do governo.
Especialistas sustentam que,
quanto maior a base aliada,
mais gastos pode acarretar ao
erário. Lula inicia seu segundo
mandato com uma coalização
de dez partidos -PT, PSB, PC
do B, PV, PTB, PMDB, PP, PRB
e PL e PDT-, a maior desde o
governo Sarney (1985-1989).
O economista Paulo Arvate,
professor da Fundação Getúlio
Vargas, explica que o aumento
do custeio do governo é previsível porque, numa coalizão, nenhum agente político veta o outro para não ser vetado. "Quanto mais partidos e políticos individualmente têm força para
negociar, mais coisas há para
serem negociadas e isso implica gasto", diz Arvate.
O resultado desse "não-veto"
se reflete no atendimento de
interesses específicos e em aumento do custeio do governo
em proporção do PIB, que vem
crescendo desde os anos 80, segundo pesquisa de Arvate com
base em dados do Tesouro Nacional e do Planejamento.
Para Sérgio Abranches, doutor em ciência política pela
Universidade de Cornell (Nova
York), a coalizão perde eficácia
quando há divergência, e, quanto mais parceiros, "mais difícil
fica acomodar esses interesses". Segundo o cientista político George Avelino, também da
FGV, os interesses podem ser
traduzidos pelo lobby tanto no
Congresso quanto no Executivo. De certa forma, diz Avelino,
isso leva ao afrouxamento do
ajuste fiscal, porque ninguém
quer internalizar o custo político de fazer cortes.
Abranches defende que o sucesso da coalizão dependerá do
"grau de satisfação" das siglas
nos ministérios e da participação delas no Orçamento. O governo perde, diz ele, quando
não consegue administrar esses interesses. "Mais da metade
dessa coalizão é formada por
partidos tradicionalmente
oportunistas. Eles preferem ser
chamados de pragmáticos."
Para o cientista político Octavio Amorim Neto, da FGV-Rio, a "solidez de uma coalizão
é função da proporcionalidade
do número de ministérios concedidos a cada partido com relação ao tamanho que cada um
tem na base legislativa."
Segundo ele, Lula obteve o
mais fragmentado ministério
desde a redemocratização e
"não houve partilha efetiva do
poder" no primeiro mandato.
Isso levou a uma coalizão heterogênea, com a esquerda convivendo com a direita.
Além disso, a não proporcionalidade do número de ministérios em relação à representação -o PT tinha 29% da base
parlamentar, mas controlava
60% dos ministérios em
2004- leva ao desbalanceamento da coalizão.
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