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Almanaque Lula
Com improvisos e metáforas populares, petista consagra
"pensamento selvagem" contra fala sociológica da era FHC
DEPOIS DE OITO ANOS habituado a um presidente-sociólogo, cioso de seu lugar
no sistema intelectual e
empenhado em acomodar seu reinado
numa sala VIP da história, o Brasil experimentou, no primeiro mandato de
Luiz Inácio Lula da Silva, um verdadeiro choque discursivo. De um mandatário que parecia se pronunciar de um
púlpito, sempre com um olho voltado
para um imaginário anfiteatro da USP,
passou-se a um líder cujas palavras
saem diretamente do palanque para
atingir os corações de uma assembléia.
Se na era tucana procurava-se aplicar
um verniz iluminista à realidade, traduzida do alto da sociologia como um
"processo", no primeiro mandato de
Lula uma espécie de "pensamento selvagem", intuitivo e sentimental, lastreado no concreto, veio ocupar a cena.
O conceito deixou o gramado e deu lugar à metáfora popular, servida com
maionese, churrasco, futebol, jardinagem e lições de vida extraídas da biografia do próprio presidente -que se faz
genuíno representante dos pobres ao
mesmo tempo em que corteja a elite.
Pouco afeito a discursos pré-fabricados, Lula prefere o improviso -e o fato
de que seus repentes sejam varados por
contradições talvez explique sua aversão ao contraditório das entrevistas à
imprensa. Ele mesmo se encarregou,
nestes quatro anos, de dizer e desdizer.
E mostrou conhecer o risco de falar bobagens: "Quando a gente fala de improviso, a gente pode cometer um erro e falar uma palavra imprevista. Mas, em se
tratando de bobagem, é melhor a gente
falar do que a gente fazer", ponderou.
(MARCOS AUGUSTO GONÇALVES)
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