São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 2006

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Almanaque Lula

Com improvisos e metáforas populares, petista consagra "pensamento selvagem" contra fala sociológica da era FHC

DEPOIS DE OITO ANOS habituado a um presidente-sociólogo, cioso de seu lugar no sistema intelectual e empenhado em acomodar seu reinado numa sala VIP da história, o Brasil experimentou, no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, um verdadeiro choque discursivo. De um mandatário que parecia se pronunciar de um púlpito, sempre com um olho voltado para um imaginário anfiteatro da USP, passou-se a um líder cujas palavras saem diretamente do palanque para atingir os corações de uma assembléia.
Se na era tucana procurava-se aplicar um verniz iluminista à realidade, traduzida do alto da sociologia como um "processo", no primeiro mandato de Lula uma espécie de "pensamento selvagem", intuitivo e sentimental, lastreado no concreto, veio ocupar a cena.
O conceito deixou o gramado e deu lugar à metáfora popular, servida com maionese, churrasco, futebol, jardinagem e lições de vida extraídas da biografia do próprio presidente -que se faz genuíno representante dos pobres ao mesmo tempo em que corteja a elite.
Pouco afeito a discursos pré-fabricados, Lula prefere o improviso -e o fato de que seus repentes sejam varados por contradições talvez explique sua aversão ao contraditório das entrevistas à imprensa. Ele mesmo se encarregou, nestes quatro anos, de dizer e desdizer. E mostrou conhecer o risco de falar bobagens: "Quando a gente fala de improviso, a gente pode cometer um erro e falar uma palavra imprevista. Mas, em se tratando de bobagem, é melhor a gente falar do que a gente fazer", ponderou. (MARCOS AUGUSTO GONÇALVES)


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