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ELIO GASPARI
Lula devia tomar umas aulas com Kirchner
A renda per capita dos argentinos cresceu 12% em relação a 2000;
a dos brasileiros, 5%
O ANO E O NOVO mandato de Lula
começam com um desafio para
os sábios da ekipekonômica.
Trata-se de conter a surra que o Brasil
de Nosso Guia toma quando seu desempenho é comparado ao da Argentina de Néstor Kirchner. Em 2000, depois de uma década de ilusões cultivadas pela banca internacional, a Argentina atolou-se numa crise política e social sem paralelo na sua história. Teve
cinco presidentes em 12 dias, saques e
estado de sítio. Em apenas dois anos,
gramou uma queda de 14% do PIB. Para ter uma idéia do que isso significa,
vale lembrar que, em cinco anos, a Segunda Guerra Mundial custou à Inglaterra 25% de sua riqueza.
Desde 2003, fazendo o contrário do
que manda o mercado, Kirchner impôs
o calote de dois terços do valor de uma
dívida de US$ 100 bilhões (o maior da
história do capitalismo), controlou o
câmbio, baixou os juros e reestatizou
concessionárias de serviços públicos.
Cada uma dessas medidas foi vista pelos sábios brasileiros como loucura.
Em alguns casos, como no calote, um
diretor do Banco Central chegou a
atrapalhar a negociação (não há semelhança entre a estrutura da dívida argentina e a brasileira).
Kirchner dirige um "espetáculo do
crescimento" com taxas superiores a
8% ao ano. Tomando-se como ponto de
partida os números das economias dos
dois países em 2000, a Argentina hoje
está 19% maior. Não vale dizer que o
crescimento ocorreu em cima de um
desastre. Ela já sacudiu a poeira e deu a
volta por cima. A economia brasileira,
submetida ao rigor científico da ekipekonômica, expandiu-se 15%. A renda
per capita dos argentinos cresceu 12%
em relação a 2000. A dos brasileiros,
5%. Trata-se de um desastre lento, gradual e seguro.
Durante a campanha eleitoral, Lula
prometeu um crescimento de 5% e reclamou dos adversários que comparam
seu espetáculo ao desempenho da economia haitiana. O comissariado já começou a dizer que 5% é exagero.
Se as economias do Brasil e da Argentina mantiverem seus níveis de expectativas, ao final de 2007 a renda per capita dos brasileiros terá aumentado 8%
em sete anos. A dos argentinos, 19%.
Cinco cenas petistas do verão de 2003
Há quatro anos, enquanto
se festejava a primeira posse
de Nosso Guia, acontecia o
seguinte:
Luís Gushiken, empossado na Secretaria de Comunicação, dizia que José Dirceu
não deveria ter ido para a Casa Civil. Gushiken, bem como o ministro da Fazenda,
Antonio Palocci, ainda acreditava que seria possível uma
aproximação com o PSDB.
Duda Mendonça avisava
ao comissariado do Programa Fome Zero: "Distribuição
de comida é bobagem".
A ministra de Minas e
Energia, Dilma Rousseff
(atual chefe da Casa Civil),
informava: "Pode noticiar:
Não vamos botar dinheiro
nenhum na AES". Referia-se
à empresa americana de
energia que comprara a Eletropaulo durante a privataria
tucana. Sete meses depois, o
BNDES renegociou um calote de US$ 400 milhões, parte
de uma dívida de US$ 1,2 bilhão. Puseram US$ 600 milhões numa nova empresa.
Frei Betto, assessor especial de Lula, assustou-se. Pediu um transporte à garagem
do Planalto e disseram-lhe
que não havia carros disponíveis, só kombis. "Mande
uma", pediu. "E o senhor anda de kombi?", respondeu o
funcionário.
O "núcleo duro" (quem
lembra dessa tolice?) do governo achou que não havia
nada demais no fato de terem
pousado 18 jatinhos no aeroporto de Buritis (MG), levando convidados para a festa de
aniversário de Delúbio Soares, organizada por Duda
Mendonça.
Feliz 2007
Não se pode dizer se 2007 será um ano bom ou ruim. Para o
Rio, será o primeiro sem o casal
Anthony/Rosinha Garotinho.
Lei de Lula
Guido Mantega começa o segundo governo alavancado pela
Primeira Lei de Lula: um ministro se fortalece sempre que
o andar de cima diz que ele foi
atropelado por uma decisão do
presidente, contrariando aquilo que se denomina "opinião do
mercado". Para Lula, um ministro desautorizado pela sua
decisão de elevar o valor do salário mínimo é um presente de
mãe. Imagine-se Nosso Guia na
situação contrária: querendo
fixar o salário em R$ 367 e vendo-se obrigado a discutir com
um ministro da Fazenda que
defendesse R$ 380.
Air Racismo
A ruína das empresas aéreas
brasileiras aumenta a preferência pelas companhias estrangeiras. É uma atitude compreensível e até conveniente.
Isso não elimina o fato de que o
predomínio de empresas d'além mar nesse mercado pode
gerar outro tipo de ruína. Como
aquela provocada por dois comissários da American Airlines
(Shaw Tipton Scott e Mattew
Gonçalves), que se desentenderam com um passageiro por
causa de um assento. Incentivado pelo outro, um deles disse,
diante de testemunhas: "Amanhã vou acordar jovem, bonito,
orgulhoso, rico e sendo um poderoso americano e você vai
acordar como um safado, depravado, repulsivo, canalha e
miserável brasileiro". A vítima
processou os funcionários da
American e, dez anos depois do
incidente, a sentença do Tribunal Regional Federal do Rio deve sair ainda neste ano.
Malas perdidas
Consolo para quem viajou e
descobriu que as companhias
aéreas sumiram com suas malas. Uma cena memorável da
história teve um sem-malas como personagem. No dia 9 de
abril de 1865 reuniram-se na sala de estar de uma casa, na localidade de Appomattox, os generais Ulysses Grant e Robert Lee.
Um comandava o exército dos
Estados Unidos e o outro, o que
restava das tropas rebeldes do
Sul. Lee, um velhote boa pinta,
chegou com seu bonito cavalo,
uniforme impecável, ornado
com uma faixa vermelha e rica
espada. Grant, miúdo e mal
ajambrado, tinha as botas
imundas e a túnica amarrotada.
Estava há quatro dias com a
mesma roupa. Haviam perdido
sua bagagem de campanha.
Quem visse a cena poderia pensar que Grant rendia-se a Lee.
Eremildo aéreo
Eremildo é um idiota e oferece seus préstimos à aerocracia
nacional. Reivindica, em caráter
cumulativo, a presidência da Infraero, da Anac e da TAM. O
idiota pretende manter no cargo o aerocrata Anchieta Helcias,
vice-presidente do sindicato
das empresas aéreas. O doutor
reclama porque não há punição
para os passageiros que, tendo
bilhete marcado, não aparecem
na hora do embarque. Eremildo
baixará uma portaria, impondo
à patuléia que não aparece as
penalidades aplicadas à choldra
que aparece: fila, desleixo, cancelamento e prepotência.
Empulhação
Para o registro da crise aérea:
As declarações de aerotecas
condenando a prática do overbooking são coisa de profissionais da enganação. O único vôo
que não teve bilhetes vendidos
acima da lotação foi o do 14-Bis.
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