|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Governadoras dizem ter sofrido ataque machista na eleição
Ana Júlia (PA), Yeda Crusius (RS) e Wilma de Faria (RN) afirmam que foram desqualificadas por serem mulheres
Ana Júlia diz que chegou a ser chamada de burra e de "galinha" por ser separada; Wilma também declara que divórcio gerou preconceito
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS
Eleitas governadoras de Estados de diferentes regiões do
país, as únicas três mulheres
que foram alçadas ao posto nestas eleições dizem que sofreram discriminação durante a
campanha eleitoral.
Ana Júlia Carepa (PT), eleita
no Pará, Yeda Crusius (PSDB),
eleita no Rio Grande do Sul, e
Wilma de Faria (PSB), reeleita
no Rio Grande do Norte, afirmaram à Folha terem sido alvo
de preconceito e ataques machistas de seus adversários.
Ana Júlia Carepa, 49, diz que
enfrentou uma campanha eleitoral violenta por parte do adversário, o ex-governador Almir Gabriel (PSDB). "Fui muito atacada, principalmente no
segundo turno, pelo fato de ser
mulher e separada. Fui chamada de vagabunda, puta, tinha
até adesivo "xô galinha'", diz a
governadora eleita, que iniciou
a carreira política em 1992 como vereadora de Belém.
Divorciada há oito anos e
mãe de dois filhos, ela conta
que o preconceito tinha como
objetivo desqualificá-la. "Não
casei de novo, tenho namorado. Isso foi usado. Tinha músicas me parodiando, me chamando de burra."
Por meio de sua assessoria, o
ex-governador Almir Gabriel
(PSDB) negou discriminação
contra Ana Júlia. "Durante a
campanha não houve solicitação ou questionamento de direito de resposta por discriminação [por parte da candidata].
Não tem cabimento dizer agora
que teve discriminação ou
ofensa com relação a esta questão de ser mulher."
Yeda Crusius, 62, também
diz ter enfrentado uma campanha agressiva, principalmente
no segundo turno contra Olívio
Dutra (PT), em um Estado considerado "machista". "Os ataques foram de um cunho totalitarista porque eu escolhi morar
no Rio Grande do Sul com um
marido gaúcho. Aqui tive meus
filhos e meus netos. Fui atacada por ter nascido em São Paulo. Isso me lembrou um pouco
do viés totalitarista, não ser da
raça gaúcha", diz. Ela ingressou
na política como ministra do
Planejamento, Orçamento e
Coordenação, em 1993, durante o governo de Itamar Franco.
Wilma de Faria, 61, mãe de
quatro filhos e divorciada, diz
que o preconceito que sofreu
também foi motivado por ter se
separado. "Desde que ganhei
minha primeira eleição, eleita
prefeita de Natal, em 1988, sofro discriminação. Hoje, é subliminar. As pessoas me aceitam porque me consideram
boa administradora. Como me
divorciei [em 1990], sofro preconceito. As mulheres que estão na vida pública, quando se
separam, são consideradas pessoas fora do tradicional."
As governadoras eleitas dizem que conseguiram reverter
as discriminações e que ser
mulher ajudou a contra-atacar
adversários, sem utilizar, no
entanto, "as mesmas armas".
Para Ana Júlia, os ataques do
adversário atingiram mulheres
que são chefes de família -o
que é comum no Pará. "Isso,
então, foi contra ele", afirma.
Já Yeda afirma que foi premiada por ser mulher. "Neste
ano [ser mulher] fez a diferença, porque a mulher política foi
olhada com dupla análise. Primeiro, por ser mulher vencedora na política e candidata
competitiva. Em segundo, porque nesse período em que o
Brasil foi sacudido e indignado
por permanentes denúncias de
corrupção não houve associação com a mulher na política. E
o eleitorado quis premiar isso."
Texto Anterior: Elio Gaspari: Lula devia tomar umas aulas com Kirchner Próximo Texto: Embate no RS: Yeda Crusius diz que PFL de Feijó "foi para a oposição" Índice
|