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Lula tenta amenizar crise e frustra comando militar
Presidente adia definição sobre comissão para investigar crimes durante a ditadura
Tarso Genro afirma que não há "controvérsia insanável" dentro do governo apesar da reação das Forças Armadas a plano de direitos humanos
Roberto Stuckert Filho/Agência O Globo
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O ministro Tarso Genro dá entrevista após se reunir com Lula
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu ganhar tempo e investir num discurso conciliador e contra "revanchismos" para administrar a tensão
entre os militares e a ala do governo mais afinada com as famílias de mortos e desaparecidos durante a ditadura militar.
Lula saiu em férias ontem, e
uma definição sobre o terceiro
Plano Nacional de Direitos Humanos, foco da crise, só será
anunciada a partir de abril. Os
militares, que aguardavam um
recuo concreto do governo em
relação aos termos do plano, ficaram frustrados. Acham que
Lula "empurra com a barriga".
Abril é o prazo que uma comissão do governo tem para
elaborar projeto de lei da Comissão Nacional da Verdade
-prevista no Plano de Direitos
Humanos- para examinar violações de direitos humanos
"praticadas no contexto da repressão política", um dos itens
de irritação na área militar.
Outros são a identificação de
locais públicos que serviram à
repressão e a revogação da Lei
da Anistia -além da proposta
de cassar os nomes de presidentes militares de pontes, rodovias e prédios públicos. A comissão terá representantes dos
ministérios da Justiça, da Defesa, da Casa Civil e da Secretaria
de Direitos Humanos.
Ontem, as autoridades envolvidas no conflito baixaram o
tom das críticas. O secretário
de Direitos Humanos, Paulo
Vannuchi, entrou em férias e
avisou que não comentaria o
caso, e o ministro Tarso Genro
(Justiça) insistiu em que a palavra final caberá ao presidente.
"Não há nenhum pedido de
demissão e nenhuma controvérsia insanável entre Defesa e
Secretaria de Direitos Humanos. Isso [o presidente] vai resolver com a sua capacidade de
mediação após as férias", disse
Tarso, após reunião com Lula.
Também o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e os comandantes de Exército, Marinha e
Aeronáutica se recusaram a falar. A promessa de Lula, levada
a eles por Jobim, é de que a tensão será contornada e que o governo não tem nenhum interesse em provocar os militares
e criar-lhes constrangimentos.
Jobim e os comandantes julgam que o plano ignorou todas
as sugestões das Forças Armadas e ficou "desequilibrado",
pois cobra responsabilidades
dos militares, mas não dos seus
adversários, "que assaltaram,
mataram e sequestraram". Citam até ministros de Lula.
Interlocutores de Lula lembraram ontem que o tom conciliador foi dado pelo presidente
desde o anúncio do plano, na
segunda-feira antes do Natal.
Na ocasião, Lula afirmou que o
documento seria "digerido"
-ou seja, que havia brechas para novos debates. No discurso,
o presidente exaltou a experiência de integrantes do governo que lutaram contra a ditadura, como os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil), Franklin Martins (Comunicação Social), Tarso e Vannuchi.
Segundo Lula, Dilma teria
comentado, ao passar pelo Comando do 2º Exército (SP), onde esteve presa, que não sentia
mais raiva: "Se alguém prendeu
a Dilma, se alguém torturou a
Dilma achando que tinha acabado a luta da Dilma, ela é uma
possível candidata a presidente
da República", declarou.
A tensão entre militares e a
área de Direitos Humanos não
é novidade no governo Lula.
Em 2007, foram duras as críticas de militares ao livro "Direito à Memória e à Verdade".
Mais complicada foi a reação
dos militares ao debate defendido pelo Ministério da Justiça
sobre limites da impunidade a
torturadores. Uma nova interpretação da Lei de Anistia rachou o governo. Como agora,
Lula investiu na conciliação.
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