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Presidente deve arbitrar discordância, diz Vannuchi
ANA FLOR
DA REPORTAGEM LOCAL
Emperrada pela divergência
entre o Ministério da Defesa e o
de Direitos Humanos, a proposta de criação de uma Comissão da Verdade, divulgada na
última semana, passou por um
longo debate e só saiu com o arbítrio do presidente Lula.
Em entrevista à Folha, concedida no dia 22 -o mesmo em
que o ministro Nelson Jobim
(Defesa) e os comandantes das
Forças Armadas procuraram
Lula para protestar-, o ministro Paulo Vannuchi (Direitos
Humanos) citou os pontos de
discordância e disse que sua
pasta precisou abrir mão de
pontos de vista: "A redação não
é a que eu faria se pudesse decidir sozinho". Leia os principais
trechos da entrevista.
FOLHA - Na negociação, no governo, da criação da Comissão da Verdade, sua pasta abriu mão de posições, como ter de concordar com o
envio do texto ao Congresso?
PAULO VANNUCHI - Não é verdade que eu não queria que a Comissão da Verdade passasse
por projeto de lei. Para mim é
indispensável que seja um projeto de lei. Eu concordo que um
programa desses [a terceira
versão do Programa Nacional
de Direitos Humanos] sempre
envolve composição. Eu cheguei a dizer "olha, a redação não
é a que eu faria se pudesse decidir sozinho". [O texto] evidentemente terá pontos de discordância de outros ministros. Na
ação de governo é isso, o presidente equilibra e arbitra.
FOLHA - Há polêmica dentro do governo sobre o que fazer com os resultados da Comissão da Verdade, se deve-se levar pessoas à Justiça?
VANNUCHI - O Judiciário examinar os casos que saírem da
comissão é um objetivo, entre
vários. Os outros são o resgate
da memória, da verdade. Divulgação para as novas gerações
conhecerem o que aconteceu,
para que o país solidamente esteja prevenido contra qualquer
risco de reedição.
FOLHA - As buscas no Araguaia evidenciaram diferenças entre sua área
e o Ministério da Defesa.
VANNUCHI - Houve uma primeira distância, mas acabou
havendo uma decisão também
presidencial de entendimento.
O problema de origem que
existia, e permanece, é que eles
não obtêm informações diretamente de oficiais que comandaram aquela operação antiguerrilha, que estão vivos, que
podem ser localizados, que deveriam se convencer a falar pelo bem do Brasil.
FOLHA - Qual sua posição pessoal
sobre o que deveria ocorrer com
agentes do Estado responsáveis por
violações durante a ditadura?
VANNUCHI - Minha opinião pessoal é que eles devem ser processados, que haja processamento judicial, que sejam condenados. Por exemplo, o coronel [reformado do Exército
Carlos Brilhante] Ustra foi condenado em primeira instância
da Justiça Cível. Ele é declarado torturador, seu nome fica
registrado numa sentença judicial como torturador, responsável pela morte sob tortura de
tal pessoa. Para mim, isso quebra o maior problema -a impunidade. Se o Judiciário considerar que essa pessoa tem de
ir para a cadeia também, eu
confesso que não vou protestar.
Mas meu empenho não é esse.
É preciso criar o maior consenso possível.
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