Campinas, Domingo, 04 de Junho de 2000


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SOB SUSPEITA
Ex-secretário das Finanças de Campinas, condenado pela emissão irregular de títulos, atua na Pasta da Saúde
Biasoto mantém cargo em ministério

RICARDO BRANDT
DA FOLHA CAMPINAS

O Ministério da Saúde mantém no primeiro escalão o ex-secretário das Finanças de Campinas Geraldo Biasoto Júnior, condenado pela Justiça Federal em primeira instância por ser o responsável pela emissão irregular de títulos públicos da prefeitura para pagamento de precatórios, em 96.
A Justiça considerou irregular a emissão de R$ 74 milhões em LFT (Letras Financeiras do Tesouro), em 96, e condenou Biasoto Júnior e o ex-prefeito Edivaldo Orsi (PSDB) por crime de improbidade administrativa e a devolver o dinheiro aos cofres públicos.
Biasoto Júnior é secretário de Investimentos do Ministério da Saúde.
O senador Roberto Requião (PMDB-PR), relator da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Precatórios no Senado, afirma que o PSDB e, em particular, o ministro da Saúde, José Serra, estão acobertando Biasoto Júnior no escândalo dos precatórios.
Biasoto Júnior trabalhava como assessor direto do gabinete do ministro quando surgiu o escândalo dos precatórios em São Paulo, em 97. Na época, ele chegou a ser afastado do cargo.
O ministro José Serra informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a condenação de Biasoto Júnior é uma decisão em primeira instância e que vai aguardar o resultado final do processo para decidir se irá tomar alguma medida.
O esquema praticado em Campinas é o mesmo utilizado na época pelo prefeito afastado de São Paulo, Celso Pitta (PTN), quando era secretário das Finanças da administração Paulo Maluf (PPB). A prefeitura paulistana emitiu US$ 600 milhões em títulos.
O relatório final da CPI dos Precatórios denunciou o esquema mantido na Prefeitura de São Paulo por Wagner Batista Ramos, ex-chefe da Coordenadoria da Dívida Pública, e Nivaldo Furtado de Almeida, ex-assessor técnico da Secretaria das Finanças.
Pitta, Ramos e Furtado negaram, na época, haver irregularidade na emissão dos títulos.
Biasoto Júnior foi apontado no relatório final da CPI como o responsável pela "importação" do esquema para Campinas.
Biasoto Júnior nega que o caso de Campinas seja semelhante ao de São Paulo.
"Em Campinas, o dinheiro dos precatórios não desapareceu. Não existiu nenhum crime", disse Biasoto Júnior.

O esquema
O relatório final da CPI apontou a existência de um esquema de cálculo dos precatórios (dívidas da administração pública provenientes de decisões judiciais), que justificava a emissão de títulos públicos acima do valor necessário.
Os títulos públicos foram emitidos nos anos de 95 e 96 por Estados e municípios para pagamento de precatórios. Por lei, os títulos são colocados no mercado e o dinheiro ganho com a venda deve ser revertido exclusivamente para o pagamento dessas dívidas.
Em Campinas, o esquema de cálculos foi implantado por Biasoto Júnior. Ele reconheceu, em depoimento à CPI, que teve a assessoria de Wagner Ramos.
Um disquete de cálculos que aplicava o esquema de superfaturamento dos títulos, criado por Ramos, teria sido usado por Biasoto Júnior em Campinas, segundo a CPI.
O ex-prefeito de Campinas Edivaldo Orsi (PSDB) e Biasoto Júnior já foram condenados pela 9ª Vara Civil da Justiça Federal.
O ex-prefeito e o ex-secretário podem ainda recorrer da decisão que foi dada em primeira instância. Ambos informaram que vão recorrer. Para isso, terão de pagar R$ 300 mil de custos processuais para apresentar o recurso.
Para a emissão das LFTs, a prefeitura dependia de aprovação do Banco Central e do Senado.
Na sentença da Justiça consta que Biasoto Júnior e Orsi apresentaram dívidas de precatórios não existentes, dívidas de precatórios já pagos e superfaturaram os já existentes.
A prefeitura tinha uma dívida de R$ 26,6 milhões em precatórios. No entanto o pedido para a emissão de LFTs foi feito no valor de R$ 74 milhões.
Com a emissão das LFTs, a prefeitura arrecadou R$ 89 milhões, R$ 15 milhões a mais do requisitado. No entanto apenas 5,06%, ou R$ 4,5 milhões, foram utilizados para pagamento dos precatórios. O restante de dinheiro foi utilizado para pagamento de obras, empréstimos e serviços.


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