Campinas, Segunda, 28 de dezembro de 1998

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CRISE CARCERÁRIA
Transferência de 84 presos de Indaiatuba, após destruição de cadeia, agrava situação e ameaça sistema
Motim superlota cadeias de Campinas

Fernanda Coronado/Folha Imagem
Pátio da cadeia de Indaiatuba, que foi destruído junto com a maioria das celas durante rebelião de presos


VILMA GASQUES
free-lance para a Folha Campinas

As três cadeias dos distritos policiais de Campinas estão com 340% mais presos que sua capacidade. Os presos ameaçam fazer rebeliões a partir de hoje.
A superlotação foi provocada pela transferência de 84 homens que participaram do motim de 10 horas que destruiu a cadeia de Indaiatuba (27 km de Campinas) anteontem.
Os distritos de Campinas têm capacidade para apenas 96 presos e até ontem à tarde já abrigavam 519, segundo dados da Polícia Civil. A lotação era de 435 presos antes das transferências de Indaiatuba.
De acordo com a Polícia Civil de Campinas, as transferências agravaram o problema da superlotação nas cadeias de Campinas e aumentaram o risco de rebeliões.
A cadeia do 2º DP (Distrito Policial) recebeu 29 presos vindos de Indaiatuba. O local, que já estava superlotado, passou a ter 238 presos, sendo que sua capacidade é de 48 detentos.
A polícia informou ontem que os presos já estavam ameaçando fazer uma rebelião no 2º DP (bairro São Bernardo). O clima de motim acabou sendo contido porque foi dia de visitas.
A cadeia do 4º DP (bairro Taquaral), que tem capacidade para 24 presos, recebeu mais 27 e ficou com 131 detentos.
De acordo com o delegado-adjunto do 4º DP, Renato Studart Lopes, 38, os presos vindos de Indaiatuba ficaram no pátio, pois não havia condições de serem colocados nas celas já superlotadas.
Os outros 28 presos de Indaiatuba foram para as celas do 5º DP (Jardim Amazonas), que tem capacidade para 24 presos e está com um total de 148.
Lopes comparou as cadeias de Campinas a um "barril de pólvora", que pode explodir a qualquer momento, pois, segundo ele, quanto maior o número de presos mais difícil fica a convivência.
"São apenas quatro banheiros e para utilizá-los vai valer a lei do mais forte", disse.
De acordo com Lopes a possibilidade de resgate de presos também aumentou. No mês passado, 109 presos foram resgatados do 4º DP por uma quadrilha.

Indaiatuba
A rebelião em Indaiatuba foi contida depois que a polícia invadiu o pátio e deu tiros com balas de borracha.
Os presos acusaram o carcereiro Donato da Silva Macedo Neto, 38, de ter recebido R$ 20 mil para facilitar uma fuga e desistido do plano em seguida. Macedo negou as acusações.
O delegado de Indaiatuba, Carlos Donizete de Faria Souza, 43, informou que 76 prisioneiras continuam na cadeia, em uma cela que não foi totalmente destruída durante a rebelião.



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