Campinas, Sexta-feira, 29 de Junho de 2001

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CRIME ORGANIZADO
Relatório final da comissão aponta que Campinas e Atibaia têm locais que podem servir ao narcotráfico
Tráfico usa aeroportos da região, conclui CPI

Frâncio de Hollanda - 25.fev.2000/Folha Imagem
Avião pousa no Aeroporto dos Amarais, em Campinas, que foi citado duas vezes no relatório final da CPI do Narcotráfico aprovado ontem


MAURÍCIO SIMIONATO
EDITOR-ASSISTENTE DA FOLHA CAMPINAS

Após um ano e quatro meses de investigações, a CPI do Narcotráfico estadual, da Assembléia Legislativa, aprovou ontem à tarde o relatório final que aponta Atibaia (57 km de Campinas) como uma das principais ramificações do tráfico aéreo de drogas e adulteração de aeronaves do Estado.
Além disso, o Aeroporto dos Amarais, em Campinas, é citado duas vezes no relatório como possível entreposto para aeronaves utilizadas por traficantes.
Com 220 páginas e 95 volumes de anexos de investigações criminais, o relatório indicou a existência de 390 pistas clandestinas no Estado utilizadas para pousos de pequenas aeronaves, sendo 28 delas na região de Campinas.
Essas pistas podem ser utilizadas para o tráfico de drogas, segundo o documento. O levantamento foi realizado pela Polícia Civil de São Paulo, que sobrevoou e rastreou diversas áreas.
De acordo com o levantamento, a região de Piracicaba concentra o maior número de pistas suspeitas de servir ao narcotráfico. Foram identificados 14 locais -a metade de toda a região.
Foram localizadas também pistas ilegais em Mogi Guaçu, Jundiaí, Americana, Porto Feliz, Itu, Mogi Mirim e Sorocaba.
O relatório pede para que os proprietários de todas as pistas clandestinas sejam notificados pela polícia para a regularização ou a destruição dos locais.
Além de investigar o tráfico aéreo, a CPI apurou o crime organizado no porto de Santos, o esquema de fugas em unidades carcerárias e as rotas terrestres para distribuição de drogas.
Os documentos serão encaminhados ao Ministério Público Estadual e ao governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB).
Ao todo, foram 30 sessões, 98 depoimentos, 27 inquéritos policiais gerados, que resultaram na prisão de 22 pessoas, sendo sete delas do esquema de Atibaia, além de identificar outras quatro pessoas que estão foragidas.
Os deputados também sugerem que o Aeroporto Internacional de Viracopos aumente a fiscalização de cargas.

Atibaia
De acordo com o relatório final, o esquema de Atibaia tinha ligação com pelo menos outros seis Estados, entre eles o Rio de Janeiro, onde há suspeitas de envolvimento de traficantes da região com a quadrilha de Fernandinho Beira-Mar.
O deputados também encontraram ligações do esquema com a quadrilha da família Morel, no Paraguai.
O relatório final cita como os principais nomes no tráfico e adulteração de aeronaves de Atibaia os empresários José Gomes Filho, Odarício Quirino Ribeiro Neto, Wilson Boy e Odair da Conceição, todos presos. Em depoimento à CPI, todos negaram as acusações feitas pela comissão.
Ribeiro Neto e Gomes têm hangares no aeroporto da cidade e diversos aviões em seus nomes, segundo informou a polícia.
Foram indiciados também o fazendeiro José Ferreira da Silva, os pilotos José Ricardo Nogueira Braga, Ademir de Luca (Tutu), José Salomão, o empresário Vito Santo Lesting, Abrahão Jacob e Carlos Parreira, respectivamente sogro e cunhado de Odarício. Todos negaram as acusações.
A utilização do Aeroporto de Atibaia no esquema de tráfico já havia sido citada na CPI do Narcotráfico da Câmara Federal.
"Os resultados foram positivos, mas as investigações enfrentaram dificuldades em obter informações de órgãos federais, que colaboram pouco, principalmente, nas quebras de sigilo que foram pedidas", disse o relator, deputado Renato Simões (PT).
Para o presidente da CPI, deputado Dimas Ramalho (PPS), uma das principais conclusões foi a de que "não existe uma política articulada e consistente de combate ao narcotráfico no Estado".


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