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Biólogos aceitam 'descarte' de espécies

Para maioria de 600 especialistas ouvidos em pesquisa, vai ser preciso deixar algumas espécies desaparecerem

Recursos para proteção ambiental não bastam para salvar grupos que estão ameaçados, dizem cientistas em enquete

REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE CIÊNCIA E SAÚDE

Uma pesquisa feita com quase 600 biólogos especialistas em biodiversidade no mundo todo revelou que a maioria deles já considera que algo antes impensável pode ser necessário: "desligar os aparelhos" de certas espécies ameaçadas.
Assim como médicos militares precisam fazer escolhas difíceis sobre quais feridos tratar primeiro, 60% dos biólogos ouvidos no levantamento acham que, como não vai ser possível salvar todas as espécies em risco de extinção, é melhor começar a pensar em critérios de triagem.
O resultado foi obtido por Murray Rudd, da Universidade de York, e está em artigo na revista científica "Conservation Biology".
Rudd ouviu cientistas que costumam publicar artigos em revistas especializadas na área de biologia da conservação, com estudos publicados de 2005 a 2010 (o que significa que estão na ativa).

OS MAIS VULNERÁVEIS
Ainda não há consenso sobre como decidir que espécies priorizar, embora boa parte dos biólogos ouvidos (41,7%) concorde com a ideia de que as espécies e os ecossistemas mais vulneráveis deveriam receber os maiores níveis de investimento.
De qualquer maneira, a maioria dos especialistas da área também concorda com a seguinte afirmação: "Inevitavelmente, é preciso fazer escolhas duras sobre desistir de algumas espécies".
Os biólogos justificam a decisão dizendo que, se critérios objetivos sobre que espécies salvar não forem estabelecidos logo, as extinções vão acabar acontecendo de qualquer jeito, e o risco de consequências funestas para a biodiversidade será maior ainda.
Por outro lado, ainda há relutância em relação à ideia de levar em conta o valor econômico das espécies como justificativa para sua preservação.
Além do nível de ameaça, a razão preferida para privilegiar o salvamento de determinada espécie é a importância dela para as relações ecológicas numa região (se ela é um predador que controla a população de vários outros bichos ou uma planta muito comida, digamos).
Rudd diz ter bolado a pesquisa como uma maneira de avaliar qual era o consenso entre os especialistas a respeito da gravidade da crise de biodiversidade atual.
A resposta foi acachapante: quase 100% dos entrevistados acha que uma perda séria de biodiversidade planetária é "provável", "muito provável" ou "virtualmente certa". É um consenso científico ainda mais forte do que existe em torno da realidade do aquecimento global.
A atual crise de desaparecimento de espécies já tem até nome: a Sexta Extinção. O título é uma referência às outras cinco grandes extinções em massa que ocorreram na história da Terra, como a que dizimou os dinossauros há 65 milhões de anos.
Também é forte a percepção entre os especialistas de que as estratégias atuais para salvar a biodiversidade não estão funcionando bem.
Mais de 80% concordam com a afirmação de que é preciso "estar disposto a repensar os objetivos e os padrões de sucesso da conservação".

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