São Paulo, domingo, 01 de junho de 2008

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Computador com programa "telepata" lê palavra na mente

Usando teorias de lingüística e banco de dados de texto, máquina de ressonância identifica pensamento de pessoas

Experimento nos EUA previu como o cérebro reagiria a algumas palavras; estudo abre caminho para criar "teclado mental" no futuro

DA REPORTAGEM LOCAL

Imagine como seria confortável sentar na frente de um computador e escrever um texto sem apertar uma única tecla, e sem ter que falar. Apenas com nosso pensamento, as letras começariam a pipocar na tela. Essa tecnologia só existe ainda no reino da ficção científica, mas um grupo de cientistas americanos deu uma passo importante para que ela possa, talvez, se tornar realidade no futuro.
Em um experimento na Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh (EUA), uma máquina de ressonância magnética ligada a um computador com um banco de dados de textos conseguiu identificar palavras que eram pensadas por pessoas. O experimento está descrito na última edição da revista "Science" (www.sciencemag.org).
Não é a primeira vez que os cientistas conseguem mapear o padrão de ativação cerebral -mostrar quais neurônios do cérebro se tornam mais ativos- em reação a determinadas palavras. Desta vez, porém, os pesquisadores deram um passo além. Um programa de computador conseguiu prever como seria o padrão de ativação em reação a palavras que nunca haviam sido pensadas por ninguém dentro do aparelho de ressonância magnética.
No experimento, realizado com nove voluntários, a maior parte da memória do computador era alimentada apenas com um banco de dados de textos -contendo centenas de milhões de frases. O software usado no experimento sabia -por meio de experimentos realizados previamente- qual era o padrão de ativação cerebral para apenas 58 palavras, todas substantivos concretos.
Com base nesse conhecimento e em uma programação baseada em critérios sofisticados de lingüística, o computador conseguiu adivinhar com uma precisão de 77% qual seria o padrão de outras duas palavras que seu programa de ressonância magnética não conhecia ainda. O segredo dentro do software, dizem os pesquisadores, é que ele "imita" a maneira com que o cérebro pensa sobre as coisas palpáveis.

Pensamento concreto
"Nós somos fundamentalmente perceptores e atores, então o cérebro representa o significado de um substantivo concreto em áreas cerebrais associadas com a maneira com que as pessoas sentem ou manipulam aquilo", afirma Marcel Just, cientista que liderou o experimento. "O significado de uma maçã, por exemplo, é representado em áreas cerebrais responsáveis por paladar, olfato, mastigação. Uma maça é aquilo que você faz com ela."
O que o software criado pelos cientistas fez, então, foi vasculhar o banco de dados de texto para saber com quais tipos de sensação cada palavra estava mais associada. Sabendo como eram as associações para "maçã", por exemplo, o programa conseguia criar um perfil de significado para "banana".
"Acreditamos ter identificado vários dos tijolos que o cérebro usa para construir significados", diz Tom Mitchell, um dos criadores do programa. Segundo ele, entender como o cérebro codifica a linguagem também ajudará cientistas a entender melhor problemas de cognição como o autismo.
A dificuldade para dar continuidade à pesquisa, agora, é que por enquanto o método só funciona para substantivos concretos. Em comunicado à imprensa, porém, os pesquisadores afirmam que já estão estudando estratégias para identificar substantivos abstratos, adjetivos e até frases simples.


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