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+ Marcelo Gleiser
Buscando vida em Marte
O planeta vermelho sofreu uma mudança climática radical
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As primeiras imagens coloridas
da sonda Phoenix chegaram na
segunda-feira. Após uma viagem iniciada em agosto de 2007, cobrindo 680 milhões de quilômetros, a
espaçonave-robô finalmente pousou
com sucesso na superfície de Marte.
É a sexta missão a pousar no planeta
vermelho, das 12 tentativas até agora.
A operação é um feito tecnológico
simplesmente espetacular. Não só o
pouso ocorreu quase sem problemas
-o pára-quedas abriu sete segundos
mais tarde, afetando em 25 quilômetros o local do pouso-, mas três satélites em torno de Marte voltaram suas câmaras em direção à Phoenix permitindo que pudéssemos ver o pouso.
(Consulte a página da Wikipedia http://en.wikipedia.org/wiki/Phoenix_spacecraft, em inglês, atualizada constantemente).
Quem gosta de brincar com carrinhos e aviões de controle remoto sabe
o quanto é difícil operá-los sem problemas. Imagine programar e operar
uma espaçonave para pousar num planeta a centenas de milhões de quilômetros de distância.
A missão tem dois objetivos principais. O primeiro é estudar a história
geológica do local de pouso, uma região plana no paralelo 68 em direção
ao pólo Norte marciano. Em particular, os vários aparelhos científicos a
bordo da Phoenix foram desenhados
para verificar a existência de água na
subsuperfície e identificar os seus traços. Por exemplo, se água, que hoje está congelada, existiu no passado em estado líquido, sua assinatura pode ser
encontrada por padrões causados pela
erosão das rochas e do solo.
Vários cientistas acreditam que
Marte era bem mais quente no passado, quente o suficiente para que água
líquida existisse em abundância. Possivelmente, Marte passou por uma
mudança climática radical que causou
um severo resfriamento em sua superfície. A memória desse passado está
registrada no solo marciano.
O segundo objetivo da missão é procurar por uma zona habitável entre a
superfície e o gelo subterrâneo. A sonda é dotada de um braço mecânico de
2,35 m com uma escavadeira que pode
obter amostras do subsolo a meio metro de profundidade. Essas amostras
serão analisadas pelo laboratório químico à bordo da sonda, que contêm oito fornos em miniatura (do tamanho de uma carga de caneta) capazes de
aquecer as amostras a 1.000 C, quatro
células de análise química e um espectrômetro de massa, aparelho capaz de
identificar diferentes compostos químicos em uma amostra.
Com isso, cientistas serão capazes
de analisar em detalhe a composição
química do solo e subsolo marciano,
incluindo minerais e compostos orgânicos, se eles existirem. A idéia é executar as experiências por três meses, o tempo de vida da missão. Tudo isso remotamente, da Terra. E ainda tem
gente que acha que não fomos à Lua.
A última tentativa de identificação
de vida em Marte foi com as sondas Viking 1 e 2, em 1976. Elas enviaram fotos fantásticas da superfície marciana, mas nenhum traço de vida. Isso não
chega a ser surpreendente.
Mitos à parte, a superfície de Marte
é extremamente nociva à vida. Temperaturas muito baixas, atmosfera
quase sem oxigênio e, mais importante, doses imensas de radiação, tornam
a possibilidade de vida na superfície
muito remota. Daí a idéia de que se vida existir agora ou tiver existido no
passado, estaria no subsolo.
A missão terá enorme sucesso se encontrar traços químicos dessa vida, ou,
ao menos, a confirmação de água líquida no passado.
De qualquer forma, a desolação que
vemos em Marte nos faz cientes da
preciosidade da vida que temos aqui e
da importância de preservarmos a
nossa bela e frágil casa planetária.
MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "A Harmonia do Mundo"
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