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São Paulo, sexta-feira, 01 de agosto de 2003

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METEOROLOGIA

Camada superior da atmosfera dá pista sobre evolução do clima; outro estudo liga gravidade a terremotos

"Memória" do ar ajuda previsão do tempo

Divulgação Osmar Pinto Júnior/Inpe
Imagem mostra raios incidindo sobre o centro da cidade de São José dos Campos, interior de SP


SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Às vezes as respostas se escondem onde menos se espera encontrá-las. Em estudos divulgados hoje, uma dupla de cientistas percebeu que a gravidade pode ajudar a prever terremotos, e pesquisadores americanos e britânicos constataram que a atmosfera parece possuir uma espécie de "memória" nas regiões mais altas, que pode ser consultada para a realização de previsões de longo prazo sobre o que acontece na parte de baixo do ar terrestre.
Os cientistas acreditam que essa associação entre as duas camadas da atmosfera pode ajudar no aperfeiçoamento do serviço meteorológico para períodos superiores a uma semana, embora não entendam exatamente como a dinâmica atmosférica se desenrola.
O que fez o grupo de Mark Baldwin, da Northwest Research Associates, nos EUA, e Alan O'Neill, da Universidade de Reading, no Reino Unido, foi basicamente correlacionar a movimentação de ar na estratosfera -a camada localizada acima dos 12 km de altitude- a um fenômeno típico da troposfera, a região mais baixa, onde os humanos e outros organismos vivem e respiram.
Com essa correlação estatística, constaram que era muito mais fácil prever a média de temperatura e comportamento das massas de ar durante um mês para um fenômeno conhecido como Oscilação Ártica, típica das altas latitudes do hemisfério Norte. Apesar disso, eles apontam que o método pode servir para muito mais. "O mesmo tipo de previsão estatística está sendo usado para estudar os efeitos de longo prazo do El Niño", afirma Baldwin.
O pesquisador enfatiza, entretanto, que ainda deve continuar sendo impossível prever com exatidão o comportamento atmosférico no dia-a-dia. "Esse é um ponto importante. A precisão completa é impossível. Como a atmosfera é caótica, como o fluir de um rio sobre pedras, mesmo pequenas variações hoje vão provocar um tempo completamente diferente em um mês", diz.
"Previsões do tempo diárias com uma semana de antecedência parecem plausíveis, mas o melhor que podemos esperar para longo prazo -um mês- é a previsão da média do tempo."

Terremotos
O outro estudo, conduzido por dois pesquisadores do Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia), EUA, estabeleceu uma relação entre o campo gravitacional em uma área e a incidência de terremotos. Os dados são baseados em avaliações dos três maiores tremores do século, ocorridos no Chile, em 1960, no Alasca (EUA), em 1964, e em Kamchatka (Rússia), em 1952.
A dupla então descobriu que os grandes terremotos ocorrem predominantemente em regiões nas quais as placas tectônicas estão em choque, com uma delas escorregando por baixo da outra, e a gravidade é mais fraca do que a média terrestre.
"Em termos de previsão, dizemos principalmente que áreas com variações de gravidade positivas não terão grandes terremotos", diz Teh-Ru Alex Song, que realizou o estudo, em parceria com Mark Simons.
Apesar dessa relação, o método é incapaz de apontar quando um terremoto vai ocorrer. "Não podemos fazer essa previsão, mas certamente podemos influenciar a estratégia de construção de prédios em certos lugares", diz Song.
Os dois estudos estão publicados hoje na revista "Science" (www.sciencemag.org).


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