São Paulo, domingo, 01 de setembro de 2002

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Passeatas em bairro miserável de Johannesburgo impõem realidade social sul-africana a reunião da ONU

Protestos retomam a questão da pobreza

CLAUDIO ANGELO
ENVIADO ESPECIAL A JOHANNESBURGO

As ruas de Johannesburgo foram tomadas ontem por milhares de manifestantes, que aproveitaram a Rio +10 para protestar contra a exclusão social, a falta de acesso à terra e as privatizações na África do Sul -e também pelo desenvolvimento sustentável.
Duas passeatas saíram no final da manhã (madrugada em Brasília) de Alexandra, um dos bairros mais pobres, e percorreram 12 km até o Sandton Centre, onde 104 chefes de Estado se reúnem a partir de amanhã para a última etapa da cúpula de Johannesburgo.
Uma delas foi organizada por movimentos sociais como o LPM (o MST sul-africano), criado em 2001 e ligado à Via Campesina, o MSI (Movimentos Sociais Indaba), que reúne diversas organizações civis sul-africanas, e a Frente Antiprivatização. Segundo o LPM, integrantes do MST também participaram da marcha, que reuniu de 15 mil a 20 mil pessoas (estimativa do LPM), ou 5.000 (segundo a polícia).
A outra manifestação (6.000 pessoas, segundo a polícia) foi organizada pelo Congresso Nacional Africano, partido do presidente Thabo Mbeki, pelo Partido Comunista da África do Sul e por uma central sindical governista.
Mbeki, que tem enfrentado críticas internas pela condução do processo de privatização no país, tenta aproveitar a Rio +10 para se aproximar das massas.
Os manifestantes reunidos ontem por seu partido no estádio de Alexandra pediriam aos líderes mundiais -entre os quais o próprio Mbeki- que garantam o cumprimento dos objetivos de redução da pobreza até 2015 previstos na Declaração do Milênio.
Membros do CNA simpatizantes da causa palestina também compareceram, para pedir o fim do "holocausto" promovido por Israel -aliado dos EUA, país do qual Mbeki tenta se aproximar.
A manifestação "oficial" foi organizada depois que os grupos da sociedade civil anunciaram que fariam uma passeata. "As pessoas querem separar o CNA do povo", disse à Folha o governador da província de Gauteng (onde fica Johannesburgo), Sam Shilowa.
Os sem-terra, vindos de várias partes do país e acampados perto do estádio Nasrec (onde acontece o Fórum Global, das ONGs), chegaram a Alexandra entoando canções zulus -etnia majoritária em Johannesburgo. "Shona, malanga, shona" (o sol não vai parar de brilhar), dizia uma delas.
O LPM, que havia realizado protestos antes da cúpula, entrou em acordo com o governo para não bloquear o acesso do Sandton Centre aos chefes de Estado.
Uma das líderes do LPM que haviam sido presas nos protestos da semana passada disse à Folha que o governo esvaziou a passeata, retirando de circulação alguns ônibus que trariam manifestantes. A polícia nega.


O jornalista Claudio Angelo viajou a Johannesburgo a convite da BrasilConnects Cultura e Ecologia


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