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ANÁLISE
"Fazer as pazes" com Ocidente motiva Putin
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
A louvável decisão do presidente Vladimir Putin de anunciar a
intenção da Rússia de ratificar o
Protocolo de Kyoto é política e
denota uma pequena vitória da
ala moderada de seu governo, que
preconiza uma aproximação com
a comunidade internacional, particularmente com a Europa.
Apoiando o documento, o
Kremlin permitirá sua entrada
em vigor. Acima de tudo, todavia,
Putin mostra a seus colegas europeus que a Rússia pretende cumprir seus compromissos internacionais, merecendo, portanto, o
apoio da União Européia à sua
candidatura a membro da Organização Mundial do Comércio.
Ademais, ele vinha sendo criticado internacionalmente por
conta do anúncio de que pretende
realizar uma radical reforma político-institucional no país e da
aprovação, por parte da Duma (a
Câmara Baixa do Parlamento,
controlada por governistas), de
um pacote antiterror que restringe significativamente as liberdades civis e concede superpoderes
às agências de combate ao terror.
Se aprovada, a reforma porá fim
à eleição direta para governadores
regionais e ao voto distrital misto,
estabelecendo um sistema proporcional de listas partidárias que
dificultará o surgimento de personalidades políticas de peso
-opositores ao regime de Putin.
De acordo com o Kremlin, a
medida é necessária para reestruturar a administração russa, que é
alvo hoje de corrupção maciça, e
para fortalecer o combate ao terrorismo. No Ocidente, contudo,
ela é vista como uma tentativa do
presidente de centralizar poder.
No que tange ao Protocolo de
Kyoto, a vitória dos moderados
do governo representou a derrota
de sua ala estritamente economicista, que não vê vantagens na ratificação. Segundo a Academia de
Ciência da Rússia, as receitas da
venda de direitos de emissão de
CO2 não passarão de 400 milhões anuais, uma quantia "irrisória para o Estado", conforme afirmou seu presidente, Yuri Izrael.
Na realidade, o impacto da ratificação sobre a economia russa
ainda não foi calculado exatamente. Mas será difícil para o
Kremlin cumprir sua promessa
de dobrar o total de riquezas produzidas no país em dez anos. Afinal, sendo compelida a adaptar
suas estruturas produtivas às exigências do protocolo e a controlar
seus níveis de emissão de gases, a
Rússia terá gastos adicionais, o
que minará seu crescimento.
Finalmente, Putin teve, de acordo com a ONU e com ambientalistas, uma atitude de "estadista"
ao salvar um acordo que estava à
beira da morte -cujos benefícios
são irrefutáveis, embora ainda insuficientes. Nada mal, no plano
pessoal, para quem vinha sendo
chamado de "antidemocrático".
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