Cientistas farão perfuração de 150 m no gelo para estudar mudança do clima

MARCELO LEITE
COLUNISTA DA FOLHA

A primeira expedição científica brasileira ao interior da Antártida chegou a seu ponto de destino na madrugada de sábado. O grupo de sete pesquisadores brasileiros e um chileno voou num avião-cargueiro Ilyushin-75 da empresa Antarctic Logistics and Expedition até Patriot Hills, 2.000 km além da estação brasileira Comandante Ferraz na península Antártica.
O acampamento que servirá como base para explorar a região já está pronto. "Chegamos aqui à 0h, e o trabalho de montagem terminou por volta de 5h30", disse à Folha o geofísico Heitor Evangelista, em conversa por telefone via satélite. "Agora temos apenas de fazer alguns ajustes e montar um pequeno abrigo remoto."
Os pesquisadores, liderados pelo glaciologista Jefferson Simões, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, farão perfurações no manto antártico para retirar os chamados testemunhos. São cilindros de gelo cuja composição química fornece pistas sobre o clima de outras eras, uma ferramenta importante para pesquisadores entenderem a mudança climática e projetarem o futuro do aquecimento global.
Esses indícios se encontram em microbolhas de ar aprisionadas na neve que, ao cair durante séculos e milênios, acumula um registro da atmosfera do passado. Com o passar do tempo, esses vestígios ficam selados na neve, que se compacta em forma de gelo. Quanto mais fundo vai o cilindro obtido, mais antigo é o ar aprisionado.
Mesmo antes de completar ajustes do acampamento, os cientistas já começaram a montar equipamentos de pesquisa. "Estamos dividindo o trabalho para que tudo vá muito rápido, porque pegamos uma boa condição de tempo quando chegamos", diz Evangelista. O grupo quer escavar um testemunho de 150 m de profundidade no monte Johns, a 400 km do acampamento.