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HIDRODINÂMICA
Estudo da Unicamp ajuda a aperfeiçoar movimento de líquidos
Gota "batizada" melhora transporte
RICARDO BRANDT
DAS REGIONAIS
A reação da água ao impacto de
uma gota (fenômeno conhecido
entre pesquisadores como
"splash") está sendo utilizada por
pesquisadores do Instituto de
Química da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) para
estudar o emprego de polímeros
-nome genérico de compostos
caracterizados pela repetição de
moléculas fundamentais- na redução do atrito hidrodinâmico.
As aplicações do estudo dizem
respeito principalmente à economia de energia e à otimização de
sistemas de bombeamento de líquidos a longa distância, como
ocorre no caso de oleodutos e de
irrigadores agrícolas.
O atrito hidrodinâmico é provocado pela fricção entre as moléculas de um líquido em deformação (no caso, em movimentação).
Esse atrito provoca a perda de
energia, o que leva o líquido a se
desacelerar e a parar, voltando a
seu estado de repouso assim que a
energia aplicada for totalmente
dissipada.
Com a adição de polímeros
(substâncias de alta massa molecular), a deformação do líquido
pode ser prolongada. Na prática,
essas substâncias permitem um
uso menor de energia para impulsionar um líquido, pois reduzem
o atrito entre as suas moléculas.
Os polímeros são usados também em navios e em cascos de
torpedos para diminuir o atrito
com a água.
Petróleo e irrigação
Segundo o coordenador da pesquisa, o físico-químico Edvaldo
Sabadini, 41, um dos exemplos
clássicos da aplicação dos polímeros envolve o bombeamento de
petróleo por 1.287 quilômetros
entre as baías de Prudhoe e Valdez, no Alasca, onde se consegue
uma redução de 20% no uso da
energia aplicada.
No caso do uso agrícola, o alcance dos jatos d'água lançados
pelos irrigadores é bem superior
quando há a adição dos polímeros. "Nesses casos [uso agrícola],
os polímeros precisam ser biocompatíveis e não podem gerar
problemas ambientais. No entanto, há diversos tipos de polímeros
que podem ser usados."
Os estudos, financiados pela Fapesp (Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo)
e pelo CNPq (Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico), foram publicados
nas revistas "The Journal of
Physical Chemistry", neste mês, e
"Experiments in Fluids", no final
do ano passado.
Os estudos foram iniciados na
Unicamp há seis anos e envolveram financiamento de US$ 10,2
mil por essas agências.
Laboratório
Para verificar as reações da adição dos polímeros aos líquidos
por meio do splash, os pesquisados da Unicamp montaram um
equipamento que reproduz repetidamente, em condições exatas, a
queda de uma gota sobre uma superfície líquida.
A outra parte do estudo foi dedicada a criar um "set" (estúdio)
de filmagem ideal para captar em
close o splash. Segundo o pesquisador, o fenômeno dura por volta
de 0,2 segundo -do momento
em que a gota toca a superfície da
água até ela parar (esse período
não considera a ondulação posterior da água).
O sistema utilizado pelos pesquisadores permite a captação
ampliada do splash em até 10 mil
quadros por segundo.
Essa capacidade de captação
permite a análise exata das quatro
etapas do splash: o momento em
que a gota toca a superfície da
água, a formação de uma espécie
de coroa, o surgimento de uma
cavidade no local que recebeu o
impacto e a formação de um jato
(denominado jato Rayleigh), que
termina por desabar.
O sistema de gravação é ligado a
um computador, no qual as imagens são digitalizadas e catalogadas para análise.
Além da visualização perfeita
dos efeitos provocados pelos polímeros em uma substância líquida
em turbulência, outra das principais contribuições desse estudo
pelo uso do splash, segundo Sabadini, foi a análise da deformação
do líquido sem a influência de paredes, como as de uma tubulação,
que contribuem para a redução
da energia aplicada.
Resultado
"O estudo sobre a aplicação dos
polímeros na redução do atrito
hidrodinâmico é antiga. A novidade do estudo está na utilização
do splash para estudar o fenômeno", disse Sabadini.
Segundo o pesquisador da Unicamp, a presença de polímeros no
líquido utilizado para reprodução
do splash permitiu a formação de
coroas d'água muito mais estruturadas e com um jato d'água
mais alongado, com uma altura
três vezes maior do que a obtida
em água pura.
Segundo Sabadini, a altura do
jato se relaciona com a porcentagem de redução do atrito hidrodinâmico, provocando ganho na
energia gerada pela gota.
"A variação do tipo de formação da coroa e da altura do jato
Rayleigh está relacionada à altura
com que calibramos o aparelho
que solta a gota e ao próprio peso
da gota", afirmou o pesquisador
da Unicamp.
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