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Supercâmera investigará energia escura
Brasileiros e espanhóis estudarão galáxias para entender força misteriosa que acelera a expansão do Universo
Com 1,6 gigapixel, o
detector será acoplado
a telescópio que deve
ser construído perto de
Teruel, na Espanha
SALVADOR NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Astrônomos brasileiros estão construindo a maior câmera do mundo para investigar sinais deixados por ondas sonoras produzidas logo
após o Big Bang, o evento inicial do Universo, há 13,7 bilhões de anos atrás.
Nessas ondas podem estar
algumas das respostas sobre
o enigma da energia escura,
uma estranha força antigravitacional que está provocando a aceleração da expansão do Universo.
O projeto J-PAS (sigla para
Pesquisa da Física do Universo em Aceleração de Javalambre) é uma parceria com
a Espanha e envolve diversas
instituições nacionais. O custo do equipamento a ser fornecido pelo Brasil é de cerca
de US$ 5 milhões, pagos com
financiamentos de Finep, Fapesp e Faperj.
NA SERRA
A câmera será acoplada a
um telescópio com abertura
de 2,5 metros, que está sendo
construído pelos espanhóis
em conjunto com outro menor, de 0,8 metro. Ambos serão instalados num novo observatório, na serra de Javalambre (daí o nome), perto de Teruel, na Espanha.
"As medidas que temos do
sítio, em termos de qualidade
do céu noturno, é que ele é
muito competitivo, o que é
raro na Europa", disse à Folha Laerte Sodré Júnior, pesquisador do IAG (Instituto de
Astronomia, Geofísica e
Ciências Atmosféricas), na
USP, e coordenador científico pelo lado brasileiro.
A finalidade principal desse equipamento é varrer o
céu do hemisfério Norte, para determinar com precisão
onde estão e para onde vão
todas as galáxias.
Para que isso seja possível, é preciso que as imagens
produzidas pelo sistema sejam as mais amplas possíveis. Daí a necessidade de
uma supercâmera, com notáveis 1,6 gigapixel (mais de
cem vezes a resolução das
mais poderosas câmeras digitais comerciais).
O telescópio menor começa a operar ano que vem, enquanto o maior seria inaugurado em 2013.
SONS DA CRIAÇÃO
Nos primeiros 400 mil
anos de vida do Universo, o
cosmos estava iniciando sua
expansão rumo ao gigante
que é hoje. A matéria estava
tão condensada que não havia vastidões de vácuo salpicadas de objetos com massa,
como hoje. As partículas estavam todas dissolvidas e
próximas entre si, num estado conhecido como plasma.
Qualquer mínima perturbação desse plasma geraria o
que os cientistas chamam de
"oscilações acústicas de bárions", o equivalente a ondas
sonoras. Elas se propagariam
até o momento em que o Cosmos estivesse suficientemente expandido para permitir
que ao menos as partículas
de luz viajassem sem freio.
Como essas ondas sonoras
teriam influenciado a distribuição de matéria e energia
até esse ponto, é razoável supor que sinais de sua atuação
surgiriam na atual disposição das galáxias.
Foi o que se observou, de
forma muito sutil, nos dados
da SDSS (Pesquisa Digital do
Céu Sloan), um trabalho anterior. "Mas eles tinham muito menos precisão, pois o levantamento foi feito com
apenas 5 filtros na câmera.
Nós vamos trabalhar agora
com 42", diz Sodré Junior.
Graças a isso, os cientistas
esperam não só detectar os
padrões das ondas sonoras
mas também identificar o papel da energia escura na
composição cósmica. Poderiam, então, dizer se a energia escura sempre esteve em
ação na história do Universo
e também se ela está igualmente distribuída no espaço.
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