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Grupo acha o mais antigo esqueleto de ancestral humano
Ardi, uma fêmea de 4,4 milhões de anos desenterrada na Etiópia, desbanca a célebre Lucy, 1 milhão de anos mais jovem
Espécie habitava floresta e
podia viver tanto no solo
quanto sobre as árvores,
indica série de estudos na
revista científica "Science"
REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL
Com 4,4 milhões de anos,
apenas 1,2 metro e 50 kg, Ardi
não é exatamente uma beldade,
mas antropólogos do mundo
todo já caíram de amores por
ela. O fóssil etíope, que acaba de
ser apresentado à comunidade
científica, é o retrato mais antigo e mais completo dos ancestrais da humanidade.
Ardi destrona outra fêmea
famosa, Lucy, uma Australopithecus afarensis cerca de 1 milhão de anos mais jovem. Até
agora, Lucy era o mais completo exemplar de ancestral primitivo do homem a ser achado.
A nova "moça" sugere um
quadro inesperado sobre as
origens humanas. Não se deixe
iludir pelas semelhanças superficiais: os primeiros hominídeos, como são chamados esses predecessores do homem,
não eram meros chimpanzés,
mas criaturas com anatomia e
hábitos bem distintos dos que
se vê entre os grandes macacos
africanos de hoje.
Os detalhes do corpo de Ardi
e de seus parentes, membros
da espécie Ardipithecus ramidus, mostram que tanto os
chimpanzés quanto a linhagem
humana passaram por grandes
transformações desde que se
separaram. "É exatamente o
que Darwin previu sobre essas
duas linhagens", declarou Tim
White, da Universidade da Califórnia em Berkeley, que coordenou os estudos sobre Ardi.
White e companhia publicam suas conclusões sobre o
fóssil e o ambiente onde vivia
numa coleção de 11 artigos na
revista especializada americana "Science". "É uma realização extraordinária, porque os
fósseis foram achados originalmente em pedacinhos, que tiveram de ser reconstruídos
com a ajuda da última palavra
em computação gráfica", avalia
John Fleagle, paleoantropólogo da Universidade de Stony
Brook (EUA), que comentou a
pesquisa a pedido da Folha.
Esse esforço todo começou
em meados dos anos 1990 e só
terminou agora. Hoje, a equipe
de pesquisa pode afirmar com
confiança que Ardi era uma
primata que, no chão, andava
com duas pernas, mas também
era capaz de escalar árvores e
andar por elas como quadrúpede, apoiando-se nas palmas de
suas mãos e pés. Para conseguir isso, os dedões do pé eram
capazes de agarrar objetos, como os polegares humanos, e as
mãos podiam se voltar bastante para trás, com as palmas para cima, facilitando a tarefa de
se prender aos galhos.
Ao mesmo tempo, porém, a
fêmea e seus parentes não estavam adaptados a ficar se balançando de galho em galho nem
caminhavam apoiados sobre os
nós dos dedos, duas características que definem os chimpanzés. "É uma mudança enorme
diante das visões atuais", diz
Fleagle. "Todo mundo achava
que, quanto mais antigos os
fósseis, mais os hominídeos seriam parecidos com os chimpanzés de hoje", diz ele.
Completando o pacote de
traços inesperados, os dentes
caninos dos machos de A. ramidus são modestos, e o tamanho
deles e das fêmeas é igual, o que
indica uma espécie relativamente pacífica, diferente dos
agressivos chimpanzés.
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