São Paulo, sexta-feira, 02 de outubro de 2009

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Grupo acha o mais antigo esqueleto de ancestral humano

Ardi, uma fêmea de 4,4 milhões de anos desenterrada na Etiópia, desbanca a célebre Lucy, 1 milhão de anos mais jovem

Espécie habitava floresta e podia viver tanto no solo quanto sobre as árvores, indica série de estudos na revista científica "Science"


REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL

Com 4,4 milhões de anos, apenas 1,2 metro e 50 kg, Ardi não é exatamente uma beldade, mas antropólogos do mundo todo já caíram de amores por ela. O fóssil etíope, que acaba de ser apresentado à comunidade científica, é o retrato mais antigo e mais completo dos ancestrais da humanidade.
Ardi destrona outra fêmea famosa, Lucy, uma Australopithecus afarensis cerca de 1 milhão de anos mais jovem. Até agora, Lucy era o mais completo exemplar de ancestral primitivo do homem a ser achado.
A nova "moça" sugere um quadro inesperado sobre as origens humanas. Não se deixe iludir pelas semelhanças superficiais: os primeiros hominídeos, como são chamados esses predecessores do homem, não eram meros chimpanzés, mas criaturas com anatomia e hábitos bem distintos dos que se vê entre os grandes macacos africanos de hoje.
Os detalhes do corpo de Ardi e de seus parentes, membros da espécie Ardipithecus ramidus, mostram que tanto os chimpanzés quanto a linhagem humana passaram por grandes transformações desde que se separaram. "É exatamente o que Darwin previu sobre essas duas linhagens", declarou Tim White, da Universidade da Califórnia em Berkeley, que coordenou os estudos sobre Ardi.
White e companhia publicam suas conclusões sobre o fóssil e o ambiente onde vivia numa coleção de 11 artigos na revista especializada americana "Science". "É uma realização extraordinária, porque os fósseis foram achados originalmente em pedacinhos, que tiveram de ser reconstruídos com a ajuda da última palavra em computação gráfica", avalia John Fleagle, paleoantropólogo da Universidade de Stony Brook (EUA), que comentou a pesquisa a pedido da Folha.
Esse esforço todo começou em meados dos anos 1990 e só terminou agora. Hoje, a equipe de pesquisa pode afirmar com confiança que Ardi era uma primata que, no chão, andava com duas pernas, mas também era capaz de escalar árvores e andar por elas como quadrúpede, apoiando-se nas palmas de suas mãos e pés. Para conseguir isso, os dedões do pé eram capazes de agarrar objetos, como os polegares humanos, e as mãos podiam se voltar bastante para trás, com as palmas para cima, facilitando a tarefa de se prender aos galhos.
Ao mesmo tempo, porém, a fêmea e seus parentes não estavam adaptados a ficar se balançando de galho em galho nem caminhavam apoiados sobre os nós dos dedos, duas características que definem os chimpanzés. "É uma mudança enorme diante das visões atuais", diz Fleagle. "Todo mundo achava que, quanto mais antigos os fósseis, mais os hominídeos seriam parecidos com os chimpanzés de hoje", diz ele.
Completando o pacote de traços inesperados, os dentes caninos dos machos de A. ramidus são modestos, e o tamanho deles e das fêmeas é igual, o que indica uma espécie relativamente pacífica, diferente dos agressivos chimpanzés.


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