São Paulo, segunda-feira, 02 de novembro de 2009

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Acordo do clima entra na reta final hoje

Reunião em Barcelona tenta avançar e amenizar impasses, mas tratado final em Copenhague é virtualmente impossível

Brasil deve dar impulso à negociação anunciando amanhã ao menos 26% de corte de CO2; para Inpe, país fica em posição "favorável"

Alberto Estevez/Efe
SEM DEIXAR CAIR
Manifestantes em ato que reuniu cerca de mil pessoas anteontem em Barcelona pedem dos governosmudanças estruturais para combater as mudanças climáticas; para ONGs, clima de pessimismo instaurado pode contribuir para o fracasso de Copenhague

CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA

Com a esperança de um acordo final virtualmente sepultada, representantes de quase 180 países iniciam hoje em Barcelona, Espanha, a última rodada de negociações antes da conferência do clima de Copenhague, em dezembro.
Os diplomatas têm diante de si duas tarefas difíceis. A primeira é avançar na produção do texto do novo acordo do clima a partir de um rascunho repleto de propostas concorrentes e pontos sem consenso.
A segunda é tentar atenuar as divisões profundas entre países ricos e pobres, que se agravaram durante a última reunião de negociações, no mês passado, em Bancoc, Tailândia.
A reunião de Bancoc acabou sem nenhuma sinalização sobre dois pontos fundamentais: quanto dinheiro os países ricos colocarão na mesa para financiar o combate ao aquecimento global nos países em desenvolvimento; e quanto eles se dispõem a cortar nas próprias emissões até 2020.
Para piorar, as nações ricas têm defendido a extinção do Protocolo de Kyoto e sua substituição pelo novo acordo, o que só serviu para aumentar a desconfiança dos países pobres.
Ao longo das últimas semanas, líderes mundiais têm reconhecido que é fisicamente impossível que o acordo do clima, considerado o tratado mais complexo da história das relações internacionais, possa ser concluído em Copenhague.
"É realista dizer que não conseguiremos concluir um tratado, mas é importante termos um arcabouço político que seja a base do tratado", disse na última sexta-feira a chanceler da Alemanha, Angela Merkel.
Na semana passada, a União Europeia deu um passo adiante, concordando em adotar um fundo de US$ 150 bilhões por ano para financiar os países pobres. A UE, porém, não disse com quanto contribuiria.
Nesta semana, é o Brasil quem deve ajudar a atenuar o impasse. Espera-se que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anuncie amanhã qual será a meta brasileira de redução de emissões até 2020. O anúncio do Brasil pode ajudar a destravar Barcelona. Somado aos compromissos já declarados de grandes poluidores pobres como China e Indonésia, deve pressionar os países ricos a aumentarem suas ambições.

26%
A proposta brasileira deve ser uma redução de pelo menos 26% nas emissões em 2020 em relação à tendência atual. Esse desvio seria obtido reduzindo o desmatamento na Amazônia em 80%, conforme estabelecido no Plano Nacional de Mudança Climática, de 2008.
O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, vem propondo que o corte seja de 35% a 40%, mas enfrenta resistências.
O Ministério da Ciência e Tecnologia diz que não há estudos sólidos para embasar a proposta de Minc. "Não há dados sobre como reduzir 40% de nossas emissões em 2020", disse Gilberto Câmara, diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Segundo Câmara, porém, mesmo essa meta mais modesta deixa o Brasil numa posição favorável. "Ela equivale a 20% de tudo o que os países ricos anunciaram até agora."
Além disso, argumenta, o compromisso de redução do desmatamento amazônico vai requerer uma "reconversão" da atividade agropecuária que "vai gerar um efeito cascata", beneficiando potencialmente o cerrado -cujas emissões são hoje equivalentes às da Amazônia.


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