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Acordo do clima entra na reta final hoje
Reunião em Barcelona tenta avançar e amenizar impasses, mas tratado final em Copenhague é virtualmente impossível
Brasil deve dar impulso à
negociação anunciando
amanhã ao menos 26% de corte de CO2; para Inpe, país fica em posição "favorável"
Alberto Estevez/Efe
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SEM DEIXAR CAIR
Manifestantes em ato que reuniu cerca de mil pessoas anteontem em Barcelona pedem dos governosmudanças estruturais para combater as mudanças climáticas; para ONGs, clima de pessimismo instaurado pode contribuir para o fracasso de Copenhague
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Com a esperança de um acordo final virtualmente sepultada, representantes de quase
180 países iniciam hoje em Barcelona, Espanha, a última rodada de negociações antes da conferência do clima de Copenhague, em dezembro.
Os diplomatas têm diante de
si duas tarefas difíceis. A primeira é avançar na produção
do texto do novo acordo do clima a partir de um rascunho repleto de propostas concorrentes e pontos sem consenso.
A segunda é tentar atenuar as
divisões profundas entre países
ricos e pobres, que se agravaram durante a última reunião
de negociações, no mês passado, em Bancoc, Tailândia.
A reunião de Bancoc acabou
sem nenhuma sinalização sobre dois pontos fundamentais:
quanto dinheiro os países ricos
colocarão na mesa para financiar o combate ao aquecimento
global nos países em desenvolvimento; e quanto eles se dispõem a cortar nas próprias
emissões até 2020.
Para piorar, as nações ricas
têm defendido a extinção do
Protocolo de Kyoto e sua substituição pelo novo acordo, o que
só serviu para aumentar a desconfiança dos países pobres.
Ao longo das últimas semanas, líderes mundiais têm reconhecido que é fisicamente impossível que o acordo do clima,
considerado o tratado mais
complexo da história das relações internacionais, possa ser
concluído em Copenhague.
"É realista dizer que não conseguiremos concluir um tratado, mas é importante termos
um arcabouço político que seja
a base do tratado", disse na última sexta-feira a chanceler da
Alemanha, Angela Merkel.
Na semana passada, a União
Europeia deu um passo adiante, concordando em adotar um
fundo de US$ 150 bilhões por
ano para financiar os países pobres. A UE, porém, não disse
com quanto contribuiria.
Nesta semana, é o Brasil
quem deve ajudar a atenuar o
impasse. Espera-se que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
anuncie amanhã qual será a
meta brasileira de redução de
emissões até 2020. O anúncio
do Brasil pode ajudar a destravar Barcelona. Somado aos
compromissos já declarados de
grandes poluidores pobres como China e Indonésia, deve
pressionar os países ricos a aumentarem suas ambições.
26%
A proposta brasileira deve
ser uma redução de pelo menos
26% nas emissões em 2020 em
relação à tendência atual. Esse
desvio seria obtido reduzindo o
desmatamento na Amazônia
em 80%, conforme estabelecido no Plano Nacional de Mudança Climática, de 2008.
O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, vem propondo
que o corte seja de 35% a 40%,
mas enfrenta resistências.
O Ministério da Ciência e
Tecnologia diz que não há estudos sólidos para embasar a proposta de Minc. "Não há dados
sobre como reduzir 40% de
nossas emissões em 2020", disse Gilberto Câmara, diretor do
Inpe (Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais).
Segundo Câmara, porém,
mesmo essa meta mais modesta deixa o Brasil numa posição
favorável. "Ela equivale a 20%
de tudo o que os países ricos
anunciaram até agora."
Além disso, argumenta, o
compromisso de redução do
desmatamento amazônico vai
requerer uma "reconversão" da
atividade agropecuária que "vai
gerar um efeito cascata", beneficiando potencialmente o cerrado -cujas emissões são hoje
equivalentes às da Amazônia.
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