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CLIMA
Estudo sugere que ações humanas, como emissão de gases-estufa, dobram possibilidade de evento climático extremo
Homem é responsável por onda de calor
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Uma pesquisa publicada hoje
na revista britânica "Nature"
(www.nature.com) sustenta o
que muita gente já desconfiava:
ações humanas, como a emissão
de gases-estufa, pelo menos duplicam as chances de surgimento
de ondas de calor como a que matou milhares na Europa em 2003.
A relação entre atividades humanas e mudanças climáticas catastróficas povoava a mente dos
climatologistas antes mesmo do
episódio europeu (que teria levado 14 mil pessoas à morte só na
França). Provar era outra história.
Peter Stott, da Universidade de
Reading, e Daithi Stone e Myles
Allen, da Universidade de Oxford,
todos no Reino Unido, descobriram uma forma de juntar os dois
fatores com 90% de confiabilidade. Eles rodaram em computador
um modelo climático que simula
quais seriam as temperaturas no
verão europeu com e sem atividades humanas, como a queima de
combustíveis fósseis, com base
em registros desde 1851.
"A onda de calor poderia ter
uma origem natural. Porém, o
que vimos é que as chances de ela
aparecer dobram quando inserimos a ação do homem no contexto", disse Stott à Folha.
A análise também sugere que,
nos anos 2040, pelo menos metade dos verões será mais quente do
que o registrado no ano passado
-e que, lá no final do século, a estação quente de 2003 será considerada até amena.
Em agosto, outro estudo, publicado na revista "Science" (www.sciencemag.org), mostrou que as
ondas de calor vão se tornar mais
freqüentes, longas e quentes até
2080. Usando um modelo climático diferente, pesquisadores do
NCAR (Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica), dos Estados
Unidos, mostraram que o evento
terá 14 dias em média (hoje, dura
6 dias em média) e que ocorrerá
duas vezes ao ano a partir de 2080.
"O impacto", diz Stott, "será
sentido em mortes extras, incêndios florestais e grande abalo em
plantações." Só em 2003, a agricultura européia sofreu um prejuízo de US$ 12,3 bilhões por causa das temperaturas altas.
Ondas de calor são causadas
quando há um "bloqueio" na atmosfera que impede a chegada da
umidade a determinado local.
Um dos bloqueios pode ser uma
elevação da pressão, com origem
natural ou causada por gases-estufa. Os dias são claros e quentes e
as noites são menos frescas, mantendo a temperatura elevada.
Dois artigos acompanham o estudo de Stott na "Nature". No primeiro, os climatologistas Christoph Schär, da Suíça, e Gerd Jendritzky, da Alemanha, pedem que
mais pesquisas do gênero sejam
feitas para corroborar a tese.
Contudo, eles admitem que os
novos dados são um "grande passo" na direção de traçar quais são
as chances de eventos meteorológicos tomarem dimensões catastróficas por causa do homem.
No segundo artigo, o mesmo
Myles que assina a pesquisa com
Stott questiona, ao lado do advogado Richard Lord, as implicações legais dos resultados. Estabelecer um vínculo de causa e efeito
pode abrir espaço para governos e
organizações serem responsabilizados pelo aquecimento global.
"Seja qual for a temperatura na
Europa no próximo verão, podemos ter certeza de que o argumento sobre quem paga pelo custo da mudança climática chegou
para ficar", dizem Myles e Lord.
Doug Parr, da ONG ambientalista Greenpeace, afirma que o estudo pode ser o início de ações legais contra o que chama de "vilões do clima": "Assim como a indústria do cigarro, os grandes poluidores poderiam encarar grandes processos. Os poluidores deveriam saber que, se ignoram argumentos morais, a responsabilidade legal pode atingi-los".
(CRISTINA AMORIM)
Com "The Independent"
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