São Paulo, domingo, 03 de janeiro de 2010

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Resistência se inspira no MST e recebe apoio de ministérios

DO ENVIADO A ALCÂNTARA

Para convencer os quilombolas a não deixarem suas terras, há dez anos foi criado o Mabe (Movimento dos Atingidos pela Base Espacial). Desde a fundação, os coordenadores fazem seminários nas comunidades quilombolas -Alcântara tem por volta de 150. A Folha acompanhou um dos eventos.
A inspiração, diz Sérvulo Borges, o Borjão, líder do Mabe, são as oficinas que o MST faz com os seus membros. "O MST é um grande parceiro, inclusive em formação política."
Falando para 50 pessoas, outro participante questionou se é justo que "esses empresários [a ACS] ganhem dinheiro às nossas custas". "Estamos em guerra", disse Borjão aos quilombolas que assistiam.

Dois lados
O material do evento vem com os logotipos da Secretaria Especial dos Direitos Humanos e do governo federal. Questionado sobre como o movimento consegue se bancar, Borjão afirma que conta com a ajuda de Brasília. Ele divide o governo em duas metades: a que apoia os projetos do Mabe (ministérios da Cultura, do Meio Ambiente, do Desenvolvimento Agrário) e a que não é amigável (ministérios da Defesa e da Ciência e Tecnologia).
Os mais novos são incentivados pelo Mabe a estudar. Borjão lamenta o fato de os jovens das comunidades quilombolas receberem ensino básico tão ruim. Por isso, afirma ele, não conseguiu preencher as vagas que tinha conseguido via MST para enviar estudantes para Cuba e Venezuela. Um deles, entretanto, foi mandado para Goiás, por meio da Via Campesina, para cursar direito.
No seminário, um dos que falam ao microfone diz aos jovens: "Se você quer ter algo, se quer ter emprego, precisa estudar". Em seguida, outro discorda: "Quem disse que devemos procurar patrão? Quem disse que devemos trabalhar para eles [se referindo ao Centro de Lançamentos de Alcântara]?"
Carlos Ganem, presidente da AEB, tem procurado reverter a resistência quilombola com um discurso de inclusão social. "Desenvolvendo o setor aeroespacial você não promove só o desenvolvimento técnico e tecnológico", diz. "Você proporciona um extraordinário mecanismo de alavancagem social, cultural, educacional, turística e comercial também, para chegar ao espacial." (RM)


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