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ONG tentou subornar cientista para questionar IPCC, diz jornal
DA REDAÇÃO
No dia em que o IPCC divulgou seu relatório sobre aquecimento global, o jornal britânico
"The Guardian" publicou reportagem que diz que um grupo de lobby ligado à administração Bush pagou a cientistas
e economistas para que minimizassem o impacto do texto.
Segundo o jornal, o AEI
(American Enterprise Institute), financiado pela petrolífera
ExxonMobil, a maior do mundo, ofereceu pagamentos individuais de US$ 10 mil para artigos que enfatizassem os defeitos do relatório.
O AEI recebeu mais de US$
1,6 milhão da Exxon e mais de
20 de seus integrantes já trabalharam como consultores da
administração do presidente
dos EUA, George W. Bush. O vice-presidente do conselho de
gestão do instituto, Lee Raymond, já comandou a Exxon.
Em cartas enviadas a cientistas nos EUA, no Reino Unido e
em outros países, o AEI define
o painel da ONU como "resistente à crítica construtiva e
tendencioso a tomar conclusões que têm pouca sustentação em trabalho de análise". As
cartas pedem artigos que explorem as limitações dos modelos climáticos do relatório.
"Valioso"
Em Washington, procurado
pela imprensa para comentar o
relatório do IPCC, o presidente
George W. Bush se pronunciou
por meio de seu porta-voz Tony
Fratto, que classificou o documento de "valioso" com "conclusões significativas".
"Esse informe contribuirá
para o conjunto de conhecimentos que temos para estudar
e compreender a melhor maneira de reagir aos desafios da
mudança climática", afirmou
Fratto. O porta-voz lembrou na
entrevista que Bush prometeu
um corte no consumo de gasolina de 20%, apesar de o país
ainda se recusar a assinar qualquer acordo internacional.
"Somos um contribuinte pequeno se você olhar para o resto do mundo", disse o secretário de energia dos EUA, Sam
Bodman, minimizando a recusa do país ao Protocolo de Kyoto. Ele não criticou, porém, o
relatório do IPCC. "Estamos felizes com ele. Nós aceitamos e
concordamos com ele."
"Egoísmo"
Em Paris, entretanto, o tom
ontem foi outro.
"Em face dessa urgência, não
é mais hora de meias-medidas.
É hora de uma revolução." Com
essa declaração, o presidente
francês Jacques Chirac resumiu como deve ser encarado o
novo relatório do IPCC.
"Por que somos tão lentos
em tomar as medidas necessárias?", perguntou a si próprio,
em discurso. "Porque, com
egoísmo nos recusamos a reconhecer as conseqüências."
Chirac já havia criticado a
inação dos EUA a respeito do
problema. Segundo ele, é "inevitável" a perspectiva que produtos americanos têm para o
futuro no mercado europeu: incidência de impostos sobre a
emissão de carbono.
Pessimismo extra
Entre cientistas que comentaram o novo relatório, alguns
se declararam mais pessimistas
do que o IPCC. "Acho que há
espaço para uma elevação de
até 6C", disse à Folha James
Lovelock, ícone do ambientalismo que tem defendido a
energia nuclear como forma de
evitar a emissão de carbono.
"Não há mais como evitar isso
neste século."
Meinrat Andreae, biogeoquímico do Instituto Max Planck,
também disse que o limite de
dúvida deve ser ampliado para
cima. "Acho que há muita incerteza, particularmente no
que se refere ao derretimento
de plataformas de gelo", disse.
Para o secretário-geral do
Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente, Achim
Steiner, é hora de ampliar Kyoto. "É mais urgente do que
nunca que a comunidade internacional entre em negociações
sérias para um novo tratado
mundial abrangente para deter
o aquecimento global", disse.
Com agências internacionais
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