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Nutrição da violência
A comida de má qualidade torna as pessoas mais agressivas?
Um estudo em prisões britânicas vai investigar essa questão
JEREMY LAURANCE
DO "INDEPENDENT"
Alguns dos presidiários jovens britânicos mais problemáticos receberão doses diárias de suplementos alimentares com a intenção de que seu comportamento agressivo diminua.
Cientistas da Universidade
de Oxford afirmam que o efeito
da nutrição sobre a conduta
tem sido subestimado. Eles
afirmam que o aumento no
consumo de comida mal balanceada ("junk food") é em parte
responsável pelo aumento dos
índices de violência nos últimos 50 anos.
A universidade vai liderar
um estudo com custo estimado
de US$ 2,7 milhões no qual mil
homens com idades entre 16 e
21 anos de três instituições para jovens infratores na Inglaterra e na Escócia serão escolhidos aleatoriamente para receber suplementos de vitaminas e minerais ou placebos,
acompanhados durante um período de 12 meses.
Em um estudo piloto com
231 prisioneiros feito pelos
mesmos pesquisadores, publicado em 2002, incidentes violentos durante o período de
custódia caíram em mais de
um terço entre aqueles que receberam os suplementos.
"Se for possível uma projeção a partir desses resultados,
talvez vejamos uma redução de
um terço a um quarto em uma
prisão", diz John Stein, professor de fisiologia da Universidade de Oxford. "Seria possível
reduzir os ataques violentos
em uma comunidade em um
terço. Isso traria um enorme
benefício econômico."
O cientista acrescenta: "Nossas descobertas iniciais indicaram que melhorar o que as pessoas podem comer as leva a se
comportar de modo mais sociável e também melhora sua
saúde. Isso não é algo levado
em conta atualmente nos planejamento nutricional de dietas. Não estamos dizendo que a
nutrição é a única influência
sobre o comportamento, mas
aparentemente nós estávamos
subestimando bastante a sua
importância."
Mark Walport, chefe do
Wellcome Trust, que está financiando o estudo de três
anos, diz: "Se esse estudo mostrar que os suplementos nutricionais afetam o comportamento, isso pode ter uma importância profunda para diretrizes nutricionais, não apenas
no sistema judiciário criminal
mas na comunidade mais ampla e em escolas, por exemplo.
Temos o costume de pensar em
diretrizes de dieta para nossa
saúde física, mas esse estudo
pode levar a repensá-las, considerando nossa saúde mental".
A teoria por trás do teste é
que quando o cérebro está carente de alguns nutrientes essenciais -especialmente os
ácidos graxos da classe ômega
3, que são um "tijolo" molecular fundamental para a construção de neurônios- ele perde a "flexibilidade". Isso debela
a capacidade de atenção e prejudica o autocontrole. Mesmo
quando a comida de cadeia é
nutritiva, prisioneiros tendem
a fazer escolhas pouco saudáveis e precisam de suplementos, dizem os pesquisadores.
Bernard Gesch, pesquisador
sênior no departamento de fisiologia e diretor da Natural
Justice, entidade filantrópica
que investiga as causas de
agressões, afirma que os prisioneiros deveriam receber suplementos contendo 100% da dose diária recomendada de mais
de 30 vitaminas e minerais,
mais três cápsulas de óleo de
peixe, totalizando 2,25 gramas
acima de sua dieta normal.
"Estamos tentando reabilitar o cérebro para a justiça criminal", diz. "A lei assume que o
crime é um ato de livre arbítrio.
Mas você não pode exercer o livre arbítrio sem usar seu cérebro, e o cérebro não pode funcionar adequadamente sem
um suprimento de nutrientes
adequado."
"Essa é uma abordagem positiva para prevenir problemas
de comportamento anti-social
e criminal. É simples, parece
ser altamente efetiva e o único
"risco" de uma dieta melhor é
uma saúde melhor. É uma rara
situação de ganho de mão dupla na justiça criminal."
O Ministério da Justiça britânico está apoiando o estudo
de três anos, que vai começar
em maio. David Hanson, ministro do sistema penal, diz que
espera que ele possa ajudar a
esclarecer melhor a ligação entre nutrição e comportamento.
A Agência de Padronização
de Alimentos do Reino Unido,
de qualquer forma, afirma que
não há evidência suficiente
mostrando danos causados por
suplementos de vitaminas, minerais ou óleo de peixe.
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