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ASTROFÍSICA
Corpo entre a Terra e o centro galáctico emitiu cinco pulsos de rádio em 2002 e depois nunca mais foi visto
Objeto desconhecido intriga astrônomos
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os cientistas operavam o conjunto de radiotelescópios, apontando-o na direção do centro da
Via Láctea, quando captaram um
forte disparo em uma freqüência
de rádio. O sinal permaneceu forte por dez minutos. Então sumiu.
Voltou 77 minutos depois. O fenômeno se repetiu outras quatro
vezes durante a sessão de observação, sempre com intervalos de
77 minutos. Depois parou. Ao
analisar os dados os cientistas
chegaram à conclusão de que não
tinham a menor idéia do que estavam vendo. O relato, em "cientifiquês", está na edição de hoje do
periódico britânico "Nature"
(www.nature.com).
O grupo é liderado por Scott D.
Hyman, do Sweet Briar College,
nos EUA. E eles sugerem que descobriram um objeto de um tipo
até então desconhecido, embora
ainda haja dúvidas quanto a isso.
Um dos elementos da polêmica
é a quantidade de incerteza na
pesquisa. Para começar, é preciso
descobrir exatamente a distância
do objeto à Terra. O grupo não
conseguiu fazer isso, mas imagina
que ele deve estar perto do centro
da galáxia -para onde eles haviam apontado o radiotelescópio.
No entanto, há um longo caminho até lá, cerca de 24 mil anos-luz (um ano-luz equivale à distância que a luz percorre ao longo de
um ano, cerca de 9,5 trilhões de
quilômetros). Então é possível
que o corpo esteja simplesmente
em algum ponto entre a Terra e o
centro galáctico, mas não necessariamente mais perto do centro.
Caso esteja mesmo longe, ele será
com folga a mais poderosa fonte
emissora de rádio já vista.
Pulsar
A rigor, o comportamento do
objeto se parece com o de um pulsar binário -uma estrela que explodiu, entrou em colapso e aí
passou a canibalizar sua vizinha.
Ao "comer" o invólucro gasoso
da estrela companheira, o pulsar
ganha um disco de destroços ao
seu redor que emite grandes
quantidades da raios X. A principal diferença seria que, nesse caso, os pulsos não seriam de raios
X, mas de rádio. Com essa semelhança, a polêmica já está se instalando. É mesmo um novo objeto?
Se não for, certamente é um velho conhecido se comportando de
uma maneira nunca vista antes.
As observações, feitas pelo Very
Large Array, conjunto de radiotelescópios no Novo México (EUA),
ocorreram entre 30 de setembro e
1º de outubro de 2002. "Ele não foi
detectado novamente desde 2002
e também não está presente nas
imagens anteriores", disse
Hyman, em comunicado. "Nós
acertamos em cheio!"
Nem todo mundo se anima desse jeito. "Em nossa opinião, a afirmação de que é uma nova classe é
plausível, mas não indubitável",
escreveram Shri Kulkarni e Sterl
Phinney, do Caltech (Instituto de
Tecnologia da Califórnia), em comentário publicado na mesma
edição da "Nature". "Os pulsos
poderiam ainda ser emissão incoerente de uma estrela binária
com acreção."
De toda maneira, o melhor modo de resolver a polêmica é identificar mais exemplares de fontes de
pulsos de rádio parecidas com a
recém-descoberta. É exatamente
o que o grupo de Hyman pretende fazer a partir de agora. Eles esperam encontrar várias fontes similares no futuro. "Há muita coisa sobre objetos que emitem raios
X, mas muito pouco foi pesquisado até agora sobre fontes intermitentes de rádio como essa", disse
Joseph Lazio, do Laboratório de
Pesquisa Naval, em Washington,
co-autor do estudo.
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