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Governo pode rever plano de instituto para células-tronco
JOHANNA NUBLAT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal pode ter
que mudar os planos que tem
para as pesquisas com células-tronco no país caso o STF decida, na quarta-feira, proibir o
uso de embriões em estudos.
Há previsão de apresentar,
este ano, um novo edital para
pesquisas com célula-tronco e
de se criar o Instituto Nacional
de Terapia Celular, que reuniria virtualmente os grupos de
pesquisa do setor e teria estrutura de laboratórios para desenvolvimento de linhagens de
células-tronco brasileiras.
"Se a decisão do Supremo for
desfavorável, vamos ter de rever o projeto do instituto, porque uma das coisas importantes é a derivação de linhagens
de células-tronco embrionárias
brasileiras", afirma Reinaldo
Guimarães, secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério
da Saúde. Ele nega, porém, a
possibilidade de o instituto não
ser criado mesmo com a proibição da pesquisa pelo STF.
"Obscurantismo"
Ainda não há orçamento definido para o novo edital, segundo Guimarães. De 2005 até
hoje, os ministérios da Saúde e
da Ciência e Tecnologia gastaram R$ 24,5 milhões no financiamento de 45 pesquisas com
células-tronco -adultas e embrionárias- e um estudo com
1.200 pacientes -usando células adultas da própria pessoa.
Coordenador de um dos 45
projetos do edital de 2005, o
pesquisador Stevens Rehen, da
UFRJ (Universidade Federal
do Rio de Janeiro), classifica a
possível proibição do uso de
embriões em pesquisas como
"volta ao obscurantismo".
"Essa é uma discussão em
que o viés não é totalmente
científico. Você não pode, pela
fé, definir estratégias que podem vir a ter um impacto importante na saúde", disse.
Mas nem todos os que trabalham com células-tronco no
país são favoráveis ao uso de
embriões. A também pesquisadora Lilian Piñero Eça, presidente do IPCTron (Instituto de
Pesquisas de Células-tronco),
se diz contra a utilização de embriões por motivos estritamente técnicos. Segundo ela, diferentemente das células-tronco
embrionárias, as células adultas (tiradas de outros tecidos)
já mostraram seu potencial.
"Como pesquisador, a gente
quer pegar uma célula e quer
que ela tenha viabilidade de dar
certo. A gente não vai perder
tempo, dinheiro e esforço numa célula que dá problemas. E
hoje não temos protocolos
[procedimentos publicados]
para saber lidar com a célula
embrionária", afirmou.
Eça é membro do Movimento Nacional em Defesa da Vida
-Brasil sem Aborto. No ano passado, descobriu-se que ela "inflara" seu currículo ao declarar
que era bolsista da Fapesp
(Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo)
sem ter bolsa aprovada. Ela negou que tenha agido com má-fé
e atribuiu o fato a um "erro".
Longo prazo
Guimarães diz que, tanto no
Brasil quanto em outros países,
os estudos com células-tronco
"engatinham". Diz também
que a liberação das pesquisas
pelo STF funcionará como estímulo aos cientistas.
"As pesquisas vão bem, mas
falar de resultados a curto prazo não corresponde à realidade.
A manipulação de células-tronco embrionárias é bem mais
complexa que a de células de
cordão umbilical. Então, é importante que o STF se pronuncie contra a ação, porque isso
vai estimular os pesquisadores", disse.
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