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ECOLOGIA
Estudo de dupla dos EUA e do México diz que, em cada 50 populações desses animais no mundo, uma está extinta
Extinção é implacável com os mamíferos
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Se você for um mamífero (contanto que não seja um esperto,
poderoso e armado ser humano)
e estiver em uma região aleatória
do globo, a probabilidade de você
e todos os seus companheiros de
espécie naquela região estarem
mortos é de 1 em 50. Se estiver na
Austrália, ela é de 1 em 10.
Essa perspectiva bastante incômoda à sobrevivência de animais
é o quadro que Paul Ehrlich, da
Universidade Stanford (EUA), e
Gerardo Ceballos, da Universidade Nacional Autônoma do México, estão pintando, em um estudo
publicado hoje na revista "Science" (www.sciencemag.org).
A conclusão da pesquisa é que o
problema das extinções de seres
vivos no planeta é maior do que
imaginavam os já alarmados ambientalistas. Isso porque, até agora, os cientistas consideravam o
"xis da questão" a extinção global
de espécies -ou seja, o sumiço de
todos os bichos ou plantas de um
dado tipo da face da Terra.
O buraco é mais embaixo, segundo Ehrlich e Ceballos. Eles sugerem que o problema da extinção não se faz sentir com o sepultamento do último panda, mas
sim com o sumiço de espécies em
regiões específicas, independentemente de sua extinção global.
Para causar um desequilíbrio em
uma única floresta, não é preciso
matar todas as onças do mundo
-só as daquela região. A morte
da última onça ou do último panda é só a consequência final de um
longo processo destrutivo.
Por essa razão, os cientistas não
se concentraram, nesse estudo,
em espécies extintas, mas em populações -grupos de uma espécie que vivem na mesma área.
Eles enfocaram 173 mamíferos
que já apresentavam um histórico
de declínio (sua presença nos
ecossistemas estava diminuindo)
distribuídos pelos cinco continentes. Comparando dados registrados no século 19 com novos
"censos" dos animais, eles constataram que essas espécies perderam metade do espaço que ocupavam antes. Tirando uma média
mundial, 2% das populações
compostas por esses animais desapareceram. O número é maior
que a estimativa atual de espécies
extintas, que fica em 1,8%.
Extrapolações
Embora os dados do estudo digam respeito a apenas 173 espécies de mamíferos, os pesquisadores acreditam que o resultado serve não só como um "termômetro" para inferir a situação dos demais mamíferos, mas também
para avaliar todos os seres vivos.
"Há uma variação enorme dentro dos mamíferos em tamanhos
de população e taxas de especiação, assim como há em todos os
grupos vivos", diz Ehrlich. "Estamos presumindo que mamíferos
sirvam como uma amostra razoável, mas só mais pesquisas poderão responder se é o caso."
Apesar de terem seu próprio kit
de pressupostos para chegar às
conclusões, o estudo e a abordagem de Ehrlich têm como meta
reduzir as incertezas que cercam a
questão de quão maciças são as
extinções de espécies atualmente.
As estimativas atuais de sumiço
de bichos são feitas, principalmente, a partir da quantidade de
território que ocupam. "O problema é que estamos restritos a extrapolações baseadas em destruição de habitats. Nós só observamos extinção de espécies em
umas poucas plantas e animais",
afirma. "Estudos de redução de
populações vão ajudar a esclarecer o que está de fato ocorrendo."
Obra do bicho homem
A pesquisa mostra uma correlação entre os locais em que há
maior extinção de populações e a
presença de humanos ou de suas
atividades, como caça e práticas
agropecuárias e extrativistas.
Ehrlich considera esse trabalho
um aviso. "Ao destruir populações e espécies a humanidade está
mordendo a mão que a alimenta",
afirma. "A sociedade não dá suficiente atenção às extinções de espécies e nenhuma para extinções
de populações. Ignoramos ambas
por nossa conta e risco."
Vale lembrar que não é o primeiro "aviso" do pesquisador.
Em 1968, ele escreveu "A Bomba
Populacional", livro de que defendia que o crescimento absurdo
das populações humanas tornaria
seu próprio sustento inviável. Nos
anos 80, Ehrlich afirmava que em
breve os recursos minerais da
Terra estariam esgotados.
Nenhuma das previsões até
agora se realizou, mas isso não invalida os resultados significativos
e relevantes de suas pesquisas. Só
mostra que ele sempre foi melhor
cientista que futurólogo.
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